07 janeiro 2007

Nação de escravos

Reinaldo Azevedo resumiu numa frase um traço que eu sempre observei por aqui.

"O Brasil carnavalizou a servidão voluntária. Virou um estilo de vida."

A bajulação com o objetivo de obter algum benefício direto, apesar de condenável, tem lá suas razões. Observo aqui no Rio de Janeiro - talvez seja assim no Brasil todo - uma certa satisfação que as "pessoas comuns" sentem em servir aqueles considerados importantes.

Acho que um dos maiores exemplos disso ocorrem justamente nesta época do Carnaval, onde celebridades de todos os quilates surgem nas comunidades para assumir seus postos de madrinhas, musas e destaques das escolas de samba, sob os olhares mais que satisfeitos dos moradores que efetivamente "ralaram" o ano todo para botar a escola na rua.

Muitas vezes essas celebridades desbancam pessoas da comunidade, mas em nenhum momento o serviçal nato vê nisso algo a ser condenado. Exageraria até, afirmando que o próprio desbancado se sente orgulhoso por ter cedido seu lugar a uma pessoa tão importante.

Aqui no Rio, há uma expressão para designar aquele que alguns acreditam ser um bom lugar para freqüentar: "é cheio de global". Pessoas pagam pequenas fortunas e são submetidas a um tratamento deplorável apenas para freqüentar esses lugares.

A satisfação com que um "plebeu" carioca serve a alguém "importante" é inversamente proporcional, geralmente, àquela que ele tem em servir um outro plebeu, mesmo que este seja seu trabalho.

Da celebridade ele não espera nada, apenas que ela lhe deixe cumprir seu papel de serviçal prestativo e eficiente. Muitas vezes de graça.


A comovente satisfação do plebeu por estar ao lado da sinhazinha