17 novembro 2005

Não vá o Sapateiro além das tamancas

Esse ditado é muito bom. Se bem me lembro existe uma frase com sentido semelhante mas usando termos mais sofisticados, muito apropriados para palestras de gerenciamento. A mensagem é a mesma: o mundo seria muito melhor se todos, inclusive eu, falassem apenas do que entendem minimamente.

Bem, deixando de blá-blá-blá e partindo direto para um exemplo prático: existe um site voltado para assuntos econômicos chamado Division of Labour. Quase sempre seus posts sobre economia são muito bons. Mas aí eles resolveram sair da sua praia.

Uma observação: não é que eu entenda também do assunto. Por isso faço tão poucas afirmações sobre o assunto e muitas, mas muitas indagações que são quase sempre ficam em sem resposta ou recebem respostas que exigem que eu acredite que alguém sabe o que se passou a 500 milhões de anos atrás. Meu ceticismo não me permite tal luxo.

Voltando ao Division of Labour, esse foi o argumento que eles usaram para refutar o Intelligent Design:

"'The kidneys do an incredible job of holding on to sodium, which was important to the survival of our early ancestors who lived in a salt-poor world, but today there's so much salt in the food we eat that the kidneys end up holding onto too much sodium,' and that can lead to high blood pressure, researcher Dr. Howard Pratt said in a prepared statement."

Percebam que, na ânsia de denunciar um mau design do rim (tinha trocado kidney por liver. Valeu, Michael), o cara deu um argumento contrário, no meu "modo de vista", ao Evolucionismo. Se é para haver uma evolução, o rim deveria gradativamente ir acumulando menos e menos sódio. Aí alguém me dirá:

"Sim, e isso vai acontecer daqui a alguns milhões de anos."

Não tenho tanto tempo :-)

Para um Engenheiro como eu uma declaração daquelas é uma violação das especificações do produto. Seria como se alguém comprasse um aparelho 110v, tentasse usá-lo em uma rede 220v e reclamasse que meu produto não se adaptou à sua realidade.

Além de tudo, há uma forçada de barra evidente na declaração: dizer que há sal disponível para ser ingerido não quer dizer que as pessoas irão fazê-lo. Comer ou não comer sal é uma decisão voluntária e não uma condição ambiental sobre a qual não temos controle. Fazendo novamente analogia com o aparelho, é como se no seu prédio existissem tomadas 110v e 220v. Isso não quer dizer que seu aparelho pode ser espetado em qualquer uma das duas, ignorando as especificações sob as quais ele foi construído. Quem ingere quantidades normais de sal tem seu rim operando dentro das especificações.

Creio que existem muitos pesquisadores sérios quebrando a cabeça para responder uma série de perguntas e solucionar várias questões obscuras. Creio também que eles têm mais dúvidas em relação às teorias que desenvolvem que aqueles que apenas pegam carona para parecerem progressistas. Acredito, porém, que nunca teremos uma resposta definitiva para o assunto. E vivo muito bem assim.

A única coisa que realmente me incomoda nessa questão é o monoteísmo evolucionista daqueles que tentam me converter do mesmo jeito que aqueles evangélicos que nos param na rua para tentar nos levar para a Igreja Universal.