29 novembro 2008

Procurando entender

(Isso não é retórica. São peguntas que realmente me faço. Confesso, porém, que minha opinião pende para o lado da transcendência do ser humano, embora eu não tenha uma religião)

Premissa: Deus não existe, não existe nada após a morte e tudo está limitado ao curto período de nossa existência.

Aceita essa premissa, me parece completamente irracional alguém aceitar viver de acordo com quaisquer regras estabelecidas pela sociedade que venham a impedir a satisfação dos seus desejos imediatos.

Esta é uma questão que volta e meia freqüenta minha cabeça. Já ouvi argumentos do tipo "Ah, então um crente é bom apenas por medo ser punido por Deus?" Minha resposta foi "Sim, e qual a sua desculpa?"

Claro que há um código penal que nos pune por crimes cometidos, mas é preciso que nos peguem primeiro. Se não há um conjunto de valores universais e absolutos, criminosos de todos os tipos seriam, na verdade, heróis que lutam contra um sistema que visa a punir os seres humanos que tentam ser plenamente felizes.

Se eu vejo uma mulher bela na rua, por que não estuprá-la e saciar meu desejo?

Se eu vejo um objeto que desejo por que não tomá-lo do seu dono?

Se eu posso matar aqueles que me ofendem de algum modo, por que não matá-los?

Para essas perguntas, já ouvi uma resposta até razoável: "Se todos fizessem isso o mundo seria um caos." De acordo, mas e daí? Os mais fortes prevaleceriam. Para eles é suficiente.

Mas ainda assim a resposta não explica por que atos como os acima são repugnantes mesmo para aqueles que acreditam que não passamos de um pedaço de carne com prazo de validade. Racionalmente falando, não há por que um ateu ficar indignado com um estupro, com um assalto ou um assassinato. Tudo que os criminosos fazem é violar um conjunto de regras arbitrariamente impostas e com as quais eles não concordam. Sob o ponto de vista a-vida-é-uma-só, essas pessoas deveriam até ser admiradas pela sua coragem em enfrentar a sociedade na busca pela sua felicidade. Um crime, por mais hediondo que fosse, deveria ser visto meramente como uma violação de um pacto social. Mas não é o que geralmente acontece: mesmo para os ateus, crimes hediondos causam uma revolta incompatível com a idéia de que não há nada de sagrado na vida humana.

Resumindo, está sendo lógico o crente que evita praticar atos criminosos com medo da punição do Deus em que acredita. Mas não compreendo um ateu que não sai por aí tomando tudo aquilo que deseja e que vive de acordo com regras estabelecidas por terceiros, que fazem nada mais que privá-lo da felicidade plena.

Isso me leva a uma conclusão inicial: se um ateu não for alguém disposto a matar, roubar, estuprar, escravizar, etc. pela sua felicidade ele jamais conseguirá viver numa sociedade plenamente atéia. Irônico, não?

A reflexão continua...