25 março 2007

E isso ganha a vida escrevendo

Você provavelmente está se perguntando por que diabos um bicho maduro iria querer ter cara de criança. Mas, antes, vamos dar uma boa olhada em Knut, recordar todos os outros filhotes fofinhos (bebês humanos incluídos) que já vimos e tentar generalizar. Há alguma coisa em comum entre todos eles? A resposta é um enfático sim. Os padrões de desenvolvimento dos filhotes de vertebrados são surpreendentemente parecidos entre si, desde os peixes até o Homo sapiens, graças à origem evolutiva que compartilhamos. Por isso, além da óbvia pequenez, muitos dos nossos filhotes têm a cabeça desproporcionalmente grande em relação ao resto do corpo, olhos muito grandes e focinhos curtos. Entre os mamíferos, o pacote é completado por pêlos e pele mais macios, além de gordurinhas que tendem a gerar aquele aspecto fofinho.

Características visualmente tão óbvias têm uma função também óbvia. Nas imortais palavras de Baby, da série Família Dinossauros, “PRECISA ME AMAR! PRECISA ME AMAR!”. Os traços infantis são sinalizadores imediatos de vulnerabilidade e necessidade de cuidados, e as espécies de vertebrado entre as quais a ajuda dos pais é essencial para que o bebê chegue à idade adulta estão geneticamente programadas para responder favoravelmente a eles. (Aliás, os bebês-dinos da vida real, conforme o testemunho de inúmeros ovos e filhotes fossilizados, tinham cabeça e olhos enormes. Por essas e outras razões, acredita-se que seus pais cuidavam deles por um bom tempo após o nascimento.) Pode ser que originalmente essa aparência tenha sido só um subproduto do desenvolvimento embrionário – muitos vertebrados não cuidam de seus filhotes –, mas, uma vez estabelecida geneticamente, ficou fácil utilizá-la como sinalizador, e os que a possuíam em grau elevado tinham mais chance de ser paparicados pela mamãe e sobreviver. Ser fofo fazia bem para a saúde e para o sucesso evolutivo.


Aparentemente o autor desta peça se propõe a escrever sobre evolução. Assim como aqueles evangélicos que em tudo vêem a presença de um encosto, o devoto da evolução acha que até a estética é resultado da ação dos genes.

Provavelmente ele nem se dê conta da infinidade de questões (geralmente isso é o que acontece quando não se pensa: é possível isolar uma afirmação de suas conseqüencias lógicas) que sua teoria suscita: para achar algo "fofo" ou "feio" é necessária uma noção de estética. Se os animais têm noção de estética, que outras características humanas eles não terão? Serão eles capazes de apreciar obras de arte como os seres humanos, já que compartilhamos muitas dessas "programações genéticas"?