21 novembro 2006

Governo sabe tuuuuuudo - parte II

Fui alertado de que a reportagem que eu comentei no post anterior não procedia porque o governo não impede que o usuário instale outro sistema operacional. Conforme sugerido, fiz uma pesquisa adiciona e descobri que o governo apenas exige - sob pena de perda de suporte técnico - que o sistema operacional seja "Software livre de código aberto com permissão de uso, estudo, alteração, e execução e distribuição". Ou seja, não pode ser o Windows.

Não discuto a legitimidade da imposição, mas que ela existe, existe.


O mais bizarro eu descobri fazendo a tal pesquisa. Existe uma portaria do Ministério da Ciência e Tecnologia que determina como deve ser a configuração do tal computador popular.

É sério. (O Paulo vai adorar essa!)

É o orgasmo para um burocrata: a tal portaria definine características mínimas de hardware e quais aplicativos devem vir instalados no computador.

Surreal! Imagine quantas pessoas não esitveram e estão envolvidas nisso...

Um trecho do anexo da portaria merece especial atenção:

O suporte a ser prestado aos usuários das soluções do Programa Computador para Todos será de responsabilidade da empresa credenciada para fornecer tais soluções, durante o período de 1 (um) ano. Compreende a assistência técnica ao hardware e o suporte ao pacote de software que compõe a solução. Para o usuário final deve ser transparente a questão do problema ser de hardware ou de software, ou seja, a rede de assistência deve garantir o funcionamento da sua solução.

Nem quero saber quanto este suporte "gratuito" está custando aos cofres públicos.

Voltado ao resultado da pesquisa, esta é uma prova da incapacidade do governo para tomar certas decisões: se 73% dos beneficiários está removendo o sistema operacional e os aplicativos pré-instalados é porque estes softwares não são interessantes. Faz sentido: a maioria das empresas usa software Windows e estar familiarizado com estes softwares é abrir portas no mercado de trabalho, coisa que, aliás, deveria ser do interesse do governo. Para piorar a situação, o governo paga, de forma direta ou indireta, pelo suporte que seria prestado ao sistema operacional livre e aos aplicativos mas esses produtos são desinstalados ou não utilizados.

Reparem na grandiosidade da cagada: o governo paga por algo que não é utilizado enquanto que os beneficiários ficam sem suporte por instalar produtos mais interessantes do ponto de vista prático.

Claramente um desperdício de dinheiro público.

Um governo sério deveria buscar uma alternativa junto à Microsoft para obter licenças dos seus produtos. Só consigo enxergar dois motivos para esse programa continuar do jeito que está:

1) Ideológico: por questão de ideologia o governo decide manter a imposição do software livre, se recusando a negociar com a MegaUltraCapitalista Microsoft que, na verdade, fornece os produtos que os beneficiários realmente desejam.

2) Corrupção: existe algum tipo de conluio com as empresas credenciadas pelo programa.

PS: Este post parte da premissa, questionável, de que este programa de financiamento é uma atribuição válida do governo federal.