22 fevereiro 2006

Rapidinha

Essa é a saideira mesmo.

Vamos fazer um exercício de criatividade e imaginar a reação da opinião pública mundial, particularmente da imprensa tupiniquim, se
esta notícia fosse assim:

"O Senado americano aprovou nesta quarta-feira uma nova lei de combate ao terrorismo. Entre outras medidas, será permitido o abatimento de aviões que estejam nas mãos de terroristas suicidas, independentemente da presença ou do número de reféns a bordo."


Meu chute é

"Esta é mais uma prova de que o fundamentalismo cristão que tomou conta dos Estados Unidos, após a subida de Bush ao poder, é um perigo para o Estado Democrático de Direito."

PS: Talvez uma lei parecida até já exista nos isteitis. O ponto não é esse e sim a reação que cada notícia gera de acordo com os envolvidos.

Parada técnica

Carnaval chega e eu saio. Só volto depois da folia.

Fui!

Jornalista?

Hoje no JB um jornalista assina um artigo sobre Felipe Barbosa, o brasileiro que morreu no Iraque lutando pelos EUA.

"Como para centenas de jovens de países em desenvolvimento, a saída de casa do 'pracinha' Felipe (...) coloca uma situação permanente e difícil de ser resolvida pelo governo Bush. Para atrair jovens para suas fileiras (outra generalização), Tio Sam continuará a buscá-los onde estiverem, oferecendo-lhes cidadania americana no prazo de um ano de residência legal, pagamento de até quatro anos de universidade e um bônus que pode chegar a US$ 40 mil em quatro anos."

Este não foi o caso do Felipe. Como o próprio jornalista mencionou, o marine vivia nos EUA desde 1994. Isso não quer dizer que o governo americano não esteja oferecendo cidadania para pessoas de outros países, mas sim que o jornalista tentou estabelecer uma relação entre fatos totalmente isolados, usando um caso de potencial comoção nacional (só não rendeu mais porque o soldado foi enterrado nos EUA).

O que deveria nos deixar perplexos é o fato de jovens preferirem lutar uma guerra que não é sua para obter uma chance de viver nos EUA a desfrutarem da paz em suas terras natais. E demonstrar esse tipo de
sentimento:

"O desejo de Felipe era participar da caçada a Saddam Hussein. Por três vezes foi reprovado nos testes a que os militares são submetidos antes de ir à guerra."

O jornalista fecha sua obra com uma inverdade, se considerarmos que todos os demais meios de comunicação noticiam o contrário:

"Escolheu ser sepultado no Brasil."

Se houvesse um documento assinado pelo marine pedindo para ser enterrado no Brasil, o candidato-a-presidente-que-nunca-foi muito provavelmente não iria perder essa oportunidade de colocar o pobre rapaz num palanque.


O JB não tem editor não?

21 fevereiro 2006

A culpa é do neoliberalismo

Até mesmo quando o assunto é a mais antiga das profissões. ;-)

"Longe de mim querer aqui julgar Bruna e suas colegas. Quem sou eu para penetrar no íntimo de seus jovens corações e saber que dramas e que dores por ali passaram para que optassem por esse caminho? Quem sou eu para avaliar as lacunas e carências de afeto, de sentido para a vida que atormentam suas noites insones e seus dias tranqüilizados por drogas e academias incessantes? Quem sou eu para imaginar o tremendo vazio de horizonte e de transcendência que faz com que seu cotidiano só se explique pelo imediato: o prazer imediato, o lucro imediato, o poder aquisitivo imediato?

Pesa-me no coração, no entanto, ler os depoimentos dessas jovens ao falar sobre suas vidas. Pesa-me verificar o que a sociedade neoliberal fez com elas e sua vocação de seres humanos."

Kamel

Sem querer ser repetitivo, esse cabra é bom. O link é movel, então corra para ler o artigo todo porque está muito bom.

