01 julho 2006

O tolerante

Entendo que uma das mais difíceis tarefas do ser humano nesse planetinha é tentar conviver com o diferente. Acho que todos temos aquele genezinho ditador com tendência a esmagar aqueles que são diferentes de nós. Não nascemos programados para conviver com as diferenças. A tolerância (o nome já diz tudo) é algo que se alcança através de uma batalha diária do homem com ele mesmo. Não é algo auto-declarado tipo "sou tolerante, e ponto final".

Curiosamente, aqueles se intitulam tolerantes raramente se furtam de apontar para os seus diferentes e gritarem "olha lá que ridículo!".

Vemos isso principalmente nos colunistas que se dedicam a falar sobre cultura e comportamento. Para eles não basta gostarem de algo, é necessário tornar ridículas as alternativas opostas.

Vejam o texto deste colunista. (o link é móvel)

O assunto do dia é o consumismo. O autor não entende o conceito de oferta excessiva de produtos e vê nisso uma "lógica do que não se pode ter". Ora bolas, por que um lojista iria expor produtos para quem nunca poderá comprá-los? A visão correta seria, ao meu ver, a de que o lojista expõe produtos para compradores potenciais, imediatos ou não. Sim, muitos dos que passam pelas vitrines não poderão comprar os produtos ofertados imediatamente, outros tantos jamais poderão comprá-los e alguns felizardos comprarão no ato.


Assim é a vida.

Mas tudo bem, faz parte do conceito de liberdade e - lá vem ela novamente - tolerância aceitar que alguém não goste do modelo de hiper-mega-ultra-shopping-centers. Eu também não não gosto muito, mas isso é questão de gosto e ponto final.

E quando a coisa se volta contra o tolerante? Freqüentemente o autor volta suas baterias contra os religiosos porque estes desaprovam o homossexualismo, o consumo de drogas, orgias sexuais, etc. Recebem sem perdão os mais pejorativos rótulos por não concordarem com o estilo de vida que o autor aceita ou pratica, sei lá. Em termos de princípios, qual a diferença entre os religiosos que ele ataca e o texto que ele escreveu na coluna de hoje? Nenhum, ao meu ver. Ambos criticam um estilo de vida com o qual não concordam, apontando aspectos que os desagradam.

Outro dia fiz uma brincadeira de palavras aqui perguntando se aquele que não tolera intolerância não seria um intolerante também. Mas a pergunta é muito pertinente para esses dias de correção política nos quais vivemos. Tolerar aquilo que nos agrada é molinho.

E para encerrar o texto, o autor faz uma analogia totalmente descabida (incompreensível, na verdade):

"Entendo o ato da compra e o prazer da posse. Mas o princípio de passear para observar o que não se terá me parece muito confuso. Quando a gente passa a funcionar não pela lógica do que se pode ter, mas pela do que não se pode ter, o consumismo fica muito parecido com uma versão torta do comunismo."