Aproveitando o gancho deste ótimo texto do Paulo, quero também falar sobre assumir a responsabilidade das posições que são tomadas. Mas não falo de guerra e sim do liberalismo, ou melhor, sua forma mais radical, o libertarianismo.
Assim como é muito cômodo para o pacifista adotar posições cujas conseqüências ele nunca vai sofrer, é muito cômodo para um libertário bem nascido, bem educado e preparado para encarar o mercado de trabalho pregar que o Estado não tem que prover nada e tudo deve ser fornecido pela iniciativa privada. Num mundo ideal eu tendo a concordar com esta posição, mas qual seria a conseqüência de algo assim para os muitos milhões de brasileiros que HOJE não tem a mais mínima condição de brigar por um emprego decente?
É aí, como já disse anteriormente, que reside minha desesperança: o estado seria capaz de prover educação e saúde minimamente decentes que possibilitem o crescimento dos indivíduos que assim desejem. Temos exemplos disso em outros países, embora possamos alegar que sejam menos eficientes que a iniciativa privada.
Uma vez formados, não haveria razão para que os indivíduos continuassem a depender do estado para qualquer coisa que seja.
No longo prazo, até mesmo de serviços básicos como educação e saúde, o Estado poderia se retirar pois, em tese, teríamos uma população plenamente capaz de adquirir esses serviços. As raras exceções poderiam ser tratadas caso a caso.
Os vagabundos que se danem.
A grande sinuca é que na prática o Estado só faz crescer. Políticos tendem a ampliar seus poderes e não diminuí-los (em países onde a população é educada, essa é uma tarefa mais difícil) . Para nós brasileiros a coisa é ainda pior: além do estado só crescer, ele desempenha TODAS as atividades na qual se mete de forma corrupta e/ou extremamente ineficiente, o que tende a gerar uma radicalização do discurso dos liberais. Para piorar, nossa classe intelectual, que poderia fazer alguma pressão, ou está atrás de mamatas governamentais ou é idiota demais para entender qualquer coisa mais complexa que a tabuada de dois. Ou ambos.
Assim, terminamos custeando um Estado caro que mantém enorme parcela da população em algo próximo ao analfabetismo e em condições precárias de saúde.
Resumindo: temos o pior dos dois mundos.
Junto com alguns vizinhos na América do Sul, o Brasil se tornou o sonho de todo político populista e totalitário: uma massa de votantes comprável a preço baixíssimo capaz de garantir maioria nas eleições. O termo que eu uso para designar isso é plantação de pobre. Assim como a soja, semeia-se, cultiva-se e, como agora mostrou Lula, colhe-se de quatro em quatro anos.