"O que mais me chocou em todo esse debate, porém, foi o tom acusatório contra aqueles que vivem a sua fé no Opus Dei. Fazer voto de pobreza, de castidade, de obediência e se impor o uso diário do cilício são atitudes que podem parecer estranhas à maioria de nós. Mas transformar os integrantes da prelazia, cidadãos como nós, numa espécie de atração circense me parece fora de qualquer propósito. Numa reportagem da revista 'Época', o professor Carlos Alberto Di Franco, articulista de muitos jornais no país, foi indagado se não seria mais ético ele assinar seus artigos como adepto do Opus Dei. A pergunta é um escândalo. Imagine o absurdo se nós, jornalistas, passássemos a ter de assinar: fulano de tal, jornalista e muçulmano, ou jornalista e judeu, jornalista e cristão, jornalista e budista. Causaram-me constrangimento, sobretudo, as perguntas sobre questões de foro íntimo que a lei, no Brasil não obriga ninguém a responder. Mas a resposta que Di Franco deu a elas, de uma maneira ao mesmo tempo corajosa e tolerante, só o engrandeceu como ser humano."

No final quem perdeu foi o fã dos sexagenários

Se pensarmos friamente no assunto, este foi o pior modelo possível para os fãs dos Rolling Stones. Pelo fato de o show ser de graça, atraiu gente que jamais pagaria para assistí-los (sempre vale a famosa máxima "de graça até ônibus errado" ou "de graça até injeção na testa"), tumultuando o evento. Os locais mais tranquilos foram distruibuídos de forma política, para convidados, celebridades, etc. que provavelmente nem apreciam tanto a banda assim. Ao fã restaram duas alternativas: (A) ver o show de casa, o que é pretty lame; (B) encarar o inferno em que se transformou Copacabana antes, durante e depois do show. Resultado: conheço muita gente que gosta da banda e não foi por causa do tumulto e outros que foram e voltaram pra casa após poucos minutos com medo da confusão.

Por outro lado, o show do U2 seguiu o modelo consagrado desde sempre: mercado. Quem gosta paga e vai. Quem gosta, mas não tanto, vê pela TV e quem não gosta simplesmente ignora.

20 fevereiro 2006

Economics 101

Na coluna do Alcelmo Gois de hoje:

"O aluguel do banheiro químico foi de R$ 200 para R$ 800 desde que a Justiça mandou pôr as tais casinhas no percurso de blocos e em shows como este dos Rolling Stones."

19 fevereiro 2006

Combatendo a desigualdade

- Bono, que tal doar toda sua renda para os mais pobres e viver com US$1000,00 por mês?
- Cê bebeu, Lula?
- Bebi e muitcho! Não lembra quantas branquinhas eu tomei no almoço?
- Nah, venho sofrendo de amnésia recente...

Google - novo logo


Mais aqui.

Sem comentários

"Um ministro indiano afirma que pagará US$ 10 milhões pela cabeça de um dos cartunistas dinamarqueses e o equivalente em ouro ao peso do assassino. Pela cabeça, literalmente: o cartunista tem de ser decepado para a oferta ser paga."

Aqui.

Já posso imaginar a intelectualha européia:

- Oh não! Isso isso é terreno fértil para os xenófobos.

Política de saúde

Vejo gente questionando o patrocínio de paradas gays com verba oriunda do "Programa Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids".

Ora, após todo esse tempo ainda não aprenderem o modus operandi dos políticos?

Deixa eu tentar explicar:

Políticos colam como velcro em questões que lhes proporcionem visibilidade. Quando eles perceberam que poderiam forjar uma imagem de humanitários privilegiando uma doença que estava assustando a classe artística, não hesitaram em concentrar os recursos da saúde na AIDS, em detrimento de outras doenças que afetavam uma parcela bem maior da população. Atualmente, com a "popularização" da doença, uma parcela bem menor do beautiful people tem sido vítima dela. Note como reduziu sensivelmente nos últimos anos a quantidade de notícias de celebridades morrendo de AIDS. Mas aí o tal programa já estava criado e dispunha de verba. Na cabeça do político, usar dinheiro com coisas que não aparecem é um desperdício. Solução: destinar o dinheiro para algo que estivesse em evidência e que, mesmo com algum malabarismo verbal, fosse possível associar ao combate às doenças sexualmente transmissíves.

Voilá! Parada Gay.

Politização

É interessante o fato de alguém considerar as reações violentas um problema não por ser algo mau que atenta contra pessoas inocentes, mas por dar razão a quem avisava que isso poderia acontecer. Isso talvez explique porque tanta gente procura atribuir a culpa da barbárie que está ocorrendo nos cartunistas, aceitando até mesmo questionar a liberdade de expressão. Assumir que os culpados são os islamistas é ter que dar o braço a torcer para aqueles "xenófobos" que alertavam para o perigo da situação. Com a politização de todos os debates, não importa mais quem está certo ou errado, importa quem joga no nosso time ou no deles.

