"Preocupa-se com a ética pessoal quem tem caráter. Preocupa-se com a pública quem pode.
"Os brasileiros pobres prezam mais a moralidade pessoal que os ricos."
"Não é que os pobres não se importem com as bandalheiras dos políticos. Mas aí entra a necessidade pessoal. Primeiro o leite das crianças, com toda a razão."
Essas palavras do historiador José Murilo de Carvalho, publicadas hoje no Globo, resumem o - aham - racicíno da nossa intelectualidade.
O que é esse pensamento jurássico "pobre bom, rico mau"? Desde quando caráter é resultado da conta bancária? Um rico, conseqüentemente mau caráter, ficará bonzinho e honesto se perder toda a sua fortuna? O "pobrinho", anjo na terra, se tornará a encarnação do demônio se ganhar na loteria?
O historiador tem que se decidir: ou o pobre valoriza a moralidade pessoal ou acredita que vale tudo em nome da "necessidade pessoal" e acredita que "primeiro, o leite das crianças, com toda a razão".
Não dá para ser os dois.