Já tive alguns debates acalorados com discípulos de Ayn Rand. Nem tanto pela dita cuja, mas mais pela fraqueza dos silogismos que muitos deles faziam quando queriam debater o objetivismo. Claro que o problema pode ser meu, devido à falta de algum conhecimento necessário para o entendimento dos tópicos expostos, mas o debatedores também pareciam não dominar o assunto.
Por exemplo, Peter Schwartz, figurão do Insitituto Ayn Rand, escreve um texto procurando mostrar que a moral não tem origem na religão e muito menos no secularismo. Segundo ele, a moral é fruto da racionalidade. Vejamos seus argumentos:
"The real alternative to the leftist claptrap is a morality of reason. Such a morality begins with the individual's life as the primary value and identifies the further values that are demonstrably required to sustain that life."
Se minha vida está acima de tudo ("primary value"), então posso e DEVO fazer de tudo para que ela não seja de forma alguma prejudicada. Não vejo por que excluir o roubo, por exemplo.
"With reason as its cardinal value, this code of individualism espouses fixed principles and categorical moral judgments. It demands, for instance, that the initiation of force--the antithesis of reason--be denounced and that an unbridgeable moral chasm be recognized between the criminal and the non-criminal."
Aqui, sinceramente, não entendi: por que a força é antítese da razão? Agir racionalmente muitas vezes siginifica aplicar a força.
"Since life requires man to produce what he needs, productiveness is a moral value--thereby making moral opposites out of the industrious worker and the parasitic welfare recipient."
Novamente não entendi de onde ele tirou que a vida exige que o homem produza o que ele precisa. A vida só exige que o homem TENHA o que ele precisa. O estômago não se importa com a procedência da comida, apenas com o fato dela estar lá.
"Since life requires man to use his own judgment rather than submissively accept the assertions of others, independence is a moral value--making moral opposites out of the person (or nation) acting on his own rational convictions and the one deferring to the consensus of his neighbors (or the U.N.)."
Concordo que a independência é uma coisa boa, mas se é para ser independente não devemos sê-lo inclusive para aceitar afirmações de quem quisermos? Impedir que façamos isso não seria um atentado contra nossa independência?
"There is indeed morality without religion--a morality, not of dogmatic commands, but of rational values and of unbreached respect for the life of the individual."
Talvez sim, mas me parece que tudo que Peter fez foi criar um novo conjunto de dogmas. Converso com algumas pessoas muito religiosas e nenhuma delas me parece menos racional que a média de todos nós. A única diferença entre elas e um ateu é a premissa: para os primeiros Deus existe, para os últimos, não.
Portanto, meu ponto é que, ainda que Peter discorde das premissas dos religiosos, ou seja, da existência de Deus, ele deveria analisar se as conclusões obtidas são racionais ou não. Logicamente falando, a incorreção de uma premissa não implica a irracionalidade das conclusões. É possível chegar a conclusões perfeitamente racionais - e erradas - partindo-se de premissas erradas.
Talvez Ayn Rand não tenha lido Mises.