18 fevereiro 2006

Contorcionismo

Marilena, praticando seu contorcionismo em grande etilo.

Atenção: a leitura deste trecho pode deixar pessoas minimamente inteligentes com dor de cabeça e/ou náuseas. Os grifos são meus.

"Hoje, a avaliação ética dos governos não possui critérios próprios de uma ética pública, e se torna a avaliação moralista das virtudes e vícios dos governantes. Isso atribuiu a corrupção ao mau caráter dos dirigentes e não ao problema das instituições públicas."


Sei, sei...

- Deputado, por que o senhor roubou tanto?
- Ora, minha filha, eu sou muito honesto. Só estava cumprindo o estatuto da Câmara.

Mais Fred

Aviso: este texto é expressamente não recomendado para progressistas!

"The fear of social inferiority always concerns the peasantariat: 'You ain’t no gooder’n me.' Until the sudden florescence of pay packets occurred, the lower orders had either accepted that they were the lower orders, however resentfully, or tried to rise. They might learn to speak good English, read widely, and cultivate good manners. Or they might not. If they did, it was likely to work, since in America those who behave and speak like gentlefolk (another inadmissible word) will usually be accepted as such. In either case, they did not impose their barbarousness on others.

Ah, but with their new-found and enormous purchasing power, they discovered that they could do more than compel the production of skateboards, trashy television, and awful music. They could make boorish childishness and ignorance into actual virtues. And did. Thus wretched grammar is now a sign of 'authenticity,' whatever that might mean, rather than of defective studies. Thus the solemnity with which rap 'music' is taken. Briefly the sound of the black ghetto, it is now around the world the heraldic emblem of the angry unwashed. Thus the degradation of the schools: It is easier to declare oneself educated than to actually become so, and the half-literate now had the power to have themselves so declared.

With the debasement of society came a simultaneous, though not necessarily related, extension of childhood and adolescence. In the remote prehistorical past, which for most today means anything before 1900, the young assumed responsibility early. It wasn’t a moral question, but a practical one. If the plowing didn’t get done, the family didn’t eat. By the age of eighteen, a boy was likely to carry a man’s burdens."

War on religion

Não tinha visto a coisa pelo mesmo ângulo que Fred Reed:

"We exist utterly in a manmade cocoon, as much as desert termites in their mud towers. This, I think, profoundly alters our inner landscapes. Live in the rolling hills around Austin, say, as they were before they were turned into suburbs, with the wind soughing through the empty expanse and low vegetation stretching into the distance, the stars hanging low and close in the night, and you get a sense of man’s smallness in the scheme of nature, of the transitoriness of life, a suspicion that there may perhaps be more things in heaven and earth. It makes for reflection of a sort that throughout history has turned toward the religious.

People no longer live in large wild settings, but amid malls and freeways. The ancients believed that the earth was the center of the cosmos. We believe that we are. There is little to suggest otherwise in manicured suburbs and cities where the sirens will be howling at all hours. It is an empty world that begets philosophically empty thinking.

Without the sense of being small in a large universe, and perhaps not even very important, the question arises, 'Is this all there is?' and the answer appears to be 'Yes.' Without the awe and wonder and mystery of a larger cosmos, existence reduces to blowing smog, competitive acquisition of consumer goods, and vapid television with laugh tracks. We focus on efficiency, production, and the material because they are all we have. It is not particularly satisfying, and so we are not particularly satisfied.

I suspect that the decline of religion stems less from the advance of scientific knowledge than from the difficulty of discerning the transcendent in a parking lot. Certainly the scientific has generally replaced the religious mode of thought, even in people who believe themselves to be Christians. For example, it is amusing to hear them saying that the parting of the Red Sea refers to diminution of water by a wind in what was essentially a swamp. That is, God is all-powerful, but only to the extent that he behaves consistently with the prevailing weather.

Yet note the decline of even non-religious contemplation of such matters as meaning and purpose, right and wrong, ultimate good, and so on. It is not that people behave worse without faith, but that they cannot explain why they do not. The use of the sciences as a substitute for belief in God or gods has produced a religion that cannot ask the questions central to religion. It has also made discussion of such questions a cause for eliminating the offender from the guest list for the next cocktail party.
"

Caiu a ficha

E o carioca finalmente vai descobrindo o seu Rio de Janeiro.

