07 junho 2008

Lee Siegel sobre a Web

Alguns acertos e muitos erros:

Concordo:

Francamente, apesar de ser jornalista e acreditar na liberdade de expressão, sou a favor de ações legais para acabar com essa forma de insulto anônimo.

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No campo dos prós, eu salientaria as pessoas talentosas que não estão nos meios de comunicação. Elas agora têm voz e um meio para transmiti-la. Conseguem contornar as grandes vias de expressão como as redes de TV, as editoras e as gravadoras. Isso é muito bom.

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Em uma sociedade de massas existe um grande número de pessoas que parecem ter uma boa formação educacional, mas na verdade não têm. Há muita gente com diplomas universitários ou mesmo títulos mais impressionantes que não é mais culta que pessoas que não tinham diploma há cem anos.

Bobagens:

Ela precisa ser menos comercial. Os sites devem vigiar e proteger seus usuários contra abusos de terceiros, que fazem uso do anonimato para postar mensagens ofensivas. A web precisa mudar, criar um tipo diferente de cultura, no qual as pessoas não colecionem amigos como se fossem objetos. Precisa ser um lugar mais humano, que crie mais sentido na vida das pessoas. [Precisa ser menos comercial por quê? Concordo que é uma estupidez a coleção de amigos como é feita no Orkut, por exemplo. Mas isso não é problema da Web. A Web não tem que criar sentido na minha vida. Quem faz isso sou eu e uso a Web para realizá-lo. E mesmo se eu não o fizesse quem é este senhor para decidir que minha vida tem que ter um sentido? Sai pra lá!]

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A internet está acelerando a “comoditização” da vida privada, tornando a vida das pessoas um objeto de consumo. [Isso parece blá-blá-blá de estudante filiado ao PSOL. Falou, falou e não disse nada.]

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As vozes mais poderosas, sonoras e agressivas sufocam as mais sensíveis, razoáveis e sensatas. Não consigo imaginar um romance como Os Dublinenses, de James Joyce, obtendo sucesso na internet. Ou Kafka, ou Rimbaud, ou qualquer artista introspectivo e cheio de personalidade. A grande verdade é que a internet é melhor para os provocadores e para os idiotas, infelizmente. [Como qualquer veículo que proporcione acesso às massas. O mesmo vale para a televisão, por exemplo. Se você procurar, você acha. Mas se optou por ter como página de abertura do seu browser o Kibeloco, a culpa não é da Web.]

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Hoje, temos grupos como o Google, a Microsoft e o Yahoo!, ou Rupert Murdoch, o dono da News Corp., que comprou o MySpace. Ao comprar todos esses blogs e redes sociais, Murdoch e o Google estão, literalmente, comprando a vida empacotada das pessoas. Eles têm acesso a nossos pensamentos íntimos, que repassam para marqueteiros. [Meu primeiro blog era publicado sem nenhum desses mecanismos, escrito no Word e publicado via FTP. Se o Google resolver criar problemas eu volto para este formato ou mudo de mecanismo. Que pensamentos íntimos são esses que você publica na Web? Se são íntimos guarde para você e seus entes mais chegados.]

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Ele é assustador. O negócio do Google é comprar a alma das pessoas para depois vendê-la. O Google criou e domina a cultura dos sites de busca. Ele controla a relação entre o indivíduo, as empresas e o mercado. Seu negócio é virar as pessoas do avesso, expondo seus desejos mais íntimos para o mercado explorá-los e lucrar com eles. É terrível. Se eu fosse um neomarxista, e talvez o seja, diria que estão usando os mecanismos da democracia para criar uma forma autoritária de cultura, dominada e ditada pelas grandes [Google não faz nada disso. Ele provê serviços como uma empresa qualquer. Não quer sua vida exposta? Resguarde-se, ora bolas! Incrível atribuir a uma empresa tamanho poder sobre a vontade das pessoas.]

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A internet facilita o abandono da cultura impressa e torna mais fácil fazer da distração uma nova forma de disciplina. A internet é uma criação da cultura do entretenimento. Ela força a marginalização da cultura impressa, da reflexão e dos espaços de contemplação passiva de nossa vida. [Mais uma vez, atribui à Web um defeito que não é dela. Claro que há milhões de pessoas usando a Web apenas para bobagens. Mas e a quantidade de livros que estão disponíveis hoje - principalmente no formato eletrônico - graças exatamente à Web? Se apegar a uma nostalgia pelo formato impresso é meio tolo. Em um livro o crucial é seu conteúdo. O resto é adorno. E não esqueçamos da Amazon: esta empresa fez chegar a diversas pessoas, livros que antes nem freqüentavam seus sonhos.]

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Em relação ao efeito isolante da computação, quero dizer que, nos últimos 30 ou 40 anos, os americanos vêm progressivamente mergulhando num grande culto narcisista. Quando se chega ao ponto em que o indivíduo é elevado acima da sociedade, satisfazer as necessidades individuais torna-se mais importante que tentar criar relações com o próximo. A internet é o primeiro meio anti-social criado para o indivíduo anti-social. Ele está sozinho numa sala, na frente do computador, fazendo tudo o que antes requeria encontrar ou falar com pessoas, como fazer compras, reservar uma mesa no restaurante, encontrar uma namorada, se relacionar com amigos ou até fazer sexo. Pela primeira vez, pode-se obter aconselhamento médico sem consulta! É uma revolução nas relações sociais. [Creio que devem ter falado o mesmo da TV quando ela foi criada, ou até mesmo do livro ("agora todos ficarão aí lendo seus textos e não conversarão com mais ninguém"). Incrível como há pessoas totalmente avessas ao progresso. No caso da Web, que representou uma verdadeira revolução, elas se vêem completamente perdidas, sem chão. E aí fecham os olhos para os amigos que se reencontram, os casais que se encontram, os amigos e familiares que mantêm contato apesar da distância geográfica, etc. Essas pessoas se concentram apenas no aspectos negativos da Web, deixando de lado seus inúmeros aspectos positivos.]

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Pode-se argumentar que os blogs são uma forma saudável de expressão para quem não tem outro lugar para exteriorizar seus sentimentos a não ser esse vazio eletrônico. Por outro lado, essa tecnologia faz com que as pessoas se aprisionem em fortalezas construídas com suas próprias palavras, tornando-se narcisistas. A tela de computador é o espelho de Narciso, onde as pessoas vêem o reflexo da própria perdição. [Vamos supor que seja assim (o que eu discordo): e daí? Desde quando uma pessoa não tem o direito de ser narcisista, anti-social, fechada, boba, vazia, etc. ?]