Horas antes desse discurso, o diretor-geral da OMC havia informado, num encontro com jornalistas, não ter tido ainda nenhum contato com o governo Obama. Diplomaticamente, procurou amaciar essa informação: afinal, ponderou, o governo é novo e o nome indicado para ser o negociador comercial dos Estados Unidos ainda nem foi aprovado pelo Congresso. Mas o indicado, Ron Kirk, ex-prefeito de Dallas, não tem experiência no setor e é vagamente descrito como favorável ao livre comércio.
De Washington, a única notícia concreta sobre política comercial, nesta semana, foi negativa. O pacote de estímulo fiscal de US$ 819 bilhões aprovado pela Câmara tem uma cláusula restritiva: ficará sem acesso ao dinheiro quem realizar obras de infraestrutura com ferro ou aço importado. O mundo terá de engolir "pelo menos provisoriamente" essa decisão, disse em Davos o senador Brian Baird, do partido de Obama.
Talvez não se possa, a partir desses fatos, formular conclusões seguras sobre como será a diplomacia econômica do novo governo americano. Com o país atolando na recessão e o sistema financeiro ainda sem mostrar o fundo do seu poço, é compreensível a prioridade atribuída pelo presidente à agenda interna. Mas essa agenda não envolve todo o governo. Além disso, ele teve tempo suficiente, desde a campanha, para definir uma orientação econômica internacional. Não se poderia esperar menos que isso de um aspirante ao governo da economia mais importante do mundo.
Claro que ainda é cedo demais para admitir isso.