No Selva vejo uma reportagem afirmando há maus chefes que recebem promoções em vez punições.
Honestamente, após vinte anos trabalhando em empresas nacionais e multinacionais, a conclusão à que chego é: isso é regra e não exceção.
Vou tentar fazer um resumo do que eu tenho observado:
Basicamente existe um corpo técnico responsável por fazer as coisas acontecerem, um time gerencial responsável pela coordenação e um time executivo responsável pelas estratégias.
O corpo técnico, que faz as coisas acontecerem, em geral possui a seguinte distribuição de profissionais:
1) Competentes
2) Medianos
3) Inexperientes ou fracos (carrgadores de piano)
Se a empresa vive numa disputa normal (isto é, sem ajuda do governo) ela procura pagar aos seus técnicos do grupo 1 o melhor salário que o mercado permite. O técnicos do grupo 2 ficam naquela faixa nebulosa e os do grupo 3 recebem uma mixaria.
O problema começa quando surge uma vaga gerencial. Obviamente para empresa seria melhor recrutar um profissional dos seus quadros em vez de um estranho. Aí começa o dilema,: em toda a minha vivência profissional, as chances do cargo ser ocupado por um profissional mediano são as maiores. Isso por dois motivos básicos (não necessariamente simultâneos):
1) A empresa, caso tenha um quadro técnico enxuto, teme perder um profissional capacitado que faz as coisas acontecerem. Isso acontece quando a empresa aposta na manutenção do técnico insatisfeito mesmo tendo ele perdido a promoção (caso, por exemplo, o salário seja bem superior ao do mercado).
2) A empresa, para aproveitar a chance de efetuar um corte de custos, quer que a pessoa assuma o novo cargo sem nenhum acréscimo salarial. É muito mais fácil um profissional mediano ou ruim aceitar uma oferta dessas (já que seria, para todos os efeitos, um reconhecimento) que alguém que já é reconhecidamente um destaque na sua posição.
Uma vez que um mau ou mediano profissional assuma um cargo ele sente aquela necessidade de demonstrar que merece a confiança que lhe foi depositada. Acontece que ele não tem capacidade para agregar nada (detesto essa expressão mas aqui não tem jeito) ao negócio. Tudo que ele sabe fazer é ser um capataz que força seus subalternos a seguirem as ordens superiores. Tudo que lhe resta é microgerenciar: se ater às miudezas do dia-a-dia, enconomizar clipes, papel, etc. E também, claro!, para aqueles capatazes de baixa auto-estima, nada como tornar a vida dos outros um pouco miserável para ver se a sua melhora um pouco.
Existe uma variação do mau gerente: aquele profissional tecnicamente competente que, para obter um aumento de salário (no caso cada vez mais raro da empresa oferecer) ou alguma regalia, acaba correndo atrás do cargo. É o clássico caso de "perder um ótimo técnico e ganhar um péssimo gerente". A empresa o nomeia mais como prêmio ou medo que ele saia da empresa desapontado, que por merecimento. O novo gerente, sem a menor vocação para a coisa, acaba se envolvendo em assuntos técnicos e sendo uma nulidade no quesito coordenação, o que faz de sua área um verdadeiro caos.
Ok, errar é humano e uma promoção dessas é um erro. Mas podemos consertá-los.
Sim, poderíamos mas estas decisões são tomadas por gerentes de níveis superiores que foram agraciados por Deus com o talento de nunca fazerem merda. É mais fácil um camelo passar num buraco de agulha que ouvir de um gerente sênior a expressão "Fiz merda!".
Resumindo, não há muita diferença entre o ambiente político e o das grandes corporações. Cada gerente cuida da sua área como se ela fosse seu feudo. A diferença é que na política quem arca com os prejuízos são os pagadores de impostos, enquanto que nas empresas são os acionistas.