11 abril 2009

Dedo-duro

De um modo geral eu tenho certo desprezo por aqueles que vivem de fazer denúncias. Por alguns motivos muito simples:

1) Quem vigia o vigilante? Um exemplo claro disso é que, nas ruas que circundam a sede do jornal "O Globo" no Rio de Janeiro, há placas afirmando que as vagas de estacionamento ali são exclusivas do jornal e não me recordo de ter visto uma só vez uma notinha no Alcemo Gois, tão dedicado vigilante das ruas cariocas, algo a respeito disso.

2) A popularização desta cultura de deduragem faz esmorecer a confiança entre as pessoas e cria um ciclo de vitimização que resulta numa sociedade onde todo mundo de acha vítima do seu próximo.

Finalizando:

3) Normalmente quem dedura não quer saber do contexto da infração. Muitas vezes, como podemos ver aqui, quer apenas passar por cidadão exemplar.

Sobre este último exemplo posso falar bastante porque moro perto do bar mencionado. Primeiro vamos levantar o histórico da situação: naquele trecho da Av. 28 de Setembro, em dia de clássicos sempre, SEMPRE, há pancadaria generalizada entre torcidas organizadas, não raro com a ocorrência de tiroteiros, explosões de bombas caseiras e interrupção do tráfego da avenida.

Pois bem, diante deste cenário perturbador, o dono do bar, de um tempo pra cá, se viu diante de duas opções:

1) Não fazer nada, deixando seus clientes e seu estabelecimento à mercê dos bárbaros - são muitos mesmo. A coisa é assustadora a ponto de eu programar meus horários de saída e chegada de acordo com o horário de término dos jogos.

2) Tentar proteger, de alguma forma, seu estabelecimento e seus clientes. Os prédios daquele trecho já fizeram algo, colocando portões antes da entrada principal para tentar impedir o acesso dos vândalos aos prédios.

Obviamente o dono do bar optou pela segunda alternativa, cercando um perímetro do bar com as grades que aparecem na "reportagem." Curiosamente outro estabelecimento faz a mesma coisa poucos metros adiante na mesma rua e o intrépido "repórter" não registrou. Vale lembrar que isso é uma solução que está longe de ser 100% eficaz, dada a selvageria que já presenciei naquele trecho.

A localização do bar fica numa esquina da Av. 28 de Setembro com a rua Felipe Camarão. No trecho da Av. 28 de Setembro, via extremamente movimentada, as grades são colocadas de forma a não impedir a circulação de pessoas. A rua Felipe Camarão, no trecho em frente ao bar, é praticamente uma rua de pedestres, usada mais como estacionamento. A circulação de carros ali é mínima. Portanto, o bar não expõe os pedestres a risco de morte como disseram alguns bons cidadãos indignados. Na verdade, mesmo sem as grades, vários pedestres optam por circular pela rua mesmo. Não estou justificando nada, apenas ilustrando as coisas como elas são.

Quando você cria uma cultura de vitimização, as pessoas passam a chorar e reclamar mesmo sem saber do quê. Nos comentários da "reportagem" vi reclamações sobre as cadeiras na calçada. O bar tem licença para colocar cadeiras na calçada. Ainda assim o trecho que fica para circulação de pedestres é bem maior do que eu vi em muitas calçadas em frente aos cafés de Paris que todo mundo acha um charme (e são mesmo!).

Um outro cidadão consciente reclama que o bar colocou vasos de plantas junto ao meio-fio em um trecho da calçada que dá para a Av. 28 de Setembro, tornando difícil atravessar a rua ali naquele ponto. Ora, meu caro cidadão consciente dos seus direitos, no trecho mencionado, além de ser perigosíssimo atravessar, não há faixa de pedestres nem semáforo. Por que um cidadão consciente como você iria querer atravessar ali? Provalmente estes vasos salvaram as vidas de alguns idiotas.