06 janeiro 2008

Cultura nômade

E lá vão as pessoas aprendendo (será?) do pior jeito possível: sentindo na pele os efeitos de teorias esdrúxulas.

Não durou nem seis meses a alegria dos comerciantes que montaram bares e lanchonetes no entorno do Estádio Olímpico João Havelange, o Engenhão, no Engenho de Dentro. Com o término dos Jogos Pan-Americanos, em julho, todos esperavam lucrar com os jogos de clubes do Rio ou em eventos organizados no estádio. Mas, em vez disso, o Engenhão foi abandonado e os clientes antigos, moradores do bairro, voltaram a ser a única fonte de renda.

- O bairro não tem atrativo. Nossa esperança sempre foi um aumento das vendas com a construção do estádio. O Pan foi ótimo, mas o sonho acabou e tudo voltou a ser como antes. Fora do estádio não existe estrutura e, lá dentro, não acontece nada, os portões só ficam fechados - reclama o comerciante João Carlos Ramos, dono de um bar no bairro há mais de 16 anos.

No meu tempo de garoto - eu morava em um bairro próximo ao Engenhão - havia um razoável comércio local. Tínhamos um supermercado Guanabara, açougue, lanchonetes, papelaria!, etc. Não porque havia um estádio de futebol por perto ou qualquer outra atração, mas porque o bairro era decente o bastante para receber famílias de classes média e média baixa como a minha.

E até mesmo algumas famílias mais abastadas.

Todas essas famílias geravam um consumo que fazia o comércio local sobreviver mais que satisfatoriamente. O mesmo acontecia com outros bairros da redondeza.

Mas as coisas foram se deteriorando de tal forma que as famílias que tinham alguma condição fugiram desses bairros para outros com melhores condições. "Coincidentemente" essas eram as mesmas famílias que mantinham o comércio local aquecido. Sem consumo o comércio local não conseguiu se manter e o resultado é um só: fechamento de estabelecimentos.