No auge do Napster, você podia baixar praticamente qualquer música para o seu computador. E não precisava se esforçar muito para colocá-las em seu mp3 player ou gravá-las em um CD. Ambos os métodos permitiam ao usuário apreciar músicas em qualidade tão alta quanto a de um CD, mas sem ter que gastar dinheiro nenhum com isso.
Os críticos do Napster argumentavam que o Napster era um roubo. E, embora os fãs de música adorassem o Napster, os críticos diziam que um Napster próspero, legal e acessível, no fim das contas, puniria os próprios fãs. Se o Napster fosse legal e difundido, as vendas de discos zerariam e isso destruiria os incentivos para quem quisesse ser músico. O Napster significaria o fim da comunidade musical profissional.
Segundo essa visão, a única razão para alguém comprar um CD no auge do Napster era por não saber da existência dele ou por não ter acesso à banda larga. Os críticos venceram nos tribunais, o Napster perdeu força na internet e vem sofrendo uma morte lenta.
Mas será que aquele velho mundo, onde o Napster operava livremente, era mesmo o mundo do roubo? Eu não sei. Mas eu defendo uma tese segundo a qual o uso de tribunais para fechar servidores como Napster pode, no fim das contas, prejudicar os amantes da música, mesmo aqueles que, como eu, nunca usaram o Napster. Em outras palavras, eu defenderia que furtar músicas pelo Napster poderia, na verdade, aumentar a receita da indústria musical beneficiando os amantes e os criadores da música.
Afirmo isso, mesmo aceitando a visão de que o Napster era uma forma de roubo. Mas como poderia ser possível o Napster beneficiar a indústria da música?
O furto via Napster aparentemente destruiria a indústria musical. As pessoas respondem a incentivos. Certamente, a música gratuita sobrepujaria a música cara. Se for mais barato roubar música do que pagar por ela, as pessoas irão roubá-la. Mas a história não é tão simples assim.
Nós sabemos que o risco de ser pego e punido não é a única razão pela qual as pessoas pagam legalmente por um produto, em vez de roubá-lo. Existem outros custos no roubo, além dos custos monetários. Algumas pessoas se sentem culpadas por obterem algo sem dar nada em troca. A cultura e as leis podem ser usadas para encorajar um comportamento socialmente útil.
Afinal, as pessoas dão gorjetas em restaurantes e em taxis, e a freqüência de suas visitas não parecem ser explicações suficientes para tamanha generosidade. As pessoas escolhem não jogar lixo no chão, mesmo na trilha deserta de uma montanha. As pessoas votam, mesmo que os economistas continuem a afirmar que votar não é racional.
Em todos esses casos, as pessoas agem de acordo com uma gama mais ampla de custos e benefícios do que apenas os custos monetários diretos. (E, claro, algumas pessoas dão pouca ou nenhuma gorjeta, algumas jogam lixo no chão e o comparecimento nas urnas não é de 100% da população em uma sociedade livre).
Assim, embora o uso difundido de servidores como o Napster realmente causem dano às vendas da indústria musical, algumas perdas podem ser aliviadas pelas normas sociais e pela cultura. Há, de fato, uma perda de renda para os músicos, já que muitas pessoas simplesmente não pagam. Porém, muitas pessoas ainda pagarão por música. Há quem utilize esses servidores para experimentar algumas músicas antes de comprá-las.
Entretanto, as normas sociais nem sempre são eficientes. É possível que elas fracassem em deter efetivamente os ladrões de música. Na verdade, as normas sociais no auge do Napster foram em direção oposta. As pessoas reivindicavam um direito à música gratuita.
Mas é possível que mesmo que a opção da norma social fracasse completamente, os músicos e a indústria musical ainda tenham sucesso, caso se permita que servidores como o Napster operem livremente. Se fosse permitido ao Napster prosperar, é possível que novas tecnologias teriam sido criadas para permitir aos músicos cobrarem por seu trabalho ao mesmo tempo em que os consumidores teriam se beneficiado das oportunidades de acesso fornecido pelo Napster.
Assim como o socialista que imagina que as pessoas trabalhariam sem incentivos, este texto sugere que as pessoas pagariam por um produto se tivessem como obtê-lo fácil e legalmente "de grátis". Curioso é que o autor do texto não aplica sua teoria quando a propriedade intelectual é dele. Ele bem que poderia vender seus livros no esquema "Faça o download e pague o quanto você achar que deve" (se houver links disponíveis para download desses livros que passaram despercebidos, por favor me avisem. Terei o prazer de fazer a correção).
Por favor, antes de dizer "ah, mas os livros têm custos de impressão, revisão, etc." lembre-se de que uma música para ser gravada com qualidade requer um bom stúdio, equipamentos, equipe técnica, etc.