31 dezembro 2006

Por este ano chega

Para encerrar as atividades deste ano e te encher de "esperanças", deixo aqui as "sábias" palavras do presidente da CUT:

Não adianta a elite comprar um carro importado e não poder usufruir devido aos constantes assaltos, nem gradear toda a casa sem que diminua o medo da violência. É preciso, então, construir uma alternativa de crescimento que passe pela distribuição ampla de renda. Se não for assim, a violência só tende a crescer. E percebo que essa ficha começa a cair na percepção da elite brasileira, pois o avanço da violência é decorrência da brutal concentração de renda.

O que carro importado tem a ver com pessoas morrendo queimadas dentro de ônibus eu não sei, mas deixemos os ruminantes pastarem sossegados.

Apesar de tudo e de todos,

Feliz 2007!!!

Avanços

Esse é o tipo de coisa que é considerada avanço no Brasil.

O que conta nesses casos é a habilidade dos tribunais em fazer uso dos ainda poucos instrumentos judiciais que protegem o trabalhador nesses aspectos. "Não existe lei no Brasil que determine estabilidade para o portador do vírus HIV. O que temos é a Constituição que tem dispositivos de proteção contra discriminação. A Lei 9.029, de 1995, veda a prática. O que os juizes têm estabelecido é que as empresas provem que são inocentes e demonstrem os critérios da demissão", explica Nádia Demoliner, do escritório Mesquita Barros Advogados.

Outra observação é que o trabalhador não pode ser desligado da empresa se não estiver saudável, mesmo que a doença não seja ocupacional. E a Aids desencadeia várias doenças. "Na demissão, o empregado é avaliado clinicamente e mentalmente. Caso não esteja apto para trabalhar deve ser encaminhado ao INSS, e o contrato é suspenso. Enquanto não tiver alta, recebe benefício", lembra a advogada.

Engraçado não é esse tipo de comportamento do judiciário. Engraçado é, apesar desse comportamento, o país ainda esperar que empresas invistam na criação de empregos formais que se transformam em verdadeiras arapucas no futuro.

O mundo de Sofia

Acabo de ler um texto do William Waack sobre a execução de Saddam. Além do conteúdo do texto, o que me chamou também a atenção foram os comentários, sempre eles. É incrível como as pessoas se julgam capazes de analisar táticas, estratégias e todas as movimentações das relações internacionais sem conhecer tudo que o que está em jogo. Fico me indagando por que os países gastam fortunas com serviços de inteligência quando tudo que precisariam fazer é consultar o analista ou aspirante mais próximo.

Seja na Globonews, seja no Globo seja onde for, é impossível não lembrar deste trecho do livro O mundo de Sofia que minha esposa e sua irmão estão planejando ler com minha sobrinha. Se tudo correr bem, muito em breve uma garotinha de 11 anos terá melhor visão de mundo que a maioria dos brasileiros.


Você está bem acomodada, Sofia? É muito importante para o restante do curso que você entenda bem a diferença entre um sofista e um filósofo. Os sofistas cobram por suas exposições mirabolantes, e a história registra que tais “sofistas” têm aparecido e desaparecido com bastante freqüência. Estou pensando agora naqueles professores e nos sabichões que ou estão satisfeitos com o pouco que sabem, ou então vivem se gabando de que sabem um monte de coisas das quais na verdade não fazem a menor idéia. Você certamente já encontrou “sofistas” como esses em sua vida. Um verdadeiro filósofo, Sofia, é alguém completamente diferente; é o extremo oposto.

(...)

Para ser mais preciso: a humanidade está diante de questões importantes, para as quais não é fácil encontrar uma resposta adequada. E então abrem-se duas possibilidades: podemos simplesmente enganar a nós mesmos e ao resto do mundo como se soubéssemos de tudo o que vale a pena saber, ou então podemos simplesmente fechar os olhos para essas questões importantes e desistir para sempre de ir em frente. Isto divide a humanidade em duas partes. De um modo geral, as pessoas ou acham que estão cem por cento certas, ou então se mostram indiferentes. (Esses dois tipos de pessoas são aquelas que ficam se arrastando lá embaixo da pelagem do coelho!) É como separar as cartas de um baralho, Sofia. Fazemos um montinho com as cartas pretas e outro com as vermelhas. De vez em quando, porém, aparece um curinga: uma carta que não é nem de copas, nem de paus, nem de ouros, nem de espadas. Em Atenas, Sócrates era como um curinga: nem cem por cento seguro, nem indiferente. Ele sabia apenas que nada sabia, e isto o atormentava. Então tornou-se filósofo, isto é, alguém que não desiste, que busca incansavelmente chegar ao conhecimento.

Curiosamente, o mundo moderno registra uma variante dos dois grupos definidos no parágrafo anterior. Não pega bem transparecer que você faz parte do grupo dos indiferentes. Num mundo com tanta informação à disposição, ninguém hoje em dia quer passar por alienado ou ignorante. Por outro lado, adquirir conhecimento, mesmo que ínfimo, requer algum nível de dedicação. Há que se gastar algum tempo lendo e pesquisando, atividades completamente incompatíveis com o tipo de vida badalada que é priorizado atualmente. Por isso as pessoas recorrem aos "sofistas" modernos que produzem um "pensamento crítico" pronto para ser consumido.

Basta adicionar água.

A coisa fica ainda mais interessante quando existe um monopólio dos "sofistas", como no caso do Brasil. As idéias circulantes são tão iguais que a pessoa se sente inteligente e culta mesmo falando a maior das asneiras. Não importa se sua afirmação viola as regras da lógica; nem mesmo importa que sua afirmação seja composta por orações que se contradizem. Todos estarão consumindo o mesmo produto e o que seria uma estupidez galática vira senso comum inquestionável.

Neste panorama, a distinção entre certo e errado vira uma questão de quantos apóiam uma ou outra idéia.

30 dezembro 2006

A execução de Saddam

Leiam o post do Paulo.

Isso é tudo que eu tenho a dizer sobre o assunto.

Computador e eu

Fiquei motivado para comprar o livro do post anterior depois de ver uma entrevista do autor na Globonews. Ele observou como o computador é uma fantástica ferramenta que permite ao usuário uma interação com o mundo como nunca vista na história da humanidade.

Concordo 500%!

Dito isso, não posso deixar me surpreender com muitos colegas de trabalho que vêem o computador apenas como uma ferramenta de trabalho. Freqüentemente ouço coisas como "Ah, depois que chego em casa não tenho saco de ligar computador", como se esta espetacular ferramenta somente tivesse uma utilização.

Pois eu sou um dependente do computador. Além do trivial simples - banco, compras, notícias - ainda faço tratamento digital das fotos que eu tiro, escrevo minhas bobagens, mantenho contato com amigos distantes, pesquiso sobre assuntos que me interessam, desenvolvo meus programas, planejo minhas férias e, last but not least at all, o computador atualmente é minha memória auxiliar.

Uma das coisas que o autor afirma e com a qual também concordo é que a era do decoreba está devidamente encerrada. Numa era em que a informação não estava plenamente à disposição, era compreensível que carregássemos o máximo de informação dentro de nossas cacholas. Hoje em dia , com a informação abundante do jeito que está, é muito mais importante concentrarmos nossos esforços em aprender o que fazer com ela do que em armazená-la.

Wish list para 2007

Num mundo perfeito

Num mundo perfeito, as muitas mortes de civis - incluindo mulheres e crianças - causadas pela facção iriaquiana que apoiava Saddam seriam mais que suficientes para corroborar a queda do regime do ex-ditador (ou devo dizer líder?).

Seria coisa para nego dizer "olha eu era contra a invasão mas vendo o que estes desgraçados estão fazendo com seu próprio povo eu acho que não deveria ficar um vivo".

Ou coisa parecida.

Mas infelizmente vivemos num mundo longe da perfeição e essas mortes, na lógica distorcida que impera hoje em dia, se convertem em prova irrefutável de como a coalizão é malvadinha da silva.

Equilibrado

Estava lendo um texto onde o autor se propunha a avaliar os quatro anos do (des)governo Lula. Ele começou dizendo que ia tentar ser equilibrado.

Parei de ler ali mesmo.

