10 dezembro 2005

Dever de casa

Tá aqui um dever de casa para os fiés leitores deste resmungódromo: usar o método de extrapolação ao absurdo para questionar a argumentação deste artigo.

Nele o autor não questiona o princípio moral do aborto, tentando encontrar algo que o justifique ou o reprove. Sua justificativa para o aborto é:


"Os ricos também têm acesso, caso algum destes métodos falhe, ao aborto seguro feito em clínicas sofisticadas e caras que fazem uso de ultra-som, sedativos, anestesia e adotam as técnicas de sucção de última geração. Raramente uma mulher rica engrossa as estatísticas da mortalidade materna, em primeiro lugar, porque consegue evitar a gravidez indesejada, em segundo lugar, porque tem meios eficazes para realizar a interrupção voluntária da gestação."

Então, basicamente, o ponto central do argumento é: se um grupo consegue praticar um ato (digamos que os valores da sociedade na qual esse grupo vive considere tal ato ilegal) mas consegue fazê-lo burlando a legislação vigente, logo esse ato deve ser liberado para todos os cidadãos.


Vamos levar esse argumento ao absurdo: ricos conseguem resolver conflitos com seus desafetos contratando pistoleiros para assassiná-los de forma limpa que não incrimine os mandantes. Já os pobres, que não têm acesso aos serviços caros dos pistoleiros, ou tem que se submeter aos desafetos ou resolver as diferenças eles mesmos, ficando a mercê do código penal.

Solução: como ricos conseguem praticar o assassinato e sair impunes e os pobres não, o único jeito de garantir essa "cidadania" aos pobres é liberar o assassinato para todos.

Absurdo não? Mas não fui eu quem começou :-)

Eu sou contra o aborto, pró camisinha e pró qualquer outro método anticoncepcional voluntário que exista ou venha a existir. Então por que o autor não reconhece a existência desse grupo intermediário?

"Todavia, tanto a Política de Direitos Sexuais e Reprodutivos quanto o projeto da Comissão Tripartite estão sob ataque do fundamentalismo religioso, que é contra a distribuição de camisinhas, os métodos anticoncepcionais modernos e contra a legalização e a descriminalização do aborto."

Segundo ele, o único grupo que é contra sua proposta ab*rt*sta (censura do revisor, orientada pelo departamento jurídico deste Blog) é o grupo dos fundamentalistas religiosos que querem banir, além do aborto, toda e qualquer forma de método anticoncepcional e, se possível, o consumo de Haagen-Dazs.

Por que não reconhecer que existem pessoas não-católicas que são, por questões de princípios éticos, contra o aborto?

Esquecimento? Lapso? Duvido muito...