30 março 2008

Preços, preços, preços...

Sabem aquela velha conversa de que as coisas no Brasil são caras por causa dos impostos?

Pois é, eu não acho que os impostos sejam o verdadeiro culpado da situação. Um bom exemplo disso é o iPhone da Apple que é vendido por US$499.00 nos EUA (versão de 16Gb) e por cerca de R$1700,00, em média, aqui no Bananão.

Usando a taxa de câmbio 1,7, o preço original do iPhone, em Reais, é R$848,30. Ou seja, o preço de venda no mercado brasileiro deste produto é aproximadamente 100% mais caro que o preço original. Considerando que o 'importador" teve custos extras (passagem, hospedagem, alimentação e propina) na ordem de 50% do valor original do produto (o que não é verdade, já que o custo por unidade fica muito abaixo disso), vamos assumir que o custo do iPhone para o importador ficou em cerca de R$1300,00.

Agora vem a questão crucial para o "importador": quanto ele pode pedir por um iPhone no Brasil? Quanto as pessoas estarão dispostas a pagar por "aquele telefone da Apple que é de toque"? Se o "importador", após uma breve "pesquisa de mercado", descobre que o brasileiro é um consumidor muito sensível ao preço e, portanto, não pagaria mais que R$1000,00 pelo brinquedinho, então o iPhone não será vendido e o "empreendimento" é abortado. Mas, se o "importador" percebe que o brasileiro é um consumidor compulsivo que venderia até a mãe para ter o telefone da moda, pagando por ele a bagatela de R$1700,00, o que resultaria num lucro de R$400,00 por unidade vendida (à vista, diga-se de passagem), então o "empreendimento" decola como podemos ver nas ofertas do Mercado Livre.

Este trecho de um excelente artigo indicado pelo xará, explica muito claramente o que ocorre:


One of the most important virtues of supply and demand is that it forces you to remember what Alfred Marshall called both blades of the scissors. With few exceptions, both buyers and sellers play a role in determining prices. That's surprisingly easy to forget. When my son asked why convertibles are so expensive, his brother explained that people really like them, the demand side of the equation. But that can't be the whole story or even most of it. Surely there are many people in colder rainier climates or even too-hot climates where driving a convertible is unpleasant. So why are they expensive? They're more costly to make because of the mechanism that allows the convertible to retract the roof. Convertibles only exist if their price is greater than non-convertibles. If people liked cars without any kind of roof, they'd be cheaper, not more expensive, than cars with roofs.

A similar logic applies to red and green peppers. Why are red peppers consistently more expensive than green peppers? Why should there be any relationship between the two prices? Green peppers are used in a lot of industrial cooking for their intense flavor. Shouldn't they be more expensive? It turns out that a red pepper is a ripe green pepper. A seller always prefers money today to money tomorrow because money today can be invested in the meanwhile to earn interest. So if green peppers and red peppers sell for the same price, no seller would be willing to supply a red pepper. So red peppers must sell for more. They only exist in the marketplace because some people prefer them to green ones. But if they're going to be available, if sellers are going to be willing to provide them, they're going to have sell for a higher price.

Este caso do iPhone é bom porque não impostos envolvidos. Portanto, não importa quanto seja o custo de produção de um bem, ele somente estará disponível no mercado se houver compradores dispostos a pagar o preço que o vendedor julgue ser interessante.

Ah, e quando o custo diminuir, o vendedor não baixará o preço enquanto houver consumidores dispostos a pagar alto pelo produto. Antes de jogar pragas no vendedor responda essa pergunta: se você for morar num apartamento mais barato e se seus filhos mudarem para uma escola mais barata, você vai chegar pro seu chefe e dizer "Chefe, meus custos baixaram R$500,00. O senhor pode, a partir do mês que vem, diminuir este mesmo valor do meu salário, ok?"

I don't think so.