O cara já começa dizendo que vai ficar em cima do muro! Ora, que análise é essa em que o resultado já é conhecido a priori?

29 dezembro 2006

Ideologia e Liberdade

Muito bom texto do meu outro xará.

As posições mais extremas dentro do próprio pensamento liberal transformam o Liberalismo em ideologia a partir de sofisticados exercícios de racionalização que deixam de lado o mais importante: como o mundo realmente funciona. Dessa maneira, sacrifica-se a razão à racionalização e os indivíduos tornam-se meros instrumentos de especulação. Não se defende, assim, a liberdade possível a partir das dinâmicas históricas e sociais, mas uma liberdade supostamente desejável, atraente e sedutora, dissociada porém das identidades culturais e das interações voluntárias dos individuos no interior das sociedades.

28 dezembro 2006

Incompatibilidade (post desabafo)

Anote isto.

Guarde em um lugar onde possa ser lido daqui a 100 anos: brasileiro e civilização não são compatíveis.

São como água e óleo: não se misturam.

Alguns povos vieram ao mundo para fazê-lo avançar.

Não fomos nós.

Apertem os cintos...

Porque o piloto está na cadeira de comando!

O ministro da Defesa, Waldir Pires, e o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, garantiram no início da noite desta quinta-feira que não haverá nenhum problema com os vôos do feriado. Zuanazzi informou que a Anac baixou uma portaria que congela toda a malha aérea do País até 2 de janeiro. Com isso, as empresas ficam impedidas de fazer qualquer cancelamento de vôo ou mudança de rota.

Eles poderiam baixar uma portaria revogando a lei da gravidade. Assim poderíamos ir, sozinhos, voando para nossos destinos.

Coloca uma coisa na sua cabeça

Se você compra um livro sobre "como se tornar um líder", é bem provável que você não tenha nascido para liderar nada.

O carioca sabe tudo

Abaixo podemos ver a opinião que muitos cariocas - ainda! - têm a respeito das barbaridades que acontecem diariamente no Rio de Janeiro.


Carioca sabichão

Cidade Maravilhosa

Mas fiquem todos conformados. Isto acontece em toda grande cidade do mundo...

RIO - Numa nova madrugada de terror no Rio, bandidos incendiaram dois ônibus nesta quinta-feira, matando duas pessoas queimadas; metralharam pelo menos uma cabine da PM na Praia de Botafogo, onde uma mulher teria sido atingida e morta; e atacaram várias delegacias, onde um policial também acabou sendo morto. A polícia entrou de prontidão.

Os ataques começaram no início da madrugada. Oito homens fortemente armados atacaram dois ônibus que passavam pela alça que liga a Rodovia Washington Luiz à Avenida Brasil, próximo à favela de Cidade Alta, em Cordovil. Segundo testemunhas, os criminosos não deram tempo para que os passageiros descessem dos ônibus - um da empresa Itapemirim e o outro da Viação União. Segundo passageiros dos dois ônibus, pelo menos duas pessoas não conseguiram sair e morreram queimadas. Pelo menos quatro pessoas ficaram feridas, também queimadas, entre elas uma mulher, com queimaduras graves no rosto e nos braços. Ela foi encontrada por PMs caída junto a um dos ônibus carbonizados.

26 dezembro 2006

Aprenda o vocabulário II

Segurança privada: policiais à paisana que garantem a segurança das classes A e B.

Milícia armada: policiais à paisana que garantem a segurança das classes C, D e E.

Somos todos jovens

Uma pesquisa da Unesco feita no Brasil (página quatro da edição impressa do Globo de hoje) classifica como jovem aquele que tem entre quinze e vinte e nove anos!

Repito: vinte e nove anos!

Mais um pouquinho e este que vos escreve estará classificado como adolescente novamente!

O mais engraçado é a pesquisadora querendo que papi e mami digam a um marmanjo de vinte e nove anos que ele não pode fumar ou beber.

Brasil: criar losers é com a gente mesmo!

25 dezembro 2006

Populismo everywhere

Não é apenas aqui no Bananão que políticos ganham apoio das massas às custas de uma ajudazinha aqui e outra ali.

Becali, um rico empresário e dono de um popular time de futebol de Bucareste, construiu seu apoio explorando a desconfiança dos romenos em relação às instituições, que permanece depois de décadas sobre um dos regimes mais opressivos do antigo bloco soviético.

Sua popularidade cresceu graças a iniciativas como distribuir dinheiro a vítimas de enchentes e prometer pagar as contas de luz de romenos pobres que tenham a eletricidade de suas casas cortada.

Já li por aí nego dizer que o problema da "zelite" com o populismo é que ele favorece os mais pobres. Se fazer com que os pobres continuem pobres e que seus filhos também sejam pobres é ser a favor, nem quero ver o que é ser contra.

Oh não!

Só faltava meu cantinho se transformar em playground de brazuca.

Precisamos evitar a "especulação turística" (Eh! Eh! Eh!).

Por favor, não vão!

É longe pra dedéu!

As fotos da reportagem são todas manipuladas pelo Photoshop!

Vão para as belíssimas praias da Cidade Maravilhosa!

Diga não ao consumismo

Faça como nosso amigo Ugabuga:

Ugabuga


Os desempregados agradecem!

Limpeza na casa

Dei uma atualizada na lista de links, removendo Blogs que encerraram suas atividades oficialmente ou que há muito não são atualizados. Caso algum dos removidos volte à ativa por favor avise-me e terei o maior prazer em recolocá-lo no devido lugar.

Sem querer ser chato...

... E já sendo. Eu me divirto com com malabarismos argumentativos!

O que me atraiu neste texto foi a proposta do autor de mostrar que:


There is indeed morality without religion--a morality, not of dogmatic commands, but of rational values and of unbreached respect for the life of the individual.

Que é o que venho procurando faz tempo!

Mas, infelizmente, o autor começa sua teoria com essa premissa (grifos meus):

The real alternative to the leftist claptrap [secularismo] is a morality of reason. Such a morality begins with the individual's life as the primary value and identifies the further values that are demonstrably required to sustain that life. It observes that man's nature demands that we live not by random urges or by animal instincts, but by the faculty that distinguishes us from animals and on which our existence fundamentally depends: rationality.

Posso estar perdendo alguma coisa aqui, mas tudo que ele fez foi sustituir um dogma por outro para dar desenvolvimento à sua teoria.

Ainda continuo minha busca por alguém que, sem colocar um dogma sequer, me mostre por A + B por que eu devo respeitar a vida e a propriedade do meu próximo.

Bicho

Faz pouco tempo assisti, involuntariamente, ao filme "Bicho de Sete Cabeças". Não entendo como esse filme foi elogiado pela crítica! Péssimos atores coadjuvantes (dizem que muitos eram realmente loucos do sanatório), fotografia pobre, diálogos simplórios e, last but no least, a velha mania de colocar sambinha como trilha sonora.

Mas pode ser apenas fruto da minha implicância com o cinema nacional.

24 dezembro 2006

Coisa chique essa tal de Cuba

Em Cuba, quando um cidadão fica doente, o governo manda buscar especialistas onde quer que eles estejam.

Eu não acreditava mas, diante dos fatos, tenho que reconhecer que Cuba tem realmente um dos melhores sistemas (se não o melhor) de saúde do mundo!

MADRI (Reuters) - Um renomado cirurgião espanhol viajou para Cuba para tratar do líder Fidel Castro, informou um jornal da Espanha neste domingo.

José Luis Garcia Sabrido, um especialista intestinal, viajou na quinta-feira em uma aeronave fretada pelo governo cubano, de acordo com o jornal da Catalunha El Periodico.

O avião carregava equipamento médico não disponível em Cuba caso haja a necessidade de Fidel ser submetido a outra cirurgia, segundo o jornal.

"Equipamento médico não disponível em Cuba"?

Impossível! Todo mundo sabe que o grande legado que Fidel deixará para seu povo querido é uma das medicinas mais avançadas do planeta!

Só pode ser calúnia!

