Se a idéia de um presidente negro é simpática, também deveria ser (e é) a idéia de um juiz negro da Suprema Corte, de dois Secretários de Estado negros. Se essas pessoas não têm seus méritos reconhecidos e não geram otimismo, é só porque a divisão ideológica é muito mais forte do que a divisão racial. Os idiotas que se sentem audaciosos por ter esperança não tiveram sua vaidade afagada, porque o que importa não é mostrar-se do lado dos negros no poder, mas de quem quer que confirme para você a sua própria bondade. Isso não é debate. É sedução.
Nada me incomoda mais num escritor de opinião (colunista, blogueiro, o que seja) do que a constante submissão da sua verdadeira opinião à necessidade de se mostrar uma pessoa bondosa, de acordo com os padrões politicamente corretos da época. Os textos ficam homogêneos demais, chatos demais, falsos demais. Não deixa de ser curioso que, quanto menos a pessoa verdadeiramente se importa com o pobre real, o negro real, a mulher real, que cruzam o seu caminho todos os dias, mais suscetível a ceder à sedução de figuras como Obama ela se torna.