Outro dia, meu filho de dezessete anos me disse: “Pai, no Brasil nunca vi alguém que acreditasse em alguma coisa por ser verdade. Eles dizem o que querem que aconteça, ou o que acham que é bom para eles, e chamam isso de ‘verdade’.”
É a experiência de um garoto que veio para os EUA dezoito meses atrás. Se tivesse desembarcado no Japão ou em Angola seria a mesma coisa. Ele tinha descoberto a diferença entre o Brasil e a espécie humana.
Sobretudo é preciso que tenha despertado na sua alma aquilo mesmo que falta no ambiente: o desejo de conhecer a realidade, de sacudir de si o torpor solipsista e tentar descobrir as coisas como são. O brasileiro a quem isso aconteça vê logo um abismo abrir-se entre ele e os outros. O que ele aprendeu é incomunicável na linguagem comum, feita para expressar desejos, temores, esperanças, não fatos, coisas, situações. Ele é agora o portador de um segredo, e quanto mais se esforça em revelá-lo mais parece ocultá-lo sob um manto esotérico. Os profanos se vingam, chamando-o de arrogante e esnobe. A família ri dele, a namorada ameaça largá-lo. Então ele não agüenta mais: vende a consciência em troca de afeição. Está maduro para tornar-se um professor da USP.
Perfeito. De quem? De quem? ;-)