Bem, as coisas não são bem assim. Sabemos que esse "público" pode ser contornado de diversas maneiras. Tudo feito de uma forma a permitir que os freqüentadores de locais "exclusivos" continuem achando que, no Brasil, a praia é um espaço democrático.
Vejamos estas medidas tomadas por várias prefeituras de cidades litorâneas de São Paulo (onde mais? Onde mais?):
Os turistas de um dia têm tido cada vez mais dificuldade para aproveitar as praias do litoral de São Paulo. Acostumados a se amontoar em ônibus com isopores lotados de bebida e comida para passar algumas horas ao sol, eles estão longe de receber tratamento VIP.
A maioria das cidades tem ao menos uma receita para coibir a ‘farofa’ na areia. Algumas cobram caro dos que pretendem entrar na cidade sem gerar renda alguma e ainda despejar sujeira. Outras ‘isolam’ os turistas em praias menos badaladas, dando em troca um terminal todo equipado com banheiros e estacionamento.
Ora, essas medidas nada mais são que tornar as prais privativas dos moradores ou freqüentadores VIP da região. Só que de um modo pilantra: através do poder público. Se fosse uma praia explicitamente privativa, o proprietário teria que gastar grana dele, e somente dele, para ter o privilégio de freqüentá-la. Mas nestes casos, em São Paulo, um pequeno grupo conta com dinheiro de todos os moradores da cidade, mesmo aqueles que moram a quilômetros do mar, para limitar o acesso dos "farofeiros" (*) ao seu reduto exclusivo.
Trata-se de um belo exemplo de como usar o poder público para gerar benefícios privados.
(*) Obviamente a tal farofa é um mero pretexto ecologicamente correto para, na verdade, afastar os pobres do convívio dos VIPs. Todos os recursos usados para montar a estrutura que mantém os farofeiros longe das praias badaladas poderiam ter sido usados para fiscalizar e punir aqueles que efetivamente emporcalham as praias. O problema é que, com isso, os VIPs ainda teriam que conviver com os Uélintons, Uóxintons e Suelens da vida, coisa inadmissível.