Aparentemente trata-se de uma exigência pertinente, mas revela claramente porque a coisa não tem mais jeito: é senso comum a idéia de que o crime é a normalidade e apenas a ação do Estado impede a atuação dos criminosos.
Não existe Estado no mundo que seja capaz de policiar todas as regiões dentro das suas fronteiras. É humanamente impossível. É aquela velha estória do cobertor curto: enquanto a viatura está aqui, ladrões agem ali e vice-versa.
Na "melhor" das hipóteses o Estado tenta policiar regiões freqüentadas por turistas ou por pessoas politicamente influentes, capazes de mexerem seus pauzinhos para colocar uma viatura na porta de suas residências (como hipoteticamente faz uma determinada família, dona de uma determinada rede de televisão). Mesmo neste caso, os recursos são escassos e, enquanto as viaturas estão em Copacabana, a bandidagem corre para as Paineiras. Agora que morreu um turista nas Paineiras, algumas viaturas correrão para lá e outra região ficará desguarnecida.
Costumo dizer que ser carioca hoje é ser como um cervo na selva. Diariamente os cervos vão para o pasto sabendo que seus predadores estarão lá à espreita. Mesmo assim, eles vão e tudo que lhes resta é torcer para não ser a presa do dia. Quando o leão ataca é aquele bundalelê mas, 30 ou 40 minutos depois, lá estão os cervos de volta ao pasto, torcendo...
É o ciclo da vida no Rio de Janeiro.
Cariocas curtindo um solzinho