07 janeiro 2007

A ruína do Brasil - e do mundo - é o homem-massa

O Brasil jamais será algo que preste enquanto essa classe média aí estiver.

Muitos esquerdinhas criticam a classe média pela sua suposta insensibilidade para com os pobrinhos.

Eu não: minha bronca com a classe média brasileira é devida ao fato dela se entregar de corpo e alma à ignorância, cultivando uma aversão quase patológica ao conhecimento e à cultura genuínos, a ponto de nem mais ser capaz de compreender por que os ricos são ricos e os pobres são pobres.

Gasset, em seu espetacular A Rebelião das Massas, magistralmente captou a existência do homem-massa, que é incapaz de compreender que a civilização da qual ele participa - e que lhe provê uma série de bens e confortos - não esteve sempre presente e precisa de constante e atenciosa manutenção.

Este trecho do livro, retrata com perturbadora fidelidade a nossa elite:

Porque, de fato, o homem vulgar, ao se encontrar com este mundo técnica e socialmente tão perfeito, pensa que foi criado pela Natureza, e nunca se lembra dos esforços geniais de indivíduos excepcionais que a sua criação pressupõe. Menos ainda admitirá a idéia de que todas essas facilidades continuam se apoiando em certas virtudes raras dos homens, cuja menor falta ocasionaria o imediato desaparecimento dessa magnífica construção.

Isso nos leva a apontar no diagrama psicológico do homem-massa atual dois primeiros traços: a livre expansão de seus desejos vitais, portanto, de sua pessoa, e a radical ingratidão para com tudo que tornou possível a facilidade de sua existência. Essas duas características compõem a conhecida psicologia de criança mimada. E, de fato, quem a utilizasse como quadrícula para ver através dela a alma das massas atuais não erraria.

Minha tese é, portanto, a seguinte: a própria perfeição com que o século XIX organizou certas esferas da vida é a origem do fato de que as massas beneficiárias não a considerem como organização, mas como natureza. Assim se explica e se define o absurdo estado de ânimo que essas massas revelam: não se preocupam com nada além do seu bem-estar e ao mesmo tempo não são solidárias com as causas desse bem-estar. Como não vêem nas vantagens da civilização uma invenção e uma construção prodigiosas, que só podem ser mantidas com grandes esforços e cuidados, acham que seu papel se resume em exigi-las peremptoriamente, como se fossem direitos naturais. Nas agitações provocadas pela escassez as massas populares costumam procurar pão, e o meio que empregam costuma ser o de destruir as padarias.