15 novembro 2006

Reality in your face

Estou me deivertindo com a seção de comentários que O Globo criou para suas notícias. A falta de noção de boa parte dos leitores do jornal em relação a o que é o mundo real é espetacular. Cada dia que passa me convenço de que habitamos uma Matrix onde o Brasil é um país de extrema relevância no cenário mundial, um verdadeiro big player, e onde a cidade do Rio de Janeiro é mundialmente reconhecida por suas belíssimas praias.

Pausa para me recuperar...

Há algum tempo atrás o jornal relatou que o departamento de estado (ou sei lá que órgão era) americano estava alertando os turistas daquele país para os perigos de visitar o Rio de Janeiro. Como de costume, o espírito nacionalista se rebelou. Comentários irados condenavam o alerta, com aqueles argumentos elaboradíssimos que vocês já devem conhecer: uns diziam que era inveja dos americanos; outros diziam que era arrogância e outros - que provavelmente jamais tinham colocado a cara fora da cidade do Rio - alegavam que o Rio era tão perigoso quanto New York. Este último motivou um comentário de alguém aparentemente equilibrado e ponderado (cito de cabeça):

Gente, Nova York pode se dar esse luxo [ser tão violenta quanto o Rio] porque ela não é uma cidade turística como o Rio de Janeiro.

Apesar deste comentário ferir violentamente o senso comum do turista por vocação que vos escreve, deixei pra lá. Hoje, com um tempinho livre, resolvi fazer uma pesquisa básica. Tive problemas pois não consegui encontrar dados anualizados que mostrassem a entrada de turistas na cidade do Rio de Janeiro (só encontrei na Riotur dados de 2006 até Junho). Por isso fiz uma aproximação extremamente grosseira que ainda assim prova meu ponto:

Rio de Janeiro:

Visitantes domésticos: 3.624.000 *
Visitantes internacionais: 1.356.000 **
Total: 4.980.000

(*) Como a Riotur não tem os dados do ano 2005 (pelo menos não encontrei), peguei o maior valor mensal (Janeiro, aprox. 302 mil turistas) e multipliquei por 12. Uma aproximação bem grosseira se formos levar em conta que em Fevereiro foram 240 mil, mas tudo bem.

(**) Pelo mesmo motivo acima, peguei o maior valor mensal (Janeiro, 113 mil) e multipliquei por 12. Outra aproximação bem grosseira se formos levar em conta que em Junho o valor cai para 75 mil.

Ou seja, o total de turistas obtido é como se o Rio de Janeiro tivesse uma atividade turística, ao longo de todo o ano, igual ao seu melhor mês.

New York:

Como o ano não acabou ainda, só temos forecasts (previsões) para 2006 no site de turismo da cidade. Não vou dar mole para gringo, não. Vou usar o pior indicador desde 1998:

Visitantes internacionais e domésticos (1998): 33.100.000

E olha que eu realmente esfolei os gringos porque o total de 2005 foi de 42.600.000 e o esperado para 2006 é de 44.400.000.

Ou seja o turismo da Cidade Maravilhosa é quase 1/7 do turismo na Grande Maçã.

E nem vou entrar no mérito da qualidade dos turistas que vêm para cá...

Não é demérito nenhum estar atrás de uma grande potência como os EUA no quesito turismo. Acontece que, para pelo menos chegarmos perto da grana que eles movimentam com essa atividade (os turistas gastaram 22.8 bilhões de dólares somente em New York no ano de 2005), temos que parar de brincar de faz de conta e começar a trabalhar sério.

Percebam a diferença (dados de 2004. Fonte: Organização Mundial de Turismo):

United States:

International Tourism Receipts (US$ million): 74,481
Market share in the region (%): 56.6

Brazil:

International Tourism Receipts (US$ million): 3,222
Market share in the region (%): 2.4