09 agosto 2008

Bananense e estado de direito são como água e óleo

Esta semana o STF determinou que os tais "fichas-sujas" não poderiam ter suas candidaturas impugnadas se os processos contra eles não tivessem sido levados até a última instância que a nossa lei permite.

Gritaria total: é o STF dando cobertura para os corruptos! Pouca vergonha! País de safados!

Não exatamente. É muito tentador, neste cenário de corrupção generalizada que assola o país, que tenhamos simpatias por medidas justiceiras como esta que o STF não acatou. É mais comum ainda que todos se vejam como os últimos dos honestos e que ninguém mais presta.

Vi uma "especialista" (deveriam aproveitar a reforma ortográfica e fazer com que, no Brasil, a palavra especialista fosse sempre escrita entre aspas) na Globonews dizer que o STF optou pela precaução e adotou a presunção de inocência como diretriz (aham... Não foi o STF que optou por isso, foi uma coisinha chamada Constituição), o que ela respeita mais discorda.

Que acadêmicos como ela, jornalistas e formadores de opinião discordam dos vários dispositivos de proteção do indivíduo, característicos do bom e velho estado democrático de direito, não é surpresa nenhuma. Basta ver o oba-oba olímpico e as raras críticas à China que vemos por aqui. Afinal, o que são alguns milhões de mortos, milhares de presos, perseguição e opressão quando o país figura lá no topo do quadro de medalhas?

Se a manutenção destes dispositivos significa também a proteção ao direito dos canalhas "errados", eu pago o preço. Porque quando estes mecanismos forem abolidos e os canalhas "certos" tomarem o poder (hipoteticamente, eh eh eh) a única coisa que ficará entre mim e o governo será a Constituição.

E, afinal de contas, sempre cabe ao eleitor o poder último de não escolher candidatos que não lhe transmitam confiança. E nem precisa esperar decisão do STF.

Mas aí dá trabalho demais, né?