Um grupo de jovens brasileiros (só podem ser muito jovens, não admito tamanha ingenuidade em alguém com mais de 30 anos) viajou para Cuba com o intuito de fazer um relato isento do que vissem na Ilha. Já sabemos onde terminam esses relatos isentos dos socialistas, mas vamos lá...
O relato começa com uma tentativa de legitimação da revolução armada cubana, demonizando um lado e santificando o outro:
O início desta revolução aconteceu no dia 26 de julho de 1953, data na qual Fidel Castro, junto com um numeroso grupo de jovens organizados a derrubar o governo ditatorial de Fulgêncio Batista, atacaram os quartéis Moncada e Carlos Manuel de Céspedes. Neste ato, sob o qual ocuparam o Hospital Militar e diversos outros pontos dos quartéis, o grupo de Fidel Castro não matou nenhum soldado e tratou de todos os que foram atingidos e feridos. Mas, após a batalha perdida pelo grupo insurgente, mais de 40 revolucionários foram torturados e assassinados. Isto demonstra a diferença dos dois exércitos e suas formas de atuação num combate.
Só a incrível ingenuidade (vejam que estou assumindo que não há má-fé) deste trecho já seria suficiente para que eu parasse de ler o texto, mas aquela curiosidade mórbida que nos faz olhar para acidentes de automóvies me fez continuar.
Ainda tentando dar legimitidade ao processo revolucionário, os jovens (insisto, não podem ser adultos!) citam a constituição cubana corrente, ao meu ver de forma distorcida:
“Todos los ciudadanos tienen el derecho de combatir por todos los medios, incluyendo la lucha armada, cuando no fuera posible otro recurso, contra cualquiera que intente derribar el orden politico, social y economico establecido por esta Constitución.”
A interpretação deles pare este trecho é:
Esta positivação autoriza qualquer insurgência popular armada da população quando esta acreditar que seus direitos estão sendo infringidos.
Não queridos, leiam direito: a constituição autoriza a utilização de quaisquer meios, inclusive a luta armada, para defender a ordem estabelecida por ela, seja ela qual for. Daí a autorizar o povo a defender seus direitos, mesmo contra o próprio governo, vai uma distância cósmica.
Continuando.
A Cuba que vimos, escutamos, lemos, debatemos e tivemos o enorme prazer de viver por poucos dias, é um lugar marcado pela igualdade de oportunidades e planificação social que, prolatada em diversos discursos do Ernesto “Che” Guevara, traduz-se na construção de uma sociedade na qual a terra é do camponês e as fábricas e indústrias são dos obreiros. Planifica-se para que o homem não seja explorado pelo próprio homem, e para que todos possuam os mesmos direitos e deveres nas diversas ramificações sociais.
Aqui eu paro. Não tem como comentar um texto desses com a ingenuidade de um adolescente de 13 anos que acabou de ler "A Ilha".
Mas o interessante da coisa toda é que, em algum momento, todos os esquerdistas sinceros passam pela mesma experiência: a decepção.
Tomaram uma dura da imigração cubana e ainda tiveram uma prova de quão comprometidas com os ideais revolucionários são as autoridades de Fidel:
Logo foram pedindo nossos passaportes, vistos e explicações do porquê de estarmos em Cuba. Apresentamos a carta do Consulado e a conversa amenizou-se. O soldado que fazia as perguntas iniciais ligou para seu chefe, pois, com a intervenção do Consulado brasileiro, qualquer atitude tomada contra nós poderia gerar um problema internacional. Em 5 minutos, o comandante da imigração, Julio Cesar, apareceu e assumiu o papel de inquisidor. Desqualificou-nos de todas as maneiras possíveis, e tratou-nos como criminosos e delinqüentes. Falou que deveríamos dormir numa casa autorizada e levar, no dia seguinte, o comprovante de pagamento. Discutimos muito, falávamos que não tínhamos dinheiro para hospedagem. Respondeu que se não tínhamos dinheiro era para voltarmos de onde tínhamos saído, chamando-nos de loucos por estarmos viajando sem dinheiro. Argumentamos que Che e Fidel também foram dois loucos sem dinheiro. Julio César somente riu.
Não acreditávamos que isto poderia estar acontecendo em Cuba.
Não dá para culpar o Julio. Até eu soltaria uma gargalhada se ouvisse uma frase patética dessas. O sorriso dele foi uma aula que os jovens (insisto!) não devem ter aprendido:
"Acordem, crianças! Em que mundo vocês vivem?"