02 abril 2006

Menos que Homer


Faz um tempo houve uma celeuma envolvendo o apresentador e editor-chefe do telejornal William Bonner que, numa reunião para definição de pauta, fez referências ao telespectador como "Homer Simpson". Isso na presença de professores universitários.

Houve um disse-me-disse e no, final das contas, Bonner, aparentemente bem mais sagaz que os professores, acabou saindo por cima.

O fato é que, a julgar por algumas reportagens que vemos por aí, acho que muitos jornalistas acreditam que escrevem para amebas incapazes de qualquer raciocínio, por mais banal que seja.

Por exemplo, vejamos esta manchete da
Folha:

"Crítica a Bush gera suspensão de produtor de TV nos EUA"

O leitor, claro!, vai pensar "Esse @#$#@ do Bush é mesmo vil!" com toda razão. Afinal de contas, tudo leva a crer que a "administração Bush" forçou o afastamento do produtor, violando o sagrado direito à livre expressão protegido pela Constituição americana.

Mas a coisa não foi bem assim. O leitor que apenas dá uma passada rápida de olhos no site da Folha jamais saberá mas aquele que estiver disposto a perder um minuto verá que:

"Além disso, em outro e-mail, Green escreve que Albright não devia ser convidada para o 'Good Morning America' por ter origem judaica."

E ainda:

"Jeffrey Schneider, porta-voz da ABC, disse que 'ninguém está tão envergonhado como o próprio Green pela divulgação destas mensagens e pelo dano que sua publicação causou a seus colegas e aos protagonistas. John é o primeiro a afirmar que isto foi uma lição, e pede perdão'."

Fica claro que o motivo do afastamento foi disciplinar, principalmente pelo caráter anti-semita dos comentários. Se tem algo que a ABC jamais iria querer é desgradar a nada pequena população judaica dos Estados Unidos, correndo assim o risco de perder patrocinadores.

Mas o pobre Homer, que leu apenas a manchete, vai seguir o resto da vida pensando que Bush bateu na mesa, disse "Foda-se a Constituição" e mandou detonar o produtor.

Hmm, déjà vu...