Asterix

Nem Asterix com sua poção mágica consegue superar a indolência tupiniquim. O DVD "Asterix e os Vikings", na versão em português, é dublado pela tal da turma do Pânico:


Nesta segunda-feira, dia 18, os integrantes do Pânico na TV, Repórter Vesgo, Ceará, Sabrina Sato e Mendigo, estiveram no Shopping Jardim Sul, em São Paulo, para a pré-estréia do longa Asterix e os Vikings. No filme, Vesgo dubla Asterix, Ceará, Obelix, Mendigo, Calhambix e Sabrina, Abba.

Depois de ver a dublagem americana com os espetaculares Brad Garrett, Paul Giamatti e a indicada ao Golden Globe Evan Rachel Wood, fui dar uma conferida na versão brazuca e, como quase sempre, não fiquei decepcionado: bomba!

Involuntariamente engraçado, com especial destaque para a Sabrina Sato que pode ser boa de curvas mas não sei o que o diretor de elenco tinha na cabeça quando a escalou para fazer uma dublagem.

Enfim, coisas do Bananão.

Aprenda o vocabulário

(1) Especulação imobiliária: quando outras pessoas querem usufruir do bairro onde você mora.

(2) Proteger o meio-ambiente: atuar junto às autoridades para evitar a "especulação imobiliária" (ver definição acima). Curiosamente, este tão nobre ato resulta num aumento expressivo do valor do imóvel do protetor, mas isso é mera coincidência.

(3) Incentivo à cultura: o governo - ou seja os pagadores de impostos - banca a peça do fulano - pelo bem do povo, sempre - e o fulano ainda cobra ingresso desse mesmo povão. O Raimundo, que contribuiu para a montagem da peça com seus os impostos, não pode assisitir à peça com a patroa porque o ingresso custa R$40,00 e está em cartaz na Zona Sul.

(4) Incentivo ao esporte: o governo - ou seja os pagadores de impostos - banca o fulano em alguma atividade esportiva. Raimundo, que contribuiu para o patrocínio do fulano com seus os impostos, não pode vê-lo competir pois o ingresso custa R$25,00. Mas Raimundo não gosta mesmo do esporte praticado por fulano e provavelmente gastaria os R$25,00 para fazer algo mais interessante. Isso se ele tivesse a opção de ficar os R$25,00. Fulano, após a ajuda de todos os Raimundos do Brasil, se torna uma estrela do esporte, assina um contrato milionário com um clube estrangeiro e vai morar fora do Brasil para fugir da alta carga tributária. Raimundo passa a financiar a carreira esportiva de Beltrano, uma nova promessa do esporte nacional.

(5) Decisão da sociedade civil organizada: manda quem pode obedece quem tem juízo.

(6) Legitimidade das urnas: votou "nimim" agora atura calado!

23 dezembro 2006

Bode preto na sala... E com asas

This phrase has so many levels!

Essa crise natalina vai fazer a Varig ressurgir como exemplo de empresa aérea a ser seguido.

Cada local tem seus aeroportos afetados por suas mazelas naturais:

Denver: neve

Londres: fog

Brasil: aquele que não desiste nunca

Feliz Natal e um 2007 daqueles!

Principalmente para você, Arthur!



E para todos aqueles que tornaram possível a sobrevida deste bebê.

19 dezembro 2006

Democracia

Qual diferença, conceitual e não no processo de escolha dos chefes, entre um sistema de governo onde seus membros podem determinar arbitrariamente quanto ganharão, sem prestar contas a nada nem ninguém, e outro sistema onde o Rei determina que os plebeus devem passar a pagar mais duas moedas de ouro em impostos?

Se bobear sai mais barato manter a família real ;-)

17 dezembro 2006

Neologismo

Palavra que vejo cada vez mais nos comentários de notícias do Globo:

"CONCERTEZA"

Será que nossa população de iletrados está aumentando?

Polícia de primeiro mundo!

Como alguém pode reclamar dos salários da polícia depois de ler uma notícia dessas?

16 dezembro 2006

Irmão gêmeo

Terá Olavo de Carvalho tem um irmão gêmeo?


Defensor das liberdades

Diminuir drasticamente a quantidade de gorduras trans na dieta não é em tese um problema muito grande. Elas podem ser substituídas por outros tipos de gordura sem prejuízo de sabor ou consistência. É bem verdade que pelo menos no início pode haver uma elevação de custos. Se há alguém, entretanto, que pode arcar com isso são os freqüentadores de restaurantes de Nova York.

É incrível como os "defensores de liberdades" adoram decidir pelos outros o que é razoável ou não, mas a coisa fica ainda mais interessante quando se lê um outro texto do mesmo autor sobre a liberação das drogas:

Depois de eu ter exposto tantas dúvidas, o leitor pode legitimamente estar se perguntado se eu realmente sou a favor da legalização. Sim, defendo-a, mas faço-o menos por acreditar que tal passo possa realmente pôr um fim à violência gerada pelo tráfico ou que não tenha impacto deletério sobre a saúde pública e mais por razões filosóficas. Não acho que caiba ao Estado impedir que cidadãos juridicamente capazes façam mal a si mesmos. Se alguém, devidamente informado dos riscos das drogas, decide ainda assim usá-las, só podemos lamentar sua escolha, mas não vetá-la.

Sempre que penso no Brasil

Me vem à cabeça a palavra mestástase. Go figure!

Combinação perfeita

Sociólogo e canadense (todos os sinais de alerta soaram!).

Marcus Taylor diz (só para assinantes) que:

Há nessa visão [de que o avanço econômico do Chile se deveu à ditadura de Pinochet] uma armadilha, a crença de que sem a ditadura não teria sido possível atingir um bom desempenho econômico. Reformas liberais similares promovidas por Margaret Thatcher na Inglaterra resultaram em desenvolvimento econômico acelerado sem arranhar minimamente a democracia. Por outro lado, modelos econômicos ultrapassados não dão certo mesmo quando garantidos por regimes de força. De outra forma, a ditadura cubana teria criado um país próspero, e não um dos mais pobres da América Latina. Tampouco é correto imaginar que o golpe de Estado de 1973 foi uma reação justificável diante da crise institucional criada pelo governo marxista. O golpe, com sua inevitável seqüência de brutalidade e horror, não se justifica. Sobretudo porque o objetivo dos golpistas não era apenas afastar o perigo comunista, e sim acabar com a democracia.

Acho que o sociólogo forçou um pouco a barra para defender seu ponto de vista:

1) Comparar o ambiente político do Chile de Allende com o da Inglaterra de Margaret Thatcher é um absurdo fora de proporções.

2) A maior prova de que a economia de mercado não é um modelo que pode brotar naturalmente do ambiente político "democrático" é a situação econômica atual dos países latino-americanos, praticamente todos vivendo em regimes democráticos. Para não irmos muito longe, o Brasil é um exemplo de país que se afasta do modelo de economia de mercado ao mesmo tempo em que a democracia se consolida. A democracia nas mãos de selvagens cai exatamente naquela definição de Ben Franklin: dois lobos e um carneiro decidindo o que terá para o jantar. A ditatura, por outro lado, não resulta em coisa melhor. O caso do Chile é uma aberração.

3) Tento imaginar qual seria umaa reação justificável da sociedade chilena diante daquele panorama? Que fique claro que essa não é uma pergunta retórica: como combater um governante que não apenas corroeu as insitituições do seu país como iniciou um processo de perseguição política? Qualquer resposta que não se encaixe em "democracia acima de tudo" será aceita.

Friedman e Chile

Achei este texto na Reason sobre o relacionamento de Milton Friedman e Pinochet:

While there, Friedman did have one meeting with Pinochet, for less than an hour. Pinochet asked Friedman to write him a letter about his judgments on what Chilean economic policy should be, which Friedman did . He advocated quick and severe cuts in government spending and inflation, as well as instituting more open international trade policies—and to “provide for the relief of any cases of real hardship and severe distress among the poorest classes.” He did not choose this as an opportunity to upbraid Pinochet for any of his repressive policies, and many of Friedman’s admirers, including me, would have felt better if he had.

But that was the extent of his involvement with the Chilean regime—and it fit with a recurring pattern in Friedman’s career of advising with an even hand all who would listen to him. It was not a sign of approval of military authoritarianism. Friedman, in defending himself against accusations of complicity with or approval of Pinochet, noted in a 1975 letter to the University of Chicago school newspaper that he “has never heard complaints” about giving aid and comfort to the communist governments to which he had spoken, and that “I approve of none of these authoritarian regimes—neither the Communist regimes of Russia and Yugoslavia nor the military juntas of Chile and Brazil. But I believe I can learn from observing them and that, insofar as my personal analysis of their economic situation enables them to improve their economic performance, that is likely to promote not retard a movement toward greater liberalism and freedom.”

