20 dezembro 2009

Praias particulares

Uma das coisas que mais escandalizam o bananense é uma praia particular. Isso vai contra nossa idéia selvagem de que o que a "Mãe-natureza" cria é de todos. Lembro até hoje do meu primeiro contato com uma praia de acesso particular nos EUA. Logo estranhei: "Que absurdo! Praias deveriam ser abertas ao público como no Brasil!"

Bem, as coisas não são bem assim. Sabemos que esse "público" pode ser contornado de diversas maneiras. Tudo feito de uma forma a permitir que os freqüentadores de locais "exclusivos" continuem achando que, no Brasil, a praia é um espaço democrático.

Vejamos estas medidas tomadas por várias prefeituras de cidades litorâneas de São Paulo (onde mais? Onde mais?):

Os turistas de um dia têm tido cada vez mais dificuldade para aproveitar as praias do litoral de São Paulo. Acostumados a se amontoar em ônibus com isopores lotados de bebida e comida para passar algumas horas ao sol, eles estão longe de receber tratamento VIP.

A maioria das cidades tem ao menos uma receita para coibir a ‘farofa’ na areia. Algumas cobram caro dos que pretendem entrar na cidade sem gerar renda alguma e ainda despejar sujeira. Outras ‘isolam’ os turistas em praias menos badaladas, dando em troca um terminal todo equipado com banheiros e estacionamento.

Ora, essas medidas nada mais são que tornar as prais privativas dos moradores ou freqüentadores VIP da região. Só que de um modo pilantra: através do poder público. Se fosse uma praia explicitamente privativa, o proprietário teria que gastar grana dele, e somente dele, para ter o privilégio de freqüentá-la. Mas nestes casos, em São Paulo, um pequeno grupo conta com dinheiro de todos os moradores da cidade, mesmo aqueles que moram a quilômetros do mar, para limitar o acesso dos "farofeiros" (*) ao seu reduto exclusivo.

Trata-se de um belo exemplo de como usar o poder público para gerar benefícios privados.

(*) Obviamente a tal farofa é um mero pretexto ecologicamente correto para, na verdade, afastar os pobres do convívio dos VIPs. Todos os recursos usados para montar a estrutura que mantém os farofeiros longe das praias badaladas poderiam ter sido usados para fiscalizar e punir aqueles que efetivamente emporcalham as praias. O problema é que, com isso, os VIPs ainda teriam que conviver com os Uélintons, Uóxintons e Suelens da vida, coisa inadmissível.