É sempre divertido ver o "brasileiro médio" (o nosso Homer Simpson, como bem definiu William Bonner) tentando decifrar civilizações mais avançadas.
Conceitos rudimentares de civilização como parar num sinal vermelho ou o respeito pelos pedestres deixam os brazucas completamente atônitos.
O curioso, e aí se encontra a diferença entre o selvagem e o civilizado, é que nenhum brazuca consegue ver que essas qualidades de natureza majoritariamente individual. O selvagem continua esperando - e como essa expressão se popularizou aqui na terrinha! - que "o exemplo venha de cima". Ora, tolo é aquele que pensa que um Estado, por mais forte que seja, consegue enfiar virtude goela abaixo da população. O Estado tem sim que punir com a devida severidade aqueles que romperem com as normas de conduta estabelecidas, mas ele é incapaz de vigiar todos a todo momento. Mesmo estados policiais não conseguem este feito. Se a sociedade é podre, ele só faz inflacionar o valor dos subornos.
É aquela velha estória: quem vai vigiar o vigia?
Assim, o brazuca viaja para algum país civilizado, se encanta com o respeito, a cortesia genuína das pessoas, a educação, a eficiência, a limpeza das ruas, etc. mas quando volta pra casa larga tudo que viu na alfândega e volta a agir como sempre: um legítimo selvagem.
Gostaria de saber se algum antropólogo algum dia já fez algum estudo que identificasse em que momento da nossa história deixamos de pensar que uma sociedade é tão boa quanto seus indivíduos e começamos a crer que é possível transformar merda em ouro. Aliás, gostaria até de saber se em algum momento tivemos essa noção de sociedade.
Curioso é que nossos intelectuais e suas antenas transmissoras (professores secundários e universitários) sempre enfiaram nas nossas cabeças quão ruim era a sociedade capitalista (sejamos claros, leia-se EUA) que privilegiava o individualismo sobre o coletivo. Este tipo de asneira colou e sempre colará por essas bandas porque é mais fácil alguém ser atingido por um raio três vezes do que um professor indicar, a seus alunos, a leitura de obras como Individualism and Economic Order, por exemplo.
Enquanto continuarmos achando que individualismo e egoísmo são sinônimos (admito que muitos liberais ajudam a disseminar esse equívoco, facilitando ainda mais o trabalho dos coletivistas) nunca daremos o passo inicial necessário para a construção de uma sociedade minimamente civilizada que é a formação de indivíduos de qualidade.