Acho que o trecho final tem um pouco a ver com o que eu disse sobre nos agarrarmos às idéias sem levarmos em conta as conseqüências que elas causam no mundo real (grifos meus):

Nothing about Chile’s economic successes excuses or mollifies Pinochet’s crimes. Even Friedman’s staunch libertarian fans can wonder about the ultimate propriety of his association, however brief or tenuous, with the dictator. As Austrian economist Peter Boettke once told me, many economists in his tradition—most of whom are hardcore libertarians—find the notion of working in even something as innocuous as public finance distasteful—like “bean counting for the mafia.” Friedman didn’t harbor such visceral disgust for government or those who govern. He was a policy realist, and tried to deal with the world as it was--to mesh his policy radicalism with the gears of power as they existed.

Friedman was ready and willing to tell the people responsible for all the wrong policies of the world what they needed to do to set things right, which meant he had to talk to them, making open assaults on their crimes ill-advised. He tried to move the world in a freer direction from the point reality presented him with.

I have nothing good to say about the political regime that Pinochet imposed,” Friedman said in 1991. “It was a terrible political regime. The real miracle of Chile is not how well it has done economically; the real miracle of Chile is that a military junta was willing to go against its principles and support a free-market regime designed by principled believers in a free market….In Chile, the drive for political freedom that was generated by economic freedom and the resulting economic success ultimately resulted in a referendum that introduced political democracy.”

It may have been more morally satisfying to have no relationship with Pinochet, merely condemn him from afar. But in choosing to let his economic advice rise above political revulsion, Friedman almost certainly helped Chile in the long term--though it’s important to remember that the “Chicago boys” were more responsible than Friedman himself, and that they were not following his prescriptions relentlessly or in any way under his direct instruction.

Undoubtedly, Friedman’s decision to interact with officials of repressive governments creates uncomfortable tensions for his libertarian admirers; I could, and often do, wish he hadn’t done it. But given what it probably meant for economic wealth and liberty in the long term for the people of Chile, that’s a selfish reaction. Pinochet’s economic policies do not ameliorate his crimes, despite what his right-wing admirers say. But Friedman, as an economic advisor to all who’d listen, neither committed his crimes, nor admired the criminal.

Thank You, my Lord, for my eyes can see!!!

Lula diz que ditadura no Brasil "não foi tão violenta" como no Chile

Como mencionei aqui anteriormente, os passaportes italianos de Lula e D. Marisa lhes serão muito úteis após seu mandato. Lula está cavando um túmulo profundo onde a intelectualha esquerdista irá jogá-lo quando ele perder o poder de liberar verbas. Muitos que hoje fazem de conta aceitar seus comentários contra a esquerda apenas o fazem porque é ele quem tem a chave do cofre. Quando essa chave sair de suas mãos os ataques à sua pessoa virão com o ódio e rancor que todo aquele identificado como direitista já experimentou uma vez na vida.

14 dezembro 2006

Valores

A morte de Pinochet fez com que muita gente reforçasse sua devoção à Democracia, como se esta fosse um fim em si. Abraçar uma idéia e colocá-la acima de tudo e de todos é o que fazem todos os dias os socialistas que muitos liberais condenam. Talvez seja meu sangue neocon (eh eh eh) falando mas eu acho inadmissível nações submeterem seus povos à fome, doença e toda sorte de mazelas protegidas por uma tal soberania. A soberania, outra coisa vista como um fim em si, não pode ser colocada acima do bem-estar NUNCA.

Por exemplo, alguém em sã consciência acredita que há uma saída para países como o Haiti sem que haja uma intervenção externa de longo prazo? É muito f'ácil para mim ficar, daqui do conforto do meu lar, dizendo que a soberania do Haiti deve ser respeitada e enquanto isso a maioria da população passa por situações inadmissíveis em pleno século XXI.

Dizer que é preciso respeitar a soberania desses países acima de tudo ou que regimes democráticos nunca podem ser derrubados, não importando o quanto eles façam seus povos sofrerem, equivale a dizer, na minha opinião, "não estou nem aí."

É comum dizer que os socialistas querem ser julgados pela nobreza das suas intenções e não pelos resultado de suas ações. Ora, será que muitos liberais não querem ser julgados pela nobreza das suas idéias e não pelo resultado que elas causam?

Idiota?

(O Selva Brasilis que me perdoe mas eu gostei dessa brincadeira!)

Você é esfericamente(*) idiota se chama Bush de warmonger e o Clinton de peacemaker.

Por quê?

Por isso: Papers prove US knew of genocide in Rwanda

Por isso: Iraq has abused its last chance

Por isso: Clinton's Fingerprints On Waco

E por isso: Clinton's Kosovo Confusion

(*) Esfericamente idiota é aquele que é idiota quando visto de qualquer ângulo.

13 dezembro 2006

Pressentimento

Hoje ao ler as palavras abaixo da presidente do Chile me bateu um pressentimento de que o Chile - ou pelo menos muita gente dentro dele - está doidinho para entrar pro clube do qual o Brasil é sócio, Fidel é presidente e Hugo candidato sério à sucessão.

Bachelet, que foi torturada por agentes de Pinochet durante o regime, propôs a reconciliação entre esquerda e direita, mas admitiu que isso será difícil.

Aguardemos o andar dos acontecimentos.

Everybody Misses Boyle

Os fãs da sitcom Everybody Loves Raymond têm algo mais a lamentar além do final da série. Faleceu ontem o ator Peter Boyle que interpretava Frank, o rabugento pai do Raymond.



Descanse em paz, old man.

12 dezembro 2006

Reinaldo Azevedo

Subescrevo cada palavra do Reinaldo Azevedo neste texto:

O que eu acho? Sou contra subsídio até de feijão. Vê lá se vou defender dinheiro para pagar a prosopopéia dos artistas ou o suor dos nossos atletas. Como diz o bordão de um programa de rádio, “cada um co seus pobrema”. Estado não gera riqueza. Só confisca e consome uma porcentagem — imensa no Brasil — do que a sociedade produz. Renúncia fiscal significa que o dinheiro continuará a sair do bolso do consumidor (já que as empresas continuarão a pôr no preço final o quanto gastarão com os artistas ou com os saltadores com vara...), mas não será recolhido ao Estado, e sim doado para atores, palhaços, músicos, malabaristas, jogadores de voleibol, corredores...

Em suma: estamos dizendo, com leis como essas, que a dona Maricota miserável lá de Cabrobó da Serra tem a obrigação, vejam só, de financiar os delírios estético-libertários do Zé Celso Martinez Corrêa. Faz sentido. Como Diogo lembrou outro dia, o Brasil de Antonio Conselheiro, de certo modo, continua intacto. É um dever do pobre pagar para que artistas denunciem a uma platéia de ricos as condições miseráveis em que vivem os pobres. Como é que conseguimos fazer uma gente com tão pouca vergonha na cara, hein? Qual é a grande filme de teatro ou a peça seminal — sem trocadilho — da era da lei do incentivo?

A caminho

Estamos no rumo certo para chegar à tão sonhada igualdade:

RIO - Os brasileiros estão recebendo cada vez mais o salário mínimo. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), indicador do governo que atesta a geração de postos de trabalho no país, mostram que, em linhas gerais, todos os empregos formais criados em 2006 têm remuneração de até 1,5 salário mínimo (R$ 525). Entre janeiro e outubro, 1,5 milhão de postos de trabalho com carteira assinada foram abertos. Destes, 1,4 milhão não paga mais que R$ 525 (96% das vagas oferecidas). No mesmo período de 2005, a proporção era de 79%.

O estudo do economista Márcio Pochmann, pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Unicamp, sobre remuneração de empregos com carteira assinada no país, mostra a aceleração do processo de achatamento da classe média no Brasil, com a maior polarização dos trabalhadores entre pobres e ricos.

