No seu blog, o Adolfo Sachsida fez
o seguinte comentário a respeito da globalização:
Por que o aumento das trocas com o resto do mundo levaria um país a ficar mais pobre? Na verdade é o contrário, o aumento das trocas aumenta a produtividade, e consequentemente, a riqueza de um país.
Alguns pontos:
A globalização, creio, é um fenômeno muito mais amplo e que causa sim alguns efeitos colaterais negativos para alguns grupos, entre eles trabalhadores e consumidores. Com o advento da globalização, uma empresa hoje pode ter o que chamamos de presença global, focalizando a atuação onde o custo de operação é menor e o retorno maior. Logo de cara, a conseqüência imediata é a queda da renda dos trabalhadores dos países de primeiro mundo e até mesmo o desemprego (por isso não entendo por que os países de terceiro mundo reclamam da globalização quando eles são os mais favorecidos por ela).
Há conseqüências que são mais sutis e que não são propriamente culpa da globablização: nas empresas com presença em bolsas de valores, os acionistas focalizam apenas no valor da suas ações (o que não poderia ser diferente) e a pressão contínua por maiores lucros acaba forçando uma redução constante do custo de operação. Em muitas áreas isso pode ser alcançado via automação sem comprometer a qualidade final do produto, mas em áreas onde a formação humana é um fator primordial (por exemplo, serviços) isso simplesmente não é possível (para fazer com que isso pareça possível, muitos gurus lançam teorias mirabolantes de gerenciamento que só fazem enriquecer eles próprios).
Temos então a transferência de operação para países onde a mão de obra é mais barata e não necessariamente igualmente competente. O resultado é a queda da qualidade dos serviços fornecidos pelas empresas (trabalho numa multinacional de presença global e vivo esse fenômeno dia após dia). "Ah, mas esse tipo de coisa o mercado resolve!" Concordo, mas não a curto ou médio prazo e - arriscaria dizer - nem sempre. Em mercados de massa e onde a entrada de novos players é difícil (ou impossível por questões regulatórias) a coisa acaba estourando no colo do consumidor. Qual foi a última vez que você ligou para um call center e falou de cara com um ser humano? Veja bem: eu sei que se uma empresa quer diminuir seus custos penalizando seus consumidores, ela perderá clientes para a concorrente. Só que a concorrente também sofre o mesmo tipo de pressão por redução de custos e tomou medidas semelhantes, deixando o cliente sem opção. Sim, eu sei que se o cliente ainda assim continua contratando o serviço de uma delas é porque no final das contas o saldo ainda lhe é interessante. A questão aqui é que o ponto de equilíbrio foi num patamar baixo de qualidade na prestação do serviço. Eu sei que nada há a fazer sobre isso - e que eu provavelmente faria o mesmo se fosse CEO de alguma dessas empresas - apenas estou reconhecendo que no final houve uma piora na qualidade do serviço oferecido. Ao contrário da indústria de bens materiais, onde é possível obter o mesmo produto por um custo mais baixo, na área de serviços isso quase sempre não é o caso.
Empiricamente, na minha área de atuação, serviços de tecnologia de informação, o que eu observei em mais de vinte anos de trabalho é que a globalização não aumenta a produtividade necessariamente. Certamente ela reduz os custos de operação, mas a busca por margens de lucro crescentes faz, quase sempre, com que a qualidade dos serviços prestados fique em patamares extremamente baixos.
Reitero: não estou fazendo um julgamento de valor da globalização e nem alegando que ela é um mal absoluto (pelo contrário, para mim, cidadão de um país de terceiro mundo, eu quero é mais!). Mas há que se reconhecer os impactos negativos que a globalização causa, principalmente nos países mais desenvolvidos, para que possamos enteder a reação destes a este fenômeno.