12 novembro 2006

Tá feia a coisa

Conforme já comentei aqui anteriormente, o jornal Globo disponibiliza agora em seu site um espaço para que os leitores façam comentários sobre as notícias. É algo interessante que pode dar uma pequena amostra da reação de um determinado ssegmento da sociedade à um determinado assunto.

Partindo do princípio de que as pessoas que ali comentam possuem pelo menos acesso a um computador e à Internet, creio não ser exagero assumir que não pertencem ao que se qualifica por aí de povão.

Partindo desta premissa e analisando o teor dos comentários, não resta hoje outra alternativa a não ser concordar com o texto de Olavo de Carvalho que eu coloquei aqui ontem.

O primarismo dos comentários, escritos às vezes num português capenga e mal articulado, nos faz duvidar de que eles tenham sido escritos por um adulto alfabetizado. O apego aos clichês e preconceitos tolos, assim como a busca por aprovação e admiração (principalmente nas reportagens sobre celebridades internacionais que tecem algum comentário sobre o Brasil), expõem toda a imaturidade de um povo que foi levado à beira da demência.

Basta algum estrangeiro criticar algo que todo brasileiro critica e chovem comentários raivosos (ainda mais se o gringo for americano) bradando que o infeliz é um imbecil, que sofre de inveja incurável por não viver num país tão maravilhoso, etc.

Isso só pode ser uma patologia.

É curioso que, mesmo após viajar razoavelmente por aí, nunca vi um povo tão determinado a moldar uma imagem de si para o exterior, nem mesmo os tais arrogantes ianques. Novamente, é uma busca por aprovação e admiração. Se internamente fazemos de tudo para que "estepais" seja uma merda, por outro lado exigimos do resto do mundo que todos nos considerem um lugar especial.

Essa infantilidade coletiva não é normal.

Quando o assunto é política, os comentários que vemos hoje são os mesmos da época em que o mundo era mais compartimentado e o acesso à informação era mais precário. Com a quantidade de informação disponibilizada hoje pela Internet é inconcebível que um adulto ainda nutra alguma simpatia por figuras como Fidel Castro ou que ainda achem que o socialismo é o caminho para algo diferente da miséria. Estamos vendo o mundo com os mesmos olhos de décadas atrás, como se o resto do mundo tivesse seguido em frente e nós tivéssemos optado por ficar ruminando idéias que o mundo já tratou de dar o devido destino: a lixeira.

Vivemos na nossa Matrix particular.

E o mais preocupante é que não parece existir uma porta de saída para essa situação. Aqueles que deveriam ser o farol intelectual da população são os próprios irradiadores dessas idéias. A única diferença é que se expressam num português melhorzinho. Semanas atrás caí no Blog de uma jornalista do Globo - lamento sem propaganda grátis - aparentemente freqüentado por outros jornalistas do jornal e também, pelo que pude observar, por pessoas de altíssima formação acadêmica (mestres e doutores). Poderia arriscar, sem medo de errar, que ali está uma parte do que se considera a nata intelectual "destepais".

Sem nenhuma surpresa, constatei que o nível dos comentários no Blog acompanha o dos comentários no jornal. Ou melhor, os leitores é que nada mais fazem do que repetir o que lêem e ouvem nos meios de comunicação.

Lá podemos ver os mesmos velhos clichês amaldiçoando o capitalismo e louvando o socialismo; a demonização dos Estados Unidos como grande responsável pela miséria em que nós e outros países pobres vivemos; Fidel Castro louvado como guerreiro que defende os humildes dos imperialistas e por último, mas não menos relevante, a tola associação esquerda=bem / direita=mal.

E com isso, a cada ano que passa mais pobres nos tornamos, mais ignorantes, menos cientes do que se passa no mundo real e vamos nos parecendo, cada vez menos, com uma civilização. Não duvido que num futuro remoto voltemos adotar a paulada na cabeça como tática de conquista amorosa.

Mas - claro! - afirmando que este é o melhor lugar do mundo para se viver.


Brasileiro do futuro