Segundo a Confederação Nacional da Indústrias favorável às exportações, os juros ainda elevados e a pesada carga tributária levam cada vez mais empresas a cortarem custo com mão-de-obra. Os setores mais afetados pelo câmbio, como as indústrias têxtil, calçadista e moveleira, têm que reduzir custos de qualquer maneira. Nesses setores, a redução envolve salários.

Momentos inesquecíveis

Vi hoje no Bom dia Brasil:

Supremo Apedeuta esculacha seus asseclas e cita Bob Campos:

— Não tem outro jeito. Se você conhecer uma pessoa muito idosa esquerdista, é porque ela está com problema (todos riram). Mas se você conhecer uma pessoa muito nova de direita, também está com problema.

Ministro da defesa dá uma mostra de como é o estado laico aqui na selva:

- Ele me disse que é necessário muita fé. É preciso rezar um pouco para que tudo dê certo (nos aeroportos no fim do ano) - afirmou Augusto Nardes.

Que manhã maravilhosa!

11 dezembro 2006

Café-com-leite

(Esse post baseia-se apenas na impressão que tive ao ler algumas críticas americanas de alguns filmes brasileiros)

Se eu fosse cineasta brasileiro eu iria ficar muito p-da-vida com o tratamento que a crítica do primeiro mundo trata os filmes brazucas: é como se eles baixassem a barra para que nós, coitadinhos, pudéssemos pulá-la.

Algo tipo: "Tadinho. Até que para um cineasta de terceiro-mundo o filme não está nada mau."

Ou, exagerando: "Olha que bonitinho: o selvagem sabe fazer filminho."

No meu tempo de moleque a gente chamava isso de café-com-leite: pirralhos que entravam na brincadeira para fazer número mas dos quais não podíamos exigir muito.

Pinochet II

Pretendia não tocar mais neste assunto mas este texto do Rodrigo merece ser indicado:

Por fim, o que é totalmente incompreensível é alguém condenar Pinochet pela ditadura mas aliviar o pior ditador de todos da vizinhança, o carniceiro cubano. Fidel Castro perde, e muito feio, simplesmente em todos os aspectos se comparado a Pinochet. Na ditadura chilena, foram mortos cerca de 3 mil pessoas, sendo que quase a metade logo no começo, numa guerra civil com comunistas. Não eram inocentes, na maioria dos casos, mas guerrilheiros tentando transformar o Chile em Cuba. Já na ditadura cubana, que ainda sobrevive depois de quase meio século, foram assassinados, por baixo, uns 20 mil inocentes. Isso para não falar dos que morreram tentando fugir da Ilha-presídio, algo inexistente no Chile, pois qualquer um poderia deixar o país livremente. Nos indicadores sociais e econômicos, o Chile de Pinochet dá uma lavada no regime cubano, onde a miséria é total. Fidel adotou um claro culto à personalidade, típico de ditadores socialistas, e trata o país como seu, pretendendo passar o poder ao irmão, enquanto o próprio Pinochet chamou eleições depois dos 17 anos no poder. Poderíamos continuar a comparação ad infinitum, mas o resultado seria sempre o mesmo: Fidel Castro é infinitamente pior que Pinochet em todos os quesitos. Logo, somente a demência explica alguém condenar Pinochet ao mesmo tempo que inocenta Fidel Castro.

Pinochet

Acho que este texto do meu xará chileno faz um bom apanhado.

Dois erros básicos costumam ser cometidos com relação ao tema de Pinochet. O primeiro é destacá-lo do contexto político, econômico, social e jurídico que o Chile vivia à época da deposição de Allende. O segundo é descontextualizar o “golpe” militar chileno da dimensão internacional.

Tentação

Como é de conhecimento geral, a compreensão não é um skill inerente às equerdas. Muita gente, ao ler o post anterior vai, grunhir "Rá! O cara se diz liberal e apóia uma ditadura!"

Antes de bostejar como de costume procure saber o sentido da palavra"preferir". Preferir um mal menor a outro maior não significa, necessariamente, gostar do primeiro.

Entre trabalhar como analista de sistemas e trabalhar como pedreiro eu prefiro a primeira opção. Mas isso não quer dizer que eu goste de trabalhar, entendeu? Trabalho porque é a menos pior alternativa entre as existentes.

Democracia

A morte de um ditador como Pinochet faz com que muita gente fale as asneiras habituais e também faz com que muita gente boa perca o foco. Para colocar os pingos nos "is", recomendo a leitura deste texto do Alceu Garcia:

A trajetória do líder “bolivariano” é embaraçosa para boa parte do pensamento político contemporâneo, prisioneiro do fetiche da democracia. Chávez obteve e consolidou seu poder pela via democrática. O regime político venezuelano é o democrático. Quem considera a democracia um valor ético em si mesma se vê impedido de opor uma crítica consistente ao caudilho da Venezuela. Essa arapuca conceitual foi montada pelos socialistas, que divinizaram a vontade da maioria e depois a aparelharam para servir a seus propósitos.

O modo de se evitar essa armadilha é esclarecer que a democracia é uma simples técnica política, nunca um valor moral. Os valores morais, em especial a vida, a liberdade e a propriedade, estão fora e acima da esfera política. Quando os críticos de Chávez lhe negam o predicado democrático, eles querem dizer (embora tenham vergonha de o afirmar explicitamente) que a verdadeira democracia é a liberal. Trata-se de uma confusão decorrente de correlações históricas. O liberalismo acreditava que o regime democrático era mais apropriado do que a monarquia para a defesa da autonomia pessoal contra a intrusão estatal. Mas a democracia e os mecanismos de proteção individual contra o arbítrio (separação de poderes, writs constitucionais etc.) não são de modo algum conaturais. A democracia é o governo escolhido pela maioria, nada mais. A maioria pode eleger democraticamente um tirano, que, por sua vez, pode aniquilar democraticamente os direitos individuais.

O que o tirano não pode fazer, democraticamente ou não, é revogar os princípios e normas de direito natural que sustentam uma ordem social saudável.

Pode ser que eu me arrependa depois, mas um governo democraticamente eleito que mantenha sua população deseducada, na miséria e subjugada a uma ordem constitucional tirana não é nunca superior a uma ditadura apenas pelo fato de ser uma democracia.

10 dezembro 2006

Paradoxos ambulantes

As pessoas não devem ler o que escrevem.

Acabo de ouvir na TV que a feroz ditadura de Pinochet acabou através de um plebiscito. Não, não houve erro de digitação. Pelo menos não de minha parte.

Que ditador furreca é esse que dá um mole desses pra patuléia?

Pinochet tinha muito que aprender com Fidel...

Idiota?

(com sua licença)

Você é idiota em estado terminal se chama Augusto Pinochet de ex-ditador e Fidel Castro de líder.

Fotografia

Adoro fotografar e este é um hobby no qual coloco uma boa quantidade de investimento. Um detalhe que percebo nos sites Flickr de brasileiros - mais daqueles que vivem em grandes cidades - é que as fotos, em sua maioria, são tiradas em ambientes confinados. É raro ver fotos tiradas ao ar livre.

Minha explicação para isso é que não dá para arriscar sair pelo Rio de Janeiro com uma Sony Alpha de 1000 dólares (Lá nos isteitis!), mais lentes e acessórios e correr o risco de ver tudo isso se converter em alguns gramas de pó. Além do mais, mesmo que alguém esteja disposto a correr o risco, há uma carência de bons spots. O Rio hoje é uma cidade tão feia que qualquer um fotógrafo que não tenha vocação para Sebastião Salgado terá dificuldades de encontrar coisas interessantes para fotografar.

E olha que não é falta de matéria-prima não: existem prédios com belíssima arquitetura no centro do Rio, mas completamente destruídos.

É uma pena.

Bizarro

Querem que vivamos num mundo onde defender a vida é atraso e defender sexo com crianças e animais é moderno.

Pode parar que eu quero descer...

Oh horror!

Recentemente vi um programa de TV onde um médico negro reclamava com o colega branco do favorecimento que recebia por parte das pessoas por ser negro.

Ele ficava perdido sem saber se tinha conseguido as coisas por mérito ou por ser negro.

Lamentavelmente este é o tipo de discussão que não veremos por aqui nos meios de comunicação de massa tão cedo. Foi um episódio da série americana Scrubs.

