07 julho 2008

Finalmente

É bom discordar de quem se admira. Tenho maior admiração pelo JP Coutinho e concordo, em termos de princípios, com tudo neste texto sobre a tortura.

Mas ainda que fosse possível saber, "a priori", que o suspeito detém conhecimento vital e incontestável sobre um ato criminoso, isso não autoriza atos de tortura, qualquer que eles sejam. Mesmo que a nossa inação implique um preço demasiado elevado para uma democracia liberal. Aquilo que distingue a civilização da barbárie é a capacidade da primeira para defender os seus valores, sobretudo quando a tentação de os abandonar é grande. Ninguém disse que era fácil uma vida civilizada; fácil é viver na selva e seguir as leis dos selvagens.

Ele está certíssimo ao dizer que "uma coisa é argumentar teoricamente contra a tortura; outra é argumentar na prática."

Seu texto termina com um desafio:

Existem torturas e torturas? Muitos acreditam que sim. Eu acredito que não. Mas não discuto. Ou, melhor, discuto: mas só no dia em que os defensores das torturas "brandas" seguirem a honestidade de Hitchens e experimentarem, na pele, a "brandura" do que defendem.

Fair enough; fair enough. Mas permita-me também somente acreditar que alguém é irredutivelmente contrário à tortura quando a vida de um ente querido depender dela. Até então, igualmente, estaremos apenas no campo da teoria.

Eu, sinceramente, não garanto que iria segurar a onda.