"O que me preocupa é que os traficantes aprenderam o caminho daqui. Quem nos garante que agora não vão usar a mata atrás dos nossos prédios para fugir toda vez que invadirem a Rocinha?"

(...)

"Na quinta-feira, ficamos todos em casa, trancados, com medo de que ainda houvesse traficantes na mata. Hoje, estou indo caminhar, mas não quero que minha filha saia à noite."

(...)

"Ouvi os tiros, mas pensei que algum vizinho estivesse dando uma festa com fogos. Continuei assistindo televisão calmamente. Nunca tivemos problemas, até tiramos a favelinha que existia aqui. Cada morador deu uma quantia e indenizamos as famílias. Agora, que sei o que houve, não vou me assustar. A violência no Rio chega a qualquer lugar. Foi nossa vez."

Tenho uma sugestão: pendurem faixas em suas varandas com a palavra "Basta!". Os traficantes, quando derem de cara com elas, sensibilizar-se-ão com a sua situação e desistirão de praticar os atos criminosos. Se isso falhar, chame um Global para ficar gritando "Eu sou da paz" quando os bandidos se aproximarem. Pode surtir efeito.

16 fevereiro 2006

Democracias & Democracias

Segundo especialistas, a Democracia no Iraque não é de fato, pois foi estabelecida por um país ocupante. Ainda segundo eles, eleições pura e simplesmente não garantem a existência de um regime democrático de fato. Concordo.

Mas e
quando nem isso está presente?

"
A proclamação foi aprovada por sete dos nove membros do CEP por meio de um acordo com o primeiro-ministro interino, Gerard Latortue, informaram fontes governamentais.

Pelo acordo, os votos em branco foram distribuídos entre todos os candidatos presidenciais para facilitar a maioria absoluta do candidato de A Esperança, acrescentaram as fontes.
"

Segundo nosso governo, claro, nada disso é problema.


"O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse nesta quinta-feira que o presidente eleito do Haiti, René Préval, terá 'grande legitimidade' para governar o país, apesar do acordo eleitoral que alterou a contabilização de votos em branco e deu maioria absoluta de 50% mais um a Préval."

Guerra dos estatutos (a pedidos)

No dia em que sairem no tapa uma criança e um velho qual estatuto prevalecerá?

Vocação turística

Você enche o peito de orgulho para dizer quão fabulosa é nosa vocação para o turismo? Think again.

"É meta explícita do governo Lula ampliar a receita de turismo. Os americanos viajam muito e gastam bom dinheiro. Logo, deve ser uma prioridade estimular a vinda desses gringos. Certo? Errado.

Não há vôo direto dos Estados Unidos para o Nordeste ou para Manaus. Dos cinco milhões de americanos que passaram pela América Latina no ano passado, apenas 700 mil entraram no Brasil, em geral para negócios.

A explicação: americanos precisam de visto para entrar aqui, o visto custa 100 dólares e só há duas representações brasileiras nos EUA que o concedem, pelo correio.

Mais fácil, portanto, ir a algum dos 130 países que aceitam americanos sem visto de entrada. Não se pode dizer que os cidadãos dos EUA sejam os mais benquistos do mundo. Entretanto, parece que a maioria dos países alardeia 'yankees, go home', mas separa essa atitude política e abre as portas para os turistas.

Pesquisa divulgada na revista 'Economist' mostra que os americanos estão entre os três com mais liberdade de trânsito pelo mundo, junto com dinamarqueses e finlandeses.

O governo Lula engrossou com os americanos depois que os EUA, em seguida à destruição das torres de Nova York, passaram a fotografar e tomar a impressão digital dos visitantes. O Itamaraty resolveu pagar na mesma moeda. Reciprocidade, dizem, mas foi só para torrar a paciência dos americanos. Mesmo porque, se o Brasil fosse alvo de terroristas, eles não viriam dos EUA.

Desde então, o pessoal da área de turismo tenta convencer os colegas de governo que essa reciprocidade é um tiro no pé. Mas como se fez um estardalhaço xenófobo na ocasião, fica difícil voltar atrás."