Esse tipo de discussão - sobre os princípios que movem as coisas - é saudável e torço para que chegue aqui na selva. Enquanto não chega continuaremos fingindo que pensamos enquanto nada mais fazemos que reagir, como cães adestrados, a um conjunto de símbolos pré-definidos.

Por exemplo, todos ficamos cá horrorizados - com razão, claro! - com esse grupo de cantores (ver "Ódio branco se alastra pela música americana") que enaltecem o nazismo e pregam o ódio racial. Mas espere um momento: muito, mas muito antes os rappers cantavam músicas pregando o assassinato de policiais e o estupro de vadias brancas e nunca vi nenhuma voz por aqui dizendo que suas - aham - músicas eram algo "bizarro" ou "desprezível".

Se fôssemos usar a "lógica" que a esquerda tanto gosta, poderíamos até dizer que essa manifestação de ódio branco é apenas uma reação a uma manifestação de ódio negro que aconteceu primeiro. Ou apenas os negros podem se rebelar e os brancos têm que aturar tudo candidamente?

Viver num país com liberdade de expressão quase que total tem esses benefícios: a política não dita o rumo da gritaria e todos podem falar suas asneiras. Aqui na selva (Thank you! Thank you!) os negros podem falar o que quiserem sobre os brancos e nada, absolutamente nada acontece. Basta um branquinho "mijar fora do pinico" para governo e opinião pública cairem de pau em cima do racsita, imundo e desgraçado.

E os incentivos...

... Importam mesmo!

Bolsa família tem casos de desestímulo ao trabalho

A lógica das pessoas que estão recusando ofertas de trabalho é completamente racional: por que trocar uma renda certa por outra duvidosa pouco maior?

Com esse novo agente entrando no jogo, vejo algumas conseqüências:

1) Os salários, mantidos baixos por um excesso de oferta de mão-de-obra tenderão a subir até um patamar que ainda seja interessante para o empregador - pois mantém ainda uma margem de lucro compensatória - e para o empregado.

2) Devido à elevação dos salários, os empregadores preferirão automatizar seus processos pois o custo de equipamentos e manutenção deixará de ser tão mais elevado em comparação aos custos de mão-de-obra (sem falar na produtividade!).

3) O empregador perderá funcionários para o "governo" e, como seu nicho de mercado está saturado, não terá como reter empregados pagando melhores salários E repassando este custo para seus clientes. Terminará por fechar suas portas.

Certamente, todos aqueles que não pensam economicamente somente vislumbraram a primeira opção. Vamos todos torcer para que ela ocorra, mas se eu não apostaria contra a lei da gravidade não vejo por que apostar contra as leis da economia.

09 dezembro 2006

Boa

Essa do Evandro foi boa:

Os franceses lêem como loucos e de nada adianta.

Concordo muito com isso:

A “questã” é que você pode ler 1 livro sobre como lavar pratos, 1 livro sobre como se relacionar com as pessoas, 1 livro sobre como ser feliz, 1 livro sobre como lavar seu cachorro antes de almoçar etc etc, mil etcéteras. E sempre vai haver coisas que você ainda não aprendeu, porque você simplesmente não terá lido os livros que realmente importam, que são aqueles que te ensinam que há coisas que você pode aprender sozinho, a partir de meia dúzia de princípios universais.

Turistas... Final

Este texto do Rodrigo Constantino encerra o assunto para mim.

Não demorou muito e recebi um daqueles emails de protesto infantil, incitando os brasileiros ao boicote do “perverso” filme. Dizem esses “patriotas” que a película “queima o nosso filme” e pode prejudicar o nosso mercado de turismo. Não obstante tratar-se de um filme de ficção, é preciso explicar a estas pessoas que nosso filme já está bastante queimado – eu diria esturricado até. E não por conta de filmes de ficção, tampouco por alguma conspiração de Hollywood, mas sim pela simples exposição dos fatos. Como disse Diogo Mainardi no programa Manhattan Conection, não há nada que a indústria cinematográfica possa produzir sobre o Brasil pior que nossa própria realidade. Creio que isso seja o verdadeiro fator de ódio por parte dos falsos “nacionalistas”. Precisam xingar os bodes expiatórios para não terem que encarar a dura realidade.

Num país com mais de 50 mil homicídios anuais, onde não há império da lei, onde a cultura do “jeitinho” é predominante, onde políticos claramente corruptos ficam impunes e são reeleitos, onde o setor aéreo é caótico, onde o próprio presidente tenta expulsar um jornalista estrangeiro apenas por este falar a verdade sobre seus hábitos etílicos, onde casos e mais casos de turistas roubados surgem na mídia, onde os golpes aos turistas começam já nos aeroportos, parece piada a revolta dos brasileiros ser voltada para um filme trash em vez da própria realidade. Se a atração de turistas é mesmo um objetivo – e deveria ser, pelo potencial que o Brasil tem nesse setor – atacar os reais problemas brasileiros que afugentam os gringos parece infinitamente mais sábio que ficar de picuinha com um filme de terror, provavelmente de quinta categoria. Será que um pai que ama de verdade seu filho com problemas com as drogas ficaria mais revoltado com alguém que constatasse o problema do que com o próprio problema em si? Tampar o sol com a peneira não ajuda. Ocultar os problemas não faz com que eles desapareçam. Matar o mensageiro da má notícia não faz ela sumir. E a verdade é que o Brasil foi escolhido como cenário do filme porque a trama dele seria factível em nossas terras.

1776

Voltei da Philadelphia fascinado com a história da independência americana - isso para não dizer com o modo como eles mantêm viva a lembrança desta história por lá.

Não resisti quando vi este livro em "promoção" numa livraria do Rio. R$21,00 mais barato que o preço de lista.

1776

É o incentivo, estúpido!

Acho que esta será a frase do ano de 2006, principalmente para nós brazucas:

"Incentivos importam."

E muito!

Um dos meus negões prediletos

Should America Copy Modern Europe?

Particularmente eu acho que não, mas vejamos o que Walter tem a dizer:

Government spending exceeds 50 percent of the GDP in France and Sweden and more than 45 percent in Germany and Italy , compared to U.S. federal, state and local spending of just under 36 percent. Government spending encourages people to rely on handouts rather than individual initiative, and the higher taxes to finance the handouts reduce incentives to work, save and invest. The European results shouldn't surprise anyone. U.S. per capita output in 2003 was $39,700, almost 40 percent higher than the average of $28,700 for European nations.

Over the last decade, the U.S. economy has grown twice as fast as European economies. In 2006, European unemployment averaged 8 percent while the U.S. average was 4.7 percent. What's more, the percentage of Americans without a job for more than 12 months was 12.7 percent while in Europe it was 42.6 percent. Since 1970, 57 million new jobs were created in the U.S., and just 4 million were created in Europe.

Dr. Mitchell cites a comparative study by Timbro, a Swedish think tank, showing that European countries rank with the poorest U.S. states in terms of living standards, roughly equal to Arkansas and Montana and only slightly ahead of West Virginia and Mississippi. Average living space in Europe is just under 1,000 square feet for the average household, while U.S. households enjoy an average of 1,875 square feet, and poor households 1,200 square feet. In terms of income levels, productivity, employment levels and R&D investment, according to Eurochambres (The Association of European Chambers of Commerce and Industry), it would take Europe about two decades to catch up with us, assuming we didn't grow further.

We don't have to rely on these statistics to make us not want to be like Europeans; just watch where the foot traffic and money flow. Some 400,000 European science and technology graduates live in the U.S. European migration to our country rose by 16 percent during the 1990s. In 1980, the Bureau of Economic Analysis put foreign direct investment in the U.S. at $127 billion. Today, it's more than $1.7 trillion. In 1980, there was $90 billion of foreign portfolio investment -- government and private securities -- in the U.S. Today, there's more than $4.6 trillion, much of it coming from Europeans who find our investment climate more attractive.

Quem não estiver com saco de ler o texto em inglês, tem uma versão traduzida dele no Mídia Sem Máscara.

Futuro? Que futuro?

Falando sério, alguém consegue vislumbrar um único motivozinho sequer para ter alguma esperança de que "estepaís" ao menos se aproxime de algo parecido com um lugar civilizado e desenvolvido nos próximos 50 anos?

