11 novembro 2007

Racismo light

Ou racismo soft, é o pior tipo que existe. Não, não falo sobre aquilo que se convencionou chamar de "racismo velado" aqui no Bananão. Falo daqueles que acham que, sim, os negros são inferiores e precisam de um tratamento diferenciado por parte dos brancos privilegiados senão nunca chegarão a ser nada na vida. Aqueles que não acreditam que, dando-lhe consições iguais, um negro é capaz de disputar uma vaga de trabalho em igualdade de condições ou até mesmo levar vantagem sobre um branco. Não, esses racistas acreditam que há algo defeituoso nos negros e que é papel dos brancos fazer com que os pobres miseráveis tenham uma vida mais digna.

Tadinhos, não conseguem passar no vestibular... Vamos criar cotas para eles nas universidades.

Tadinhos, não conseguem arrumar emprego... Vamos criar cotas para eles nas empresas.

Tadinhos, ... E assim vai. Tudo vale para poder colocar a cabecinha no travesseiro e dormir se achando uma pessoa bacaninha.

Uma das mais divertidas críticas que eu já vi a esse racismo soft foi no seriado americano Everybody Hates Chris, inspirada na infância do comediante Chris Rock. Na série, Chris tem uma professora, Ms. Morello, branquinha como leite e de voz macia. Um verdadeiro doce de pessoa. Entretanto Ms. Morello sempre assume que Chris, o único aluno negro da turma, está sempre envolvido com drogas, vem de um lar desfeito e quer ser jogador de basquetebol (Chris não sabe nada de basquetebol). Mas, claro, ela sempre fala essas coisas com um suave tom de preocupação.

Num exercício proposto para a sua classe, Ms. Morello selecionou casais de alunos para que fingissem ser uma família. A sua tarefa seria cuidar de um ovo durante a semana como se fosse um bebê. Ao final da escolha das duplas, Chris terminou sozinho. Ms. Morello lhe deu um ovo marrom (!) e disse ele deveria fingir ser um pai solteiro já que ele nunca teve um pai. Chris retruca dizendo que, sim, ele tem um pai. Docemente a professora responde: claro que tem querido, mas sua mãe não sabe quem é.

Todas as referências que eu encontrei no Google sobre a Ms. Morello a tratam como ela de fato é: racista. Se Ms. Morello fosse personagem de alguma novela das oito por aqui, duvido que a percepção seria a mesma.

Não custa lembrar a resposta que recebi quando escrevi para uma certa colunista de economia de um certo jornal discordando de sua opinião de que no Brasil há uma sistemática exclusão de negros das universidades e do mercado de trabalho e relatando que eu, mulato e de origem nada abastada, às custas de alguma ralação, me formei em universidade pública e hoje tenho uma renda superior inclusive a de colegas brancos na mesma empresa:

- Ah, mas nem todo mundo tem a sua sorte.