09 dezembro 2006

Turistas... Final

Este texto do Rodrigo Constantino encerra o assunto para mim.

Não demorou muito e recebi um daqueles emails de protesto infantil, incitando os brasileiros ao boicote do “perverso” filme. Dizem esses “patriotas” que a película “queima o nosso filme” e pode prejudicar o nosso mercado de turismo. Não obstante tratar-se de um filme de ficção, é preciso explicar a estas pessoas que nosso filme já está bastante queimado – eu diria esturricado até. E não por conta de filmes de ficção, tampouco por alguma conspiração de Hollywood, mas sim pela simples exposição dos fatos. Como disse Diogo Mainardi no programa Manhattan Conection, não há nada que a indústria cinematográfica possa produzir sobre o Brasil pior que nossa própria realidade. Creio que isso seja o verdadeiro fator de ódio por parte dos falsos “nacionalistas”. Precisam xingar os bodes expiatórios para não terem que encarar a dura realidade.

Num país com mais de 50 mil homicídios anuais, onde não há império da lei, onde a cultura do “jeitinho” é predominante, onde políticos claramente corruptos ficam impunes e são reeleitos, onde o setor aéreo é caótico, onde o próprio presidente tenta expulsar um jornalista estrangeiro apenas por este falar a verdade sobre seus hábitos etílicos, onde casos e mais casos de turistas roubados surgem na mídia, onde os golpes aos turistas começam já nos aeroportos, parece piada a revolta dos brasileiros ser voltada para um filme trash em vez da própria realidade. Se a atração de turistas é mesmo um objetivo – e deveria ser, pelo potencial que o Brasil tem nesse setor – atacar os reais problemas brasileiros que afugentam os gringos parece infinitamente mais sábio que ficar de picuinha com um filme de terror, provavelmente de quinta categoria. Será que um pai que ama de verdade seu filho com problemas com as drogas ficaria mais revoltado com alguém que constatasse o problema do que com o próprio problema em si? Tampar o sol com a peneira não ajuda. Ocultar os problemas não faz com que eles desapareçam. Matar o mensageiro da má notícia não faz ela sumir. E a verdade é que o Brasil foi escolhido como cenário do filme porque a trama dele seria factível em nossas terras.