20 abril 2006

Em grande forma

O militante está em grande forma!

"Um ato de violência escandaliza, uma rotina de violência banaliza. A rotina da miséria brasileira acaba se integrando no cotidiano, funde-se com a paisagem e desaparece no nosso relativismo moral. É lamentável, e lamentada em todos os discursos e programas de governo, mas não é aterrorizante, pois quem pode viver em estado permanente de horror? E, no entanto, só o que diferencia a violência de uma invasão de terras da violência constante, rotineira, banalizada que a situação fundiária do país impõe aos sem-terras é o tempo. Uma é uma quebra de normalidade, a outra é a normalidade. As duas são reprováveis, mas a segunda é absolvida pela indiferença. Não tem o mesmo efeito espetacular, o mesmo horror concentrado.

Isto não é uma justificativa para atos de violência como alguns praticados pelos que lutam pela reforma agrária, mesmo porque a violência sempre acaba favorecendo a reação. É só um comentário sobre o escândalo seletivo de quem demoniza os sem-terras mas não se horroriza com a violência diária, antiga, arraigada nos seus costumes e valores, praticada pela sociedade mais injusta do mundo. Ou só se horroriza com a retribuição."

Atentem para o "mesmo porque a violência sempre acaba favorecendo a reação". Ou seja, o problema da violência é sua ineficiência. Mas ele não precisa se preocupar: o governo federal está cuidando direitinho para que as reações sejam desencorajadas, abrindo caminho para a utilização da violência sem limites.

O - velho - truque do autor é o seguinte: ele pega uma situação contra a qual seu aliado ideológico luta e a define como violenta (no caso, o latifúndio). Como seu aliado ideológico usa meios reconhecidamente violentos, ele alega que são ambos lados da mesma moeda e que ambos estão igualmente errados, quand0 na verdade somente um está. Isso acaba suprimindo a indiginação das pessoas com o movimento aliado e desencorajando reações, pois confere às ações a legitimidade de quem reage a uma agressão.

Ou seja, quando ele diz que não está justificando a violência do movimento, ele só está fazendo aquilo que sabe fazer melhor: mentir.