26 janeiro 2007

Banco Central e os juros

Concordo - quem sou eu? - com tudo que Gustavo Franco escreveu aqui.

Somos os campeões mundiais de juros, como fomos de inflação, e da mesma forma como ocorria antes do Plano Real prevalece certa tendência de se culpar o médico pela doença, como se a culpa fosse do Banco Central e se a caneta de seu presidente tivesse o poder nos trazer juros de primeiro mundo. Muita gente acha que é crueldade, ou deficiência de vontade política. E muitos acham também que o salário mínimo podia ser de mil dólares, ou dois mil, por que não? E que o câmbio também deveria ser colocado no nível que os exportadores querem, por que eles merecem e empregos estão sendo destruídos. Não há limite para a vontade de fazer o Bem.

Mas fato é que existem fatores objetivos que dão limites muito claros ao que o BC pode fazer com juros e câmbio. Os economistas designam simplificadamente esse conjunto de fatores, o estado geral de saúde do organismo econômico, em particular do setor público, por “fundamentos”.

Os “fundamentos” eram péssimos no tempo da inflação, e muita gente se enganava com a ilusão de que a inflação era “inercial” e que não tínhamos uma infecção a combater. Quando abandonamos essa cantilinária e atacamos o problema em seus “fundamentos”, tivemos sucesso em deixar para trás a hiperinflação. Mas a doença não desapareceu por inteiro, e que o que dela restou, uma versão menor, porém mais resistente da mesma bactéria, é exatamente o que provoca a patologia dos juros altos. E, novamente, tem gente querendo negar a existência da bactéria, e achando que o doente está pronto para correr os 100 metros, e crescer 5%, ou 6%, quem sabe mais.

O Brasil não tem juros altos por que o BC é monetarista ou neoliberal, mas por que o crédito público no Brasil é muito ruim. Nossas contas públicas estão muito desarrumadas para qualquer padrão internacional, à direita ou à esquerda, não obstante o progresso que fizemos. Muita gente se esforça em dizer o contrário, que está tudo bem, que não há problema, da mesma forma como se dizia antigamente que déficits e impressão de papel pintado não provocavam inflação. A capacidade de enganar é crucial para a manutenção de uma doença sem tratamento.

O link para a página do Gustavo Franco peguei no De Gustibus...