15 fevereiro 2006

Alceu, perfeito

Geralmente eu coloco um trecho interessante de um artigo e o link para o conteúdo completo. Mas este texto do Alceu, publicado no site do Diego Casagrande, está tão bom que tenho que colocar a íntegra:

Nas sombras de hoje
por Alceu Garcia, advogado

O historiador Otto Ranke dizia que todas as gerações estão eqüidistantes de Deus. Dito de outra forma, cada geração tem o ônus de preservar a civilização construída por seus antepassados e, se possível, aperfeiçoá-la. Não é uma tarefa fácil. Os valores fundamentais que sustentam a cultura podem facilmente ser perdidos e o resultado são as crises que abalam os pilares da civilização. O nosso tempo está marcado por uma crise desse tipo, muito grave e profunda. Mesmo quando tudo parece calmo na superfície, violentas correntes ocultas estão se entrechocando e podem emergir a qualquer momento, causando sérios danos.

Poucas pessoas estão capacitadas para compreender a nossa crise cultural. Uma delas era o historiador holandês Johan Huizinga (1872-1945), autor de Nas Sombras do Amanhã (1935), um livro clássico sobre o tema. Uma cultura saudável, enuncia Huizinga, apóia-se sobre três elementos: equilíbrio harmônico entre valores espirituais e materiais, um ideal comum de sociedade e o domínio sobre a natureza. A crise contemporânea decorre da atrofia dos valores espirituais em contraste com o completo predomínio de um materialismo crasso. A esse desequilíbrio soma-se a fragmentação da noção de vida em sociedade, prevalecendo visões parciais e contraditórias acerca de valores e ideais, ou mesmo correntes que negam a existência mesma desses valores, tais como o niilismo e o relativismo. A perda do sentido de perspectiva e hierarquia de valores acaba afetando o elemento da cultura moderna que ainda funciona, o domínio da natureza, que tende a girar sobre o próprio eixo sem finalidade, na ausência de orientação ética.

O fulcro da crise é o declínio do espírito crítico e do juízo, fruto do conflito entre a ordem do conhecimento (inteligência) e a ordem do ser (existência), resultando no repúdio ao princípio intelectual e na renúncia expressa à compreensão do significado da verdade. O conhecimento se reduz ao progresso técnico-científico que, privado do guiamento de princípios superiores, acaba subjugado pelo poder político e desvirtuado por imposturas ideológicas. Estas emanam das várias correntes anti-intelectuais como o marxismo, o existencialismo, Nietzsche, Sorel, Bergson e outros que, com suas derivações e entrecruzamentos, continuam ocupando o cenário das idéias ainda hoje.

Huizinga observa que a moral cristã perdeu sua validade absoluta e cogente para a elite cultural, sob o ataque de filosofias amoralistas como as de Marx e Nietzsche, de doutrinas científicas com pretensões metafísicas ilegítimas como o darwinismo e a psicanálise e de movimentos estético-sentimentais dedicados a zombar das antigas virtudes como coisa superada e a erigir a transgressão como um fim em si mesmo. As elites disseminam essas doutrinas entre o povo em geral, espalhando confusão e incerteza. A dissolução da idéia, clássica e cristã, de uma ordem ética objetiva e universal acarreta a dissociação entre moral e Estado, o qual se coloca fora e acima de qualquer preceito ético. A violência estatal foge então a qualquer limite e controle, perpetrando iniquidades sem precedentes.

O declínio de uma cultura ocorre quando valores superiores são substituídos por inferiores. Essa tendência ao barbarismo se verifica em todos os aspectos da vida moderna. A arte sacrifica a compreensão no altar da existência instintiva, dispensando a função intelectual de sua tarefa interpretativa. Abandona as formas moldadas pelo real e degenera no culto da originalidade vanguardista, supostamente criadora de suas próprias formas. O estilo, a fisionomia estética da cultura, se corrompe no contexto do irracionalismo geral. O puerilismo, a imaturidade e a mediocridade se refletem cada vez mais nos costumes, nos comportamentos e nos gostos das elites e das massas. À acumulação inesgotável de conhecimento corresponde uma crescente escassez de sabedoria, de critério e de discernimento para julgar esse conhecimento.

Huizinga não é um reacionário. Ele não propõe o retorno a um passado idealizado como solução para a crise, até porque não há retorno possível; os navios foram queimados. Se solução há, ela passa necessariamente por uma catarse purificadora da alma que detenha de algum modo a degeneração ética e intelectual e resgate a consciência das verdades metafísicas no nível da filosofia clássica e cristã. Na época em que escreveu o livro, o autor depositava parte de suas esperanças no internacionalismo da Liga das Nações, desde que sua fonte inspiradora fosse a concepção da ordem internacional do filósofo Hugo Grotius, fundada na teoria política clássica, na ética cristã e no código de honra da cavalaria medieval. Infelizmente, contudo, este era um beco sem saída. Longe de se inspirar em Grotius, a ONU, sucessora da Liga das Nações, é uma síntese das causas e efeitos da crise cultural enumerados por Huizinga. Por este caminho não vamos a lugar nenhum.

Aprendendo com quem sabe

Este post nada tem a ver com a notícia em si mas sim com a declaração do promtor:

"O promotor Felipe Cavalcanti considerou a absolvição como 'o maior absurdo político' do TJ (...)"


Um dos momentos bons do livro do Ives Gandra, aos quais eu me referi anteriormente, foi quando ele afirma categoricamente que o poder Judiciário tem caráter técnico, devendo ser totalmente desvinculado de qualquer processo político.

O TJ não deve, portanto, estar preocupado se vai cometer 'o maior absurdo político' e sim aplicar a lei.

Corram, eles estão chegando!

A Folha alerta o país para a invasão dos direitistas depois que o governo Lula pôs abaixo a jaula que os aprisionava. Quem for assinante, antes de mais nada, bem feito. E também pode ver a reportagem aqui. Quem não for assinante, antes de mais nada, parabéns. E também pode ver os melhores momentos comentados pelo Alexandre aqui.

Direitistas riem da última idiotice dita por Lulla enquanto degustam vinho


Esquerdista assustado com o avanço da direita no país

Patrão

Os piores patrões que eu já vi eram esquerdistas. Curioso, não?

14 fevereiro 2006

Ives Gandra

Após um recesso intelectual, retomei a leitura do livro A Queda dos Mitos Econômicos. Apesar de agradável em alguns momentos, confesso que o livro não acrescentou muita coisa. Em certas horas parecia que se tratava de um livro escrito a quatro mãos, dados alguns pontos de vista conflitantes, ao meu ver.

Para se ter uma idéia, em um trecho ele fala como os Estados modernos tendem a ser inchados pois os governantes usam seu poder coercitivo em benefício próprio. Num outro trecho ele afirma que a solução para os problemas do mundo seria um Estado Universal! Ora, se a coisa já está ruim em escala nacional, imagine em escala planetária!

Numa outra parte ele comenta sobre a corrupção e ineficiência do Estado brasileiro. Mais tarde, critica os países desenvolvidos por darem pouca ajuda aos países em desenvolvimento como Brasil. Ora, é justo um país tributar seus cidadãos para enviar dinheiro para Estados corruptos?

Um bom momento foi a crítica à Constituição "Cidadã" de 1988.

Apesar de ele afirmar várias vezes no livro que a riqueza é gerada pela inciativa privada, em alguns momentos me pareceu que ele preferiria que aquela fosse gerada pelo Estado. Mas é apenas impressão.

O melhor do Brasil...

... É o brasileiro (é requentada, eu sei, mas eu tinha esquecido dessa)

"Ao entrar para a Marinha americana, o rapaz assinou documento optando por ser sepultado nos EUA."

O Apedeuta devia estar doido para colocar esse rapaz no palanque.

Agora vejam que engraçado: a marinha americana se ofereceu para pagar as despesas de viagem do pai do soldado. O neto da minha ex-empregada, que estava no Haiti servindo aos delírios de grandeza do Apedeuta, teve que pagar a passagem do seu próprio bolso para voltar ao Brasil quando tirou férias. Era isso ou ficar no Haiti por conta própria fora da base militar.

Joãozinho

Não é à toa que todo personagem de piada se chama Joãozinho.

13 fevereiro 2006

Um parágrafo perfeito

Não tenho como comentar o resto do texto mas este trecho está perfeito (grifos meus):

"A inteligência, ao contrário do dinheiro ou da saúde, tem esta peculiaridade: quanto mais você a perde, menos dá pela falta dela. O homem inteligente, afeito a estudos pesados, logo acha que emburreceu quando, cansado, nervoso ou mal dormido, sente dificuldade em compreender algo. Aquele que nunca entendeu grande coisa se acha perfeitamente normal quando entende menos ainda, pois esqueceu o pouco que entendia e já não tem como comparar. Uma das coisas que me deliciam, que me levam ao êxtase quando contemplo o Brasil de hoje, é o ar de seriedade com que as pessoas discutem e pretendem sanar os males econômicos, políticos e administrativos do Brasil, sem ligar a mínima para a destruição da cultura, como se a inteligência prática subsistisse incólume ao emburrecimento geral, como se inteligência fosse um adorno a ser acrescentado ao sucesso depois de resolvidos todos os problemas ou como se a inépcia absoluta não fosse de maneira alguma um obstáculo à conquista da felicidade geral. A prova mais evidente da insensibilidade torpe é o sujeito já nem sentir saudade da consciência que teve um dia."

12 fevereiro 2006

Agamenon do JB

Não sabia que o JB também tem seu Agamenon. Só que muito mais engraçado!

"Desde o fim da Segunda Guerra Mundial não passa ano sem que o Tio Sam largue sua águia sedenta de sangue sobre algum país que não lhe lamba as botas. Pode fazer isso oficialmente, como no Vietnã e no Iraque, ou extra-oficialmente, como no Chile, na Nicarágua e no Brasil. No nosso caso, a última ordem a Lula foi: 'Não mostre as caras no fórum da Venezuela'. Bush, como Hitler, está fazendo o que disse que faria. Hitler ganhou as eleições legalmente, Bush teve de fraudá-las."

(...)

"Aliás, muita gente começa a duvidar da existência de Bin Laden e a conjeturar sobre a participação da CIA no estranho episódio no qual um dos aviões, o que atingiu o Pentágono, parecia ser feito de papelão tão rapidamente desapareceu do local juntamente com os corpos."

(...)

"O genocídio no Iraque deve-se ao fato de Saddam não só ter ousado negociar com a Alemanha e a França como com a Rússia e a China."

(...)

"Tudo isso me faz crer que dentro em breve os sete grandes estarão brigando entre si, principalmente USA e Alemanha, pois está provado que o Iraque não tinha armas e a guerra continua."

(...)

"Bush é louco, mentiroso, hipócrita e provavelmente psicopata. Não se deterá diante de nada. O que o resto do mundo que quer viver em paz espera para guardá-lo?"

Sem querer ser repetitivo...

... E já sendo.

Fico arrepiado só de pensar que alguns liberais consideram a China um exemplo a ser seguido.

"Desde que o presidente Hu Jintao assumiu o controle total do poder na China em 2004, o Departamento de Propaganda do Partido Comunista Chinês vem aumentando a monitoração do que é dito e exibido não apenas na internet, mas também na imprensa estatal, no rádio, na TV e até em quadros de avisos de universidades e celulares."

(...)

"Agora, as empresas são obrigadas a manter um arquivo, por tempo indeterminado, de todo o conteúdo das mensagens enviadas pelos assinantes. E mantê-lo disponível para consulta governamental."

Com liberal que apóia esse tipo de coisa quem precisa de socialista?

Implicante

Confesso que sou muito implicante com os colunistas dos jornais que leio. Sou porque acho que o mínimo que alguém que pense em viver da escrita deve fazer é conhecer o sentido correto das palavras. Para mim, um colunista que confunde o sentido das palavras é como um médico que confunde a função dos órgãos.

Por exemplo, vejamos este trecho de uma coluna publicada na Folha:

"Traduzindo, a democracia permite que se digam desaforos sobre o Deus em que creio porque me é facultado desafiar a crença ou a descrença dos outros."

Claramente o autor, que escreve sobre política, tornando seu erro ainda mais escandaloso, desconhece o sentido da palavra "democracia". Segundo seu entendimento, a palavra que na verdade descreve uma forma de governo, assume ares de virtude.

Trata-se obviamente de um engano pois é possível que, democraticamente, um Estado chegue a conclusão de que desafiar uma crença constitui crime cuja pena é a morte.

Mundo cão

"Meu filhinho ali, sangrando no meu colo, todo arrebentado. E na polícia, o sujeito ri e me diz que não vai dar em nada, porque ele é menor! Qual mãe ia aguentar? Mataria de novo. Quem não mataria?"

Bem, não sou pai mas provavelmente
mataria o desgraçado também.

A pergunta que fica é: que moral para condenar esta mulher pode ter uma sociedade que cria mecanismos que permite que monstros cometam todo o tipo de barbaridade e continuem andando livremente por aí?


Um Estado como o nosso somente pode resultar nisso: barbárie.

11 fevereiro 2006

Grande novidade!

Não vi a entrevista do FHC no Roda Viva mas Veríssimo está visivelmente magoado