07 setembro 2006

Cultura e mercado

"Conseguir um lugar ao sol no horizonte que se anuncia para o próximo século, dependerá muito mais de nossa capacidade deproduzir inteligência. Este é o caminho, a alternativa das alternativas; a produção e o investimento no pensar, no saber, no olhar aguçado e agudo sobre o que nos interessa neste quadro e o que não nos servirá. O investimento na educação deverá se dar de tal forma que possa equiparar-lhe, em importância, ao poder de sedução exercido pelos mecanismos publicitários. A pesquisa é absolutamente necessária, mesmo e, principalmente, a que não resulta em sucesso e eficácia comercial. Antes mandava-se um texto para a polícia federal, hoje ao patrocinador. Antes obedecia-se aos interesses ideológicos do poder, hoje aos interesses mercadológicos. É preciso desvincular a produção intelectual da noção de sucesso em massa. Uma doença rara não venderá muito remédio, mas saber lidar com ela é, em última análise, conhecer mais sobre o corpo e avançar a medicina. Não haverá saúde pública enquanto a medicina servir ao lucro privado."

Este trecho foi tirado de um
texto do Leo Jaime publicado, sei lá quando, no Globo. Nada tenho contra a figura do Leo Jaime - pelo contrário, fui em muitas festinhas na década de 80 embaladas pelas suas músicas - mas o texto veio parar na minha caixa postal e como eu já estava querendo falar sobre o assunto, ele vai servir de exemplo.

Todo o parágrafo, aliás todo o texto, pode ser resumido na parte em vermelho.


O que examente a frase quer dizer? Que a produção intelectual vai ser gratuita? Que o produtor intelectual vai ceder seu tempo e labor gratuitamente para que brasileiros adquiram cultura?

Claro que não.

Basicamente, "desvincular a produção intelectual da noção de sucesso em massa" significa que o artista não precisa agradar a ninguém para que ele seja remunerado pelo seu trabalho. Bastam alguns bons contatos com empresas estatais ou políticos e a verba está garantida. Sem exigência de qualidade, aprovação dos consumidores, etc.

Sim, é triste ouvir o tipo de música que toca nas rádios hoje em dia mas elas tocam porque o público quer. É de uma arrogância sem par querer decidir pelas pessoas que música elas devem ouvir, a que filmes e peças devem assisitir ou que livros devem ler.

O artista que não quer se submeter ao mercado e exige financiamento estatal, quer que nós paguemos pelo seu trabalho, gostemos ou não dele.

É como se fosse um funcionário público cujo emprego e salário independem da qualidade e utilidade do serviço prestado.

Eis um exemplo via FYI.