13 abril 2009

Princípios

Não é raro ver nos debates que envolvem decisões morais uma distorção, intencional ou não, do conceito da palavra princípio.

Princípios nos servem como uma bússola moral para guiar nossas ações. Assim como a bússola, o princípio nos indica o caminho certo a seguir. Fazer isso ou não, porém, depende do viajante.

Mesmo que acreditemos em um conjunto determinado de princípios, somente saberemos ser capazes de nos manter fiéis a eles quando uma situação real se coloca diante de nós. Até lá, tudo o que temos é a direção que acreditamos ser a correta. Um exemplo simples: sou contra o aborto, mas somente saberei se sou forte o bastante para me ater a este princípio, quando uma situação real da vida me colocar numa encruzilhada que me faça escolher um caminho.

O ser humano, entretanto, é um bicho esquisito, dotado de certos mecanismos psicológicos que visam a proteger sua auto-imagem. Diante da constatação da impossibilidade se ater a um dado princípio, em vez de assumir sua fraqueza e tentar se fortalecer para encarar as próximas encruzilhadas que a vida lhe proporcionará, pode-se às vezes seguir o caminho mais fácil: abandonar o princípio.

No final das contas cada indivíduo apenas se atém aos princípios aos quais ele consegue manter-se fiel. Não precisa se gênio para saber onde esse tipo de relativismo leva uma sociedade, principalmente no que diz respeito à elaboração de cartas magnas.

É comum aquele que não consegue se manter fiel a um princípio ser acusado de hipócrita. Essas acusações partem, freqüentemente, daqueles indivíduos que já abandonaram o mesmo princípio em algum momento de sua vida (*). Esta é uma acusação é muito comum em debates envolvendo militantes ateus e religiosos, com os primeiros pretendendo de atacar os princípios que fundamentam uma determinada religião. Isso é uma tolice, grande demais para não ser encarada como má-fé se a pessoa que a profere é razoavelmente inteligente.

(parênteses anti-idiotas: não estou dizendo que todo ateu critica a religião nessas bases e nem que um ateu não possa se ater a princípios)

Hipocrisia é apregoar uma qualidade que não se tem, não acreditar que um princípio é correto mesmo quando não se consegue segui-lo. Se afirmo que o aborto errado e, diante de uma situação da vida, eu o pratique, o que vai me definir como hipócrita será o fato de eu afirmar que “nunca pratiquei aborto”. Se eu reconheço a validade do princípio e reconheço minha fraqueza em não segui-lo, isso não faz de mim um hipócrita, mas apenas humano.

Princípios são tão importantes para uma sociedade que constituem uma das primeiras coisas a serem demolidas por movimentos revolucionários. Eles são o que mantém unido o tecido social, orientando a relação entre os indivíduos. Quando essa “cola” desaparece, certo ou errado será aquilo que alguém, com poder forte o bastante para impor-se aos demais, disser que é certo ou errado. Quem será? Quem será?

(*) “O grande prazer do devasso é arrastar à devassidão” (André Gide)