13 novembro 2006

Texto horroroso!

Sinceramente não sei de onde saiu esse cara (nem me dei o trabalho de Googlar), mas dos três ou quatro textos seus que li, nunca encontrei um sequer que tenha qualidade técnica razoável. As afirmações que ele faz como se fossem verdades indiscutíveis não se sustentam ante a mais simples análise:


Aconteça o que acontecer na economia, a culpa é sempre dos gastos públicos. Essa bem poderia ser a lei econômica geral do neoliberal de plantão. Anda meio fora de uso mundo afora. Nem mesmo o FMI fica mais martelando na tecla. Mas, aqui em Pindorama, tal é a pressão que até unha encravada é culpa do gasto público... perdão, da “gastança”.

Pelo amor de Deus! O gasto governamental fez até com que vários conservadores americanos passassem a criticar o governo Republicano. Basta olhar atentamente para o mundo, sem o filtro ideológico, para enxergar a crescente preocupação dos governos dos países desenvolvidos com o gasto público. Não, não "anda meio fora de uso mundo afora", muito pelo contrário.


Dê uma olhadinha em volta e observe, por favor, se há, entre eles, alguém que dependa do Estado para o que for. Já resolveram tudo no mundo privado. Seus filhos estão em escolas particulares e seus casos de saúde são tratados em hospitais-hotéis, garantidos por planos de saúde privados (O sistema público de saúde só é lembrado quando a doença exige tratamento caro e sofisticado, normalmente oferecido por centros públicos de excelência, mas isso deixa pra lá.) O fim de semana é dentro de shoppings climatizados e suas casas, de muros altos, grades e porteiros eletrônicos em série, são protegidas por empresas particulares de segurança.

Em resumo, quem ataca incondicionalmente o gasto público não precisa do Estado.

Isso beira o deboche! Tudo que a classe média gostaria é de não precisar pagar escola para seus filhos, plano de saúde para suas fámílias e contar com a proteção do Estado. Mas justamente porque o Estado decidiu gastar mal o dinheiro que arrecada, a classe média precisa pagar duas vezes por esses serviços. Que centros de execelência são esses? Por que nosso Vice-presidente não os encontrou e foi se tratar no exterior?

Já que ele considera a Fipe-USP insuspeita, o que ele teria a dizer da recomendação desse estudo:
As simulações realizadas mostraram que é inviável simplificar o sistema tributário se a necessidade de recursos do governo não diminuir em relação à base tributável: a carga tributária em 2004 alcançou o recorde de 36,7% do PIB e a racionalização do sistema tributário requer que a carga tributária total diminua para 28% do PIB.

Voltando ao texto do No Mínimo, esse trecho:


Além disso, pessoas com renda de até dois salários mínimos empenham o equivalente a 48% de sua renda com impostos, taxas e contribuições. Já os que ganham mais de 30 mínimos, são taxados em 26% de seus rendimentos.

Pode fazer mais sentido se você trouxer esta informação (do mesmo estudo apontado por mim) para a análise:


A condição econômica da maioria da população brasileira favorece esse fenômeno. 75% dela têm rendimento inferior a R$ 500/mês, segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2002/3: são 37 milhões de famílias abrangendo 132 milhões de pessoas. Apesar de renda tão baixa, as aspirações de consumo são elevadas, levando-as a ter um padrão de gasto incompatível com suas rendas. Até as classes de 10 salários mínimos (R$ 2000/mês em 2003) a despesa total supera a renda familiar em proporção tão mais elevada quanto mais pobre a família. A despesa com alimentação absorve mais de 20% da renda da família, chegando a 57% nas que recebem até 2 salários mínimos.

Ora, se uma família que ganha até 10 salários mínimos tem despesa total superior à sua renda familiar é bem provável que a proporção de impostos em relação a renda total seja mais elevada do que quem não compromete toda a sua renda com consumo que é altamente taxado. Por exemplo:

Supondo uma carga tributária comum de 40%:

Família A: renda familiar = 100.00; gasto com consumo = 100.00

Valor comprometido com impostos: 40.00, que representam 40% da renda familiar

Familía B: renda familiar = 500.00; gasto com consumo = 200.00

Valor comprometido com impostos: 80.00, que representam 16% da renda familiar

Família C: renda familiar = 500.00; gasto com consumo = 400.00

Valor comprometido com impostos: 160.00, que representam 32% da renda familiar

As famílias B e C possuem a mesma renda familiar mas como a família C consome mais, ela paga mais impostos do que a família B. Poderíamos dizer que o problema não é o imposto em si, mas sim o fato de a família A comprometer toda sua renda com consumo. O triste é que ainda assim provavelmente não está tendo suas necessidades plenamente atendidas.

Pesquisas devem ser analisadas como um todo. Pegar apenas um dado para fazer valer um ponto de vista é, no mínimo, descuido.