01 abril 2007

A colméia

Acho que um sintoma de sociedades que estão constantemente flertando com o totalitarismo é aquele sentimento de cada um de fazer parte de uma colméia ou colônia. Quanto menor é a realização de alguém como indivíduo, creio que com mais intensidade ele se entrega a um grupo que o defina e que lhe confira alguma qualidade, mesmo que falsa.


É impossível não pensar nisso toda vez que leio comentários de brasileiros sobre seus compatriotas. O produtor da série Loser, digo Lost, resolveu tirar um ator brasileiro do elenco? A colméia se rebela. Alguém, em algum lugar do planeta, criticou o Rio de Janeiro? A colméia reage enfurecida. Um gringo criticou a boa forma da mulher brasileira? Pau nele!

É como se todos fossem habitantes da coletividade Borg, uma colônia de ciborgues composta por indivíduos (ou ex-indivíduos) que, após assimilados, passaram a fazer parte de uma consciência coletiva. Curioso é que vejo muitos casos de pessoas que defendem o "Brasil" enquanto entidade abstrata e fazem tudo que lhes é permitido para que o Brasil real seja uma merda. São incapazes de perceber (ou percebem mas não dão a mínima) que o Brasil será tão bom (ou ruim) quanto o conjunto de indivíduos que aqui habitam.


Uma curiosidade é como os Borgs do seriado se definem:

According to their spokesman (...), the Borg only want to "raise the quality of life" of the species they "assimilate."

Claro.