06 dezembro 2006

Novo blog

Democrata Liberal

Calvin, o cético

"It's hard to be religious when certain people are never incinerated by bolts of lightning."

Haja paciência

E aqui na selva (com sua licença, por favor) essa bobagem ainda continua gerando polêmica, envolvendo até os caciques da tribo.

RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Embratur elogiou na terça-feira a crítica cinematográfica norte-americana por seus comentários negativos a respeito de um filme de terror em que turistas são mortos no país. A estatal de turismo disse estar tomando medidas para contrabalançar eventuais danos à imagem do país no exterior.

Agora sim é para a indústria do turismo ficar preocupada. ;-)

Que coisa, hein!

Médica cogita dar alta para bebê anencéfala

Para um bebê que deveria ser abortado porque viveria apenas algumas horas, até que essa danadinha tá dando trabalho :-).

Alguém pode até argumentar "ah, mas isso não é vida". Tudo bem, mas isso lhe dá o direito de decidir quem vai morrer ou viver (estou falando de inocentes)?

04 dezembro 2006

Ratatouille

Se o filme todo for tão engraçado quanto o teaser...


Antiamericanismo

European anti-Americanism has very little to do with America or politics, and even less with transatlantic relations. In many ways, it is not even a useful term, because unlike other "isms" it is not supported by a movement, it lacks the vision of a future, and it defines itself by opposition rather than through a proper point of view. In a sense, there is no one European anti-Americanism, but rather a variety of heterogeneous expressions of this phenomenon, conditioned by geographical concerns and historical cycles. The shape and content of the phenomenon differ in accordance not only with dimensions of space, but also with dimensions of time: each epoch has its own forms of anti-Americanism, and it is misleading to assume, as Dan Diner does for Germany, that one and the same anti-Americanism has simply assumed different forms at different times.

Anti-Americanism in Europe is a habitus, a syndrome, an ideological Versatzstück the profile of which is dependent on the local political and cultural context as well as regional economic interests. There is, of course, a cultural, a political, and an economic anti-Americanism, but these accentuations typically merge within the same reference group or even one and the same person. In other words, there is no "European" anti-Americanism proper, but only many different varieties of the phenomenon.

Tá vendo? Não sou apenas eu (excelente dica do Selva Brasilis) que acho que o termo antiamericanismo, apesar de ser um rótulo que serve para transmitir uma idéia de antagonismo, pouco útil para definir certas manifestações em relação aos ianques.

É interessante entender o antiamericanismo europeu porque boa parte da nossa classe - aham - pensante bebe nas fontes européias. O povão - classe média incluída - sofre uma influência residual desse pensamento, se tornando antiamericano - pero no mucho - por inércia. Por isso, assim que a situação financeira permite, muitos "antiamericanos" disparam para Flórida, Califórina, Nova Iorque, etc. Chega a ser engraçado ouvir os comentários jocosos dos "antiamericanos" nos saguões dos aeroportos. Mas todos felizes da vida, claro!

É o famoso "te odeio mas te amo"!

No mesmo texto uma irônica definição de antiamericanismo feita pelo analista político David Kaspar poderia ser adaptada para muitos países da América Latina:

It's a German schoolteacher who vacations in America, who watches American movies, who was defended from the Soviets by America and then later met an Eastern German cousin she never knew because Reagan won the Cold War, who sneers at America in front of the kids she teaches every day.

Uga buga!

Vi no De Gustibus... este texto indicado pelo Selva Brasilis.

But what is particularly interesting is the role of market pricing, which Fiske speculates might have been the last to evolve in our prehistoric ancestors' brains.

It makes sense. For hunter-gatherers in small bands, sharing, matching and ranking were probably as fundamental to survival as eating and breeding. But market pricing involves complex choices based on mathematical ratios.

"It's the difference between addition and subtraction on one hand, multiplication and division on the other," Fiske says.

Commerce and global trade, of course, require a finely honed version of the market-pricing model. But if humans developed this model relatively late, it might well be less than universal, even today.

In other words, to have an intuitive grasp of economics, you might just need to take a step or two up the evolutionary ladder.

Cara, isso explica muita coisa!

03 dezembro 2006

E tome realidade!

Ainda outro dia estava vendo um programa - não lembro o nome nem o canal - que mostrava um cinema montado para a população de uma cidadezinha do agreste brasileiro. Pois bem, tudo pronto, platéia a postos e começa a exibição do filme: um documentário sobre... a dureza da vida no agreste brasileiro!

Pelamordedeus!

Não tinha nada para mostrar que aquelas pessoas já não conheçam por experiência própria? Que tal uma comedia leve, um drama, um musical ou um filme de aventura?

Remy sabe tudo

I like good food, okay?

Você sabe que está velho quando...

Uma visão dessas provoca calafrios:

Patriotada

Aparentemente, Cristaldo também vem tendo problemas com os patriotas de plantão, que não admitem comparações entre este Brasilzão-de-meu-deus e outros lugares do mundo.

E aí não entendi mais nada. Em primeiro lugar, em momento algum falo de Livramento. Disse apenas que estava "rodando entre Dom Pedrito e Livramento". Em segundo lugar, nunca afirmei que Rivera fosse uma cidade-maravilha. Em terceiro, tampouco entendo porque introduzir Sábato no assunto. O leitor em questão, que certamente jamais leu minhas traduções de Sábato, insiste em desqualificar-me como tradutor, como se fosse um grande especialista em traduções. Na verdade, estamos diante de um desses tantos patrioteiros - tão abundantes no Brasil - que julgam viver no melhor país do mundo.

What are you celebrating?

Recentemente falei como era pouco inteligente por parte da América Latina (e países subdesenvolvidos em geral) comemorar a vitória dos Democratas nas últimas eleições.

Pois bem, este texto mostra algumas preocupações que os americanos vão ter no próximo "reinado" Democrata. Isso porque:

Sometimes, the devil we know seems so awful the old adage loses its power, and we throw in our lot with the devils we don't. Thing is—they're just as devilish.

Pelo menos agora, para aqueles que ficarem desempregados no terceiro mundo por causa das políticas protecionistas dos Democratas, este site fará muito sentido:




Teoria e prática

Um ditado muito comum é aquele que diz que "na prática a teoria é outra". Apesar de me parecer absurdo, este ditado é amplamente usado, principalmente por políticos e ideólogos ao falarem de economia.

Naquele Globonews Painel sobre o qual comentei alguns posts atrás, Delfim Neto e Luiz Gonzaga Belluzzo pareciam jogar isso a todo momento na cara do Eduardo Giannetti. É como se dissessem "você fica aí com essas teorias acadêmicas e não percebe que elas não se aplicam ao mundo real."

(Claro que Delfim Neto não deve, lá fundo, concordar com isso, mas não podemos esquecer que ele é um político)

Ora, podemos ter até uma teoria errada sobre um determinado fenômeno, mas um fenômeno sempre vai estar de acordo com a teoria que corretamente o descreve.

Não há como fugir disso. Enquanto essa crença persistir vamos ficar sempre esperando o espetáculo do crescimento que nunca chega.

01 dezembro 2006

Se importar e parecer que se importa

Existe uma diferença muito grande e óbvia entre as expressões. Mas muita gente prefere apenas fazer parecer que se importa com este país. E assim angariar simpatias e, quem sabe, uma graninha a mais - já que ninguém é de ferro.

Importar-se verdadeiramente é trabalhoso e aborrecido. Sem contar que, invariavelmente, leva a conflitos que nem sempre são devidamente acalmados.

Como eu me importo - ainda - com o Brasil e com a cidade onde nasci e vivo desde sempre, não me conformo com a progressiva deterioração que ambos vêm sofrendo. Vamos ficar apenas no Rio de Janeiro para manter a lista reduzida, digamos.

Qualquer pessoa que já tenha colocado os pés fora do Brasil sabe que o Rio está em estado crítico. Suas praias imundas, suas ruas esburacadas e mal sinalizadas, o trânsito caótico e extremamente violento, segurança praticamente inexistente, transporte público catastrófico, etc. Isso nos lugares turísticos! Imaginem como não estão lugares como Cascadura, Madureira, Marechal Hermes, Realengo, etc. (bairros onde eu cresci).

