20 novembro 2006

Ah, as pesquisas...

Acaba de sair no Globo uma pesquisa que indica os EUA como "o país mais hostil a visitantes".

E lá vamos nós novamente:

A pesquisa, que consultou 2.011 viajantes internacionais de 16 diferentes países, foi conduzida pela RT Strategies para a Discover America Partnership, grupo lançado em setembro para promover viagens aos EUA e melhorar a imagem do país no exterior.

Qual o problema deste método? É que ele não avalia realmente qual país impõe mais dificuladades aos visitantes e sim qual país "dentre aqueles visitados pelos viajantes" oferece mais dificuldades. Não sei se alguém já tentou tirar visto para a Austrália mas, na última vez que eu dei uma olhada, era um pé no saco também.

Um exemplo da falha desse método, por exemplo, é que se me fosse perguntado qual o país mais pentelho que eu já visitei eu responderia Estados Unidos da América. Todos os demais países que eu já visitei não exigiam visto. E também não tiveram dois aviões entrando pelas janelas de seus prédios. Mas se me perguntassem qual o país mais pentelho do mundo, eu teria que responder: não sei.

A falha do método é tão flagrante que contradiz o volume de visitantes que escolhem os Estados Unidos como destino de suas viagens:

1o. lugar: França, com 75.1 milhões de visitantes
2o. lugar: Espanha, com 52.4 milhões de visitantes
3o. lugar: Estados Unidos, com 46.1 milhões de visitantes

Dados da Organização Mundial de Turismo referentes ao ano de 2004.

Se levarmos em consideração que França e Espanha, dada sua localização, são acessíveis a um número muito maior de estrangeiros - provenientes de outros países da Europa - do que os Estados Unidos, este 3o. lugar ganha outros contornos.

Ou seja: se a pesquisa estiver minimamente correta, o mundo é composto por um bando de masoquistas que sentem um desejo incontrolável de serem esculachados pelos agentes da imigração americana.

O tempo de espera para agendamento de entrevista para obtenção do visto é um dado objetivo que pode ser efetivamente medido. O mesmo não podemos dizer em relação à critérios subjetivos que dependem da percepção de cada indivíduo. Eu, que tenho mais de 20 entradas nos EUA, nunca me senti agredido ou ameaçado por nenhum oficial. Muito pelo contrário, alguns até brincam - na sua pobre ignorância - perguntando o que alguém do Brasil poderia ver de interessante nos EUA. Na pior das hipósteses foram diretos e objetivos.

Dependendo de como foi a viagem eu chego no destino com um determinado humor, o que afeta minha percepção de grosseria ou simpatia.

Ainda mais quando já vamos pré-dispostos a achar qualquer questionamento como algo ofensivo.

Para quem reclama do rigor, não custa lembrar esses numerozinhos: 9/11.