02 abril 2006

Senso comum

O senso comum é uma coisa complicada. Se por um lado pode representar anos e anos de sabedoria popular, por outro, muitas vezes não passa da mera repetição de uma besteira que foi dita.

Vejamos a declaração "os imigrantes fazem o trabalho que os nativos se recusam a fazer". No contexto que ela é colocada, simplesmente é sem sentido. Ela dá a entender que há tipos de trabalho que os nativos se recusam a fazer porque são humilhantes. Ora, isso é non-sense. Os nativos que se recusam a fazer tais trabalhos o fazem porque:

(A) São qualificados para ganhar mais em outro trabalho, logo não há razão para desempenhar uma tarefa desgastante quando você sabe que alguém está disposto a pagar mais para você trabalhar menos.

(B) Recebem seguro-desemprego. Por que ralar para ganhar 1000,00 se o governo me paga 700,00 se eu estiver desempregado?

O melhor exemplo de que essa teoria do "nativo que não aceita certos tipos de serviços" é pura balela é que esses mesmos serviços são desempenhados por nativos que, por serem muitos jovens ou muito velhos, estão de alguma forma afastados do mercado de trabalho que remunera mais.

Por exemplo, nos EUA não é incomum ver adolescentes (que não possuem a experiência para obter melhores salários) e idosos (muitas vezes aposentados em busca de uma complementação da renda e também de ocupação) ocupando as tais posições que os nativos não querem.

Alguns empregos pagam tão pouco devido ao excesso de oferta de mão de obra imigrante - ilegal, diga-se de passagem - que deixaram de ser interessantes para os americanos que poderiam obter muito mais em outros tipos de trabalho. O próprios imigrantes, uma vez de posse do green card, se tornam elegíveis a empregos melhores e, assim como os nativos, também passam a recusar empregos de menor remuneração.

Esse negócio de que certos trabalhos são aviltantes (vivemos num país onde o trabalho é visto de uma forma peculiar, mas isso é outro papo) só é válido para quem tem alternativas. Quando não há jeito, só resta engolir o orgulho e partir para a luta. A gigantesca fila de candidatos a gari aqui no Rio de Janeiro é uma prova disso.