Quem teve a oportunidade de visitar outros lugares no mundo tem a obrigação de denunciar o estado quase terminal no qual se encontra essa cidade. Não dá para ficar repetindo baboseiras do tipo "cidade mais bonita do mundo" a sério!

Empresas quando querem melhorar, atacando seus pontos fracos e enfatizando seus pontos fortes fazem um negócio chamado benchmarking, que nada mais é comparar-se com as concorrentes. Para isso ter resultado, entretanto é preciso primeiro querer descobrir realmente seus problemas e não jogá-los para debaixo do tapete.

Dizer por exemplo que as praias do Rio são belíssimas é jogar a sujeira para debaixo do tapete. As praias do Rio são OK, ou melhor: seriam OK se fossem praias limpas e com uma infraestrutura adequada. Mas não é o caso. Um morador de Ipanema não tem outra alternativa que não freqüentar aquele esgoto, mas um turista tem alternativas e está disposto a pagar por elas. Ele pode cair na conversa fiada uma vez, mas duas não.

Outra questão é segurança: não adianta dizer que o Rio tem os mesmos problemas de segurança que todas as demais cidades grandes porque isso não cola. Desafio qualquer um a me mostrar um caso de ataque a ônibus de turistas, em uma cidade de país desenvolvido, em plena área urbana - não era um gueto, era o Aterro do Flamengo! - como aconteceu com os turistas ingleses aqui recentemente.

Mais uma coisa: a qualidade do turista que nos visita. Até quando vamos continuar vendendo bunda e apenas bunda? Que isso faça parte de um conjunto de atrativos da cidade eu até entendo, mas este tipo de turista é o pior possível, aquele que toda cidade procura afastar. Turista bom é aquele que viaja com sua família e gasta, mas gasta muito. Exatamente como os brasileiros fazem em Orlando e New York, comprando, indo a museus, shows, restaurantes, parques e visitando outras atrações turísticas.

Num país onde tanta coisa é errada, é demais querer que um determinado setor seja exceção, mas eu acredito que a única saída para o Rio de Janeiro é mergulhar de cara no turismo como atividade econômica principal. Aruba, um país minúsculo do Caribe, há coisa de 20 ou 30 anos atrás, segundo relato de conhecidos que estiveram lá na época, era um lugar pobre, com pedintes nas ruas, muitos deles crianças. Hoje, após decidirem investir primordialmente no turismo, não se vê mais mendigos possui uma população que aprende nas escolas diversos idiomas, principalmente o inglês. Além disso, procuraram facilitar enormemente a vida dos seus principais clientes: os americanos. Resultado, imensos resorts lotados apesar das diárias nada baratas, o setor de serviços periféricos (restaurantes, esportes aquáticos, excursões, etc.) cresceu assustadoramente, sem contar as empresas de telefonia que lucram enormemente com as ligações roaming. Diversos vôos diários chegam e partem do aeroporto Queen Beatrix para os Estados Unidos e alguns países da Europa.

O resultado disso tudo é que uma ilhota com com aproximadamente 100 mil habitantes e um terreno majoritariamente árido (a água precisa ser dessalinisada e chega potável às torneiras) tem hoje renda per capta da ordem de 21.800 dólares anuais (a do Brasil é de 8300 dólares).

Para virar um big player neste mercado é preciso jogar bem e jogar pesado. O turismo é uma fonte de renda espetacular porque é limpa, não consome seus recursos naturais (pelo contrário, há o incentivo para mantê-los), requer trabalho leve que não desgasta a população, etc. Tem muita gente aí fora disputando essa torta e quem ficar de nhenhenhé não vai ficar com nada.

Turistas

A Fox lançou um site para promover o filme Turistas - que deve ser um lixo, repito.

Caio na gargalhada só de imaginar os policarpos nacionalistas espumando de raiva dos imperialistas americanos.

Analise isenta

O Paulo acha cada coisa...

Um grupo de jovens brasileiros (só podem ser muito jovens, não admito tamanha ingenuidade em alguém com mais de 30 anos) viajou para Cuba com o intuito de fazer um relato isento do que vissem na Ilha. Já sabemos onde terminam esses relatos isentos dos socialistas, mas vamos lá...

O relato começa com uma tentativa de legitimação da revolução armada cubana, demonizando um lado e santificando o outro:

O início desta revolução aconteceu no dia 26 de julho de 1953, data na qual Fidel Castro, junto com um numeroso grupo de jovens organizados a derrubar o governo ditatorial de Fulgêncio Batista, atacaram os quartéis Moncada e Carlos Manuel de Céspedes. Neste ato, sob o qual ocuparam o Hospital Militar e diversos outros pontos dos quartéis, o grupo de Fidel Castro não matou nenhum soldado e tratou de todos os que foram atingidos e feridos. Mas, após a batalha perdida pelo grupo insurgente, mais de 40 revolucionários foram torturados e assassinados. Isto demonstra a diferença dos dois exércitos e suas formas de atuação num combate.

Só a incrível ingenuidade (vejam que estou assumindo que não há má-fé) deste trecho já seria suficiente para que eu parasse de ler o texto, mas aquela curiosidade mórbida que nos faz olhar para acidentes de automóvies me fez continuar.

Ainda tentando dar legimitidade ao processo revolucionário, os jovens (insisto, não podem ser adultos!) citam a constituição cubana corrente, ao meu ver de forma distorcida:

Todos los ciudadanos tienen el derecho de combatir por todos los medios, incluyendo la lucha armada, cuando no fuera posible otro recurso, contra cualquiera que intente derribar el orden politico, social y economico establecido por esta Constitución.

A interpretação deles pare este trecho é:

Esta positivação autoriza qualquer insurgência popular armada da população quando esta acreditar que seus direitos estão sendo infringidos.

Não queridos, leiam direito: a constituição autoriza a utilização de quaisquer meios, inclusive a luta armada, para defender a ordem estabelecida por ela, seja ela qual for. Daí a autorizar o povo a defender seus direitos, mesmo contra o próprio governo, vai uma distância cósmica.

Continuando.

A Cuba que vimos, escutamos, lemos, debatemos e tivemos o enorme prazer de viver por poucos dias, é um lugar marcado pela igualdade de oportunidades e planificação social que, prolatada em diversos discursos do Ernesto “Che” Guevara, traduz-se na construção de uma sociedade na qual a terra é do camponês e as fábricas e indústrias são dos obreiros. Planifica-se para que o homem não seja explorado pelo próprio homem, e para que todos possuam os mesmos direitos e deveres nas diversas ramificações sociais.

Aqui eu paro. Não tem como comentar um texto desses com a ingenuidade de um adolescente de 13 anos que acabou de ler "A Ilha".

Mas o interessante da coisa toda é que, em algum momento, todos os esquerdistas sinceros passam pela mesma experiência: a decepção.

Tomaram uma dura da imigração cubana e ainda tiveram uma prova de quão comprometidas com os ideais revolucionários são as autoridades de Fidel:
Logo foram pedindo nossos passaportes, vistos e explicações do porquê de estarmos em Cuba. Apresentamos a carta do Consulado e a conversa amenizou-se. O soldado que fazia as perguntas iniciais ligou para seu chefe, pois, com a intervenção do Consulado brasileiro, qualquer atitude tomada contra nós poderia gerar um problema internacional. Em 5 minutos, o comandante da imigração, Julio Cesar, apareceu e assumiu o papel de inquisidor. Desqualificou-nos de todas as maneiras possíveis, e tratou-nos como criminosos e delinqüentes. Falou que deveríamos dormir numa casa autorizada e levar, no dia seguinte, o comprovante de pagamento. Discutimos muito, falávamos que não tínhamos dinheiro para hospedagem. Respondeu que se não tínhamos dinheiro era para voltarmos de onde tínhamos saído, chamando-nos de loucos por estarmos viajando sem dinheiro. Argumentamos que Che e Fidel também foram dois loucos sem dinheiro. Julio César somente riu.

Não acreditávamos que isto poderia estar acontecendo em Cuba.

Não dá para culpar o Julio. Até eu soltaria uma gargalhada se ouvisse uma frase patética dessas. O sorriso dele foi uma aula que os jovens (insisto!) não devem ter aprendido:

"Acordem, crianças! Em que mundo vocês vivem?"