12 agosto 2007

JP Coutinho

Para mim, um dos melhores colunistas da mídia brasileira. Mas ele é português e vive em Portugal. É de lá que presenteia com seus textos na Folha.

Existe uma diferença entre acreditar em tudo, acreditar em alguma coisa e não acreditar em coisa alguma.

Essa diferença tem sido ignorada desde o 11 de setembro de 2001 e Nick Cohen, jornalista britânico e um homem de esquerda, enfrenta o problema em livro recente ("What's Left? How Liberals Lost Their Way"): com a queda do Muro de Berlim em 1989 e o triunfo das economias de mercado sobre as variantes planificadas que apenas produziram miséria e tirania, as consciências "liberais" (ou seja, as consciências mais à esquerda) procuraram uma nova bandeira que as servisse. A bandeira foi rapidamente encontrada e erguida contra os Estados Unidos, independentemente dos atos praticados por Washington.

Se os Estados Unidos não agiam (como sucedeu, ao início, com os dramas do Timor antes da independência), Washington era acusado de isolacionalismo criminoso. Se os Estados Unidos agiam (como sucedeu no Afeganistão contra uma quadrilha reconhecidamente fanática), Washington era acusado de intervencionismo criminoso. Por ação, por inação -- o Mal tinha sempre nome e endereço.

E se falamos de Mal, falamos de Bem por contraste. Para Cohen, a falência do "socialismo real" não implicou apenas a demonização da América. Implicou a tolerância, e muitas vezes o apoio explícito, a ditadores ou terroristas que muito apropriadamente não falavam inglês. Contra a América, Saddam servia. Contra a América, o Taleban servia. Contra a América, Bin Laden servia. Porque os inimigos dos meus inimigos, meus amigos são. Ou não?

Nick Cohen recusa essa idéia infame e termina o ensaio com pergunta curial e até pessoal: como podem estas esquerdas recuperar a decência, depois da longa dança com ditadores e torcionários? A resposta, sem grande imaginação, talvez passe por separar as águas. Ou, mais especificamente, por não deitar fora o bebê com a água do banho.