11 fevereiro 2007

There's no hope - II

Duas notícias dão a exata idéia do porquê chegamos onde chegamos:

Esta:

RIO - Cerca de 300 pessoas se reuniram num ato público organizado pelo movimento Rio de Paz contra a violência, na Praça da Cinelândia, Centro do Rio. A iniciativa tem por objetivo protestar publicamente contra o estado de violência do Rio de Janeiro. Batizado de “Luto pelo Rio”, o evento seria todo realizado em silêncio, "como expressão de indignação e tristeza por tudo o que tem sido visto nos últimos dias na cidade" segundo seus organizadores, não fosse a passagem do Bloco Cordão do Bola Preta, que vinha sambando da Praça Tiradentes e chegou até a Cinelândia.

E esta:

RIO - O bloco Simpatia é Quase Amor levou, pelo menos, 10 mil pessoas à Praia de Ipanema no último sábado antes do carnaval. De acordo com os organizadores, o número de foliões foi maior, chegando a 15 mil.

Não adianta: o selvagem é incapaz de apreender relações de causa-efeito com muitos encadeamentos. Somente eventos simples, do tipo bateu-doeu ou queimou-doeu, são plenamente assimilados. Parece que poucos se vêem como um João em potencial. Assim como o veadinho que vê seu irmão ser devorado pelo leão não imagina que amanhã ele poderá estar no cardápio se algo não for feito.

Mas para o selvagem não há nada a ser feito, a não ser torcer para não ser a bola da vez. Mas se for, what the hell!, faz parte do jogo. Ele só não pode deixar de curtir sua cervejinha e seu sambinha.

Eu acho que muitos dos problemas que nós brasileiros temos estão relacionados, em algum grau, com nossa total ignorância a respeito de conceitos básicos de economia. Principalmente a respeito dos incentivos.

Repito: incentivos!

Como ignoramos totalmente esse conceito tão básico, não sabemos como dar os incentivos que resultem em algo positivo e cessar aqueles que resultem em danos à sociedade. Na verdade, ainda que acidentalmente, fazemos até o contrário: damos incentivos para que se cometa mais crimes; damos incentivos para que se viva na ilegalidade; tiramos incentivos para que as pessoas sejam empreendedoras; tiramos incentivos para que as pessoas estudem; tiramos incentivos para que os políticos defendam nossa agenda (mesmo que ainda continuem roubando); damos incentivos para gravidez infantil; enfim, a lista é interminável.

Os poucos incentivos corretos que temos são praticamente acidentais e, portanto, estão sempre sujeitos a desaparecerem pelas mãos de algum político, mal-intencionado ou não.

Se tem uma coisa que nenhuma sociedade pode prescindir, sob pena de sucumbir no atoleiro, é de noções básicas de economia. Dia após dia pagamos o preço dessa ignorância e o pior é que a conta só vai aumentando.