Discordo totalmente da visão do Janer Cristaldo sobre a paixão do brasileiro sobre futebol, mas confesso que, muitas vezes, o comportamento das pessoas que orbitam o meio futebolístico irrita mesmo, elevando um mero esporte à condição de assunto de segurança nacional (após uma outra derrota da seleção, juro que ouvi um cronista dizendo que o cargo de técnico da seleção deveria ser ocupado via eleição direta!).
Agora a moda na "imprensa especializada" é criticar qualquer jogador brasileiro que participe de uma festa (qual será o período de luto exigido?) ou que, neste caso muito pior, venha a gastar seu dinheiro comprando carrões, mansões ou o que quer que seja.
O problema não é a paixão pelo futebol, mas a tendência de ocupar todo nosso vácuo craniano com esse esporte. Entretanto, Janer comete um erro clássico cometido por outros intelectuais: pensar que se não fosse o futebol, o brasileiro seria a intelectualidade personalizada, voltada para os problemasque afligem o país. Isso é bullshit.
O futebol, como qualquer outra coisa, só faz ocupar vácuos cranianos pré-existentes. Não conheço caso de alguém que tenha abandonado uma promissora carreira de poeta para se dedicar a acompanhar o Palmeiras em todos os jogos.
Não fosse essa gigantesca quantidade de vácuos cranianos, seríamos plenamente capazaes de torcer, vibrar, sofrer, comemorar e depois tocar nossas vidas normalmente, como muita gente faz, inclusive aqui mesmo no Brasil.
A irritação de Janer e de todos seus leitores que torceram contra a seleção é tola porque coloca a paixão exacerbada pelo futebol como causa, quando ela é um efeito. Parecem não entender que, se o futebol miraculosamente desaparecesse da face da Terra, outra coisa apareceria para substituí-lo. E lá estariam eles a torcer contra essa coisa até que o país se encaixasse no molde que eles acreditam ser o melhor.