Após fazer dois gols no time de Bauru, o tricolor cede o empate. Vexame. Torcida irritada. Torcedor troglodita xinga o juiz de todos os nomes. Depois, urra um "macaco!" para defensor negro do Noroeste. Alguns se constrangem, mas ninguém protesta, até porque só tem branco nas cadeiras numeradas. O Brasil é racista.
Aposto meu salário do mês que, entre os torcedores que zoaram o defensor do Noroeste, havia negros e mulatos. A afirmação de que "só tem branco nas cadeiras numeradas" é típica de quem acha que lugar de negro é na cozinha. O cara nem se dá o trabalho de ir conferir: negro para ele é sinônimo de pobre e ponto final.
E ainda quer me dar lição de moral.
Certas coisas são tão elementares que me impressiona termos que discutir certos conceitos em pleno Século XXI. Um país não é racista porque tem pessoas racistas no meio da sua população. Um país é racista quando adota a raça como critério para favorecer ou prejudicar determinados grupos. E até um passado recente, o Brasil não era assim. Lembro que no meu vestibular, no final dos anos 80, não precisei indicar minha raça e tive que disputar minha vaga na UERJ aos tapas com brancos, asiáticos, negros e mulatos como eu.
Mas uma certa colunista de economia de um certo jornal diz que eu tive sorte apenas. Claro, claro. Como eu poderia imaginar que negros e mulatos podem conseguir algo por esforço próprio, sem a ajuda dos brancos? Tolinho!
Pois então eu desafio a qualquer um dos descolados a me apontar uma única lei federal, estadual ou municipal vedando a um negro o acesso a qualquer serviço público.
Desafio ainda a apontar qualquer caso de vestibular onde o critério "raça" tenha sido utilizado para excluir um negro de uma universidade.
Desafio também a me mostrar qualquer concurso público onde a raça fosse um critério para seleção ou classificação.