“Uma das razões pelas quais a escola pública foi se deteriorando é porque grande parte da classe média se afastou dela. Para não brigar [por qualidade], decidiu colocar os filhos na escola particular. E pagar na mensalidade de 3º ano primário o mesmo preço de uma universidade particular”.
A classe média, em todos os países de mundo, tem uma grande importância na sociedade. Primeiro porque é ela que financia majoritariamente o Estado (pobres e ricos, por motivos distintos, escapam da tunga) e segundo porque é ela que serve de espelho para as classes mais pobres. Quando a classe média passou a prestigiar (para parecer cool e progressista. Maldito homem-massa!) políticos ditos de esquerda, rechaçar (também para parecer cool e progressista. Maldito homem-massa) qualquer imposição de limites e valores morais e, ao mesmo tempo, abandonar o conceito de meritocracia, as coisas começaram a ruir numa velocidade espantosa. Hoje, pelos hábitos, é muito difícil distinguir um adolescente de classe média de um de classe baixa.
Voltando ao post do Reinaldão, é óbvio que nenhum pai em sã consciência hoje colocará seu filho numa escola pública se puder pagar (ainda que com algum sacrifício) uma escola particular. A crítica de Reinaldo ao fato de Lula se ter colocado seu filho numa escola particular, neste caso não procede, ao meu ver.
Dado o caráter classista dos discursos de Lula parece claro que seu objetivo é jogar classes contra classes. Mas a classe média é tão imbecil que, mesmo sendo atacada, ainda assim vota em políticos que não escondem o desprezo que sentem por ela. Qualquer um que proclame que universidade é lugar para os melhores, que o acesso à universidade não deve ser motivado por questões raciais ou econômicas, que os professores de todos os níveis devem ser avaliados, que priorize a meritocracia, que evoque a igualdade perante o Estado, enfim, essas coisas reacionárias, é logo demonizado, pois o eleitor de classe média (vide a maciça votação de Jandira Feghali na Zona Sul carioca) que ser progressista e moderno, custe o que custar.
Este verdadeiro tiro no próprio pé ocorre porque, abraçando o jeito proletário de ser, mas ainda almejando ser uma elite, só restou à classe média consumir opinião da intelectualha nacional. É incrivelmente raro ouvir de alguém da classe média algo que não tenha vindo diretamente das bocas de alguma celebridade formadora de opinião. Quantas conversas (inúmeras comigo) não começam com "Não sei se vocês viram ontem no Jornal..." ou "Não sei se vocês leram esta semana na revista..."?
Resumindo, esta classe média que temos aí hoje (diria até que uma vítima de classes médias de décadas passadas), abriu mão há tempos de ser uma elite. Ela quer parecer elite e faz isso do único jeito que lhe parece possível: comprando coisas, ostentando. Vota, por absoluta ignorância, em políticos cujo objetivo declarado é tungá-la, demonstrando não apenas ignorância mas também burrice. Acostumada a não se envolver em nada (nem mesmo na criação dos filhos! "Pago para não me aporrinhar!") não acompanham os eventos que influenciam a sua vida. Acham que basta pagar seus impostos e sua parte na tal democracia está feita.
Pode ser que culpa seja uma palavra forte, mas eu acho que a classe média tem sim responsabilidade - dado o seu importante papel na sociedade - em muitos dos problemas que temos relacionados à administração pública. Não pensem, porém, que isso é só aqui. Essa proletarização da classe média não é privilégio nosso. Aqui o processo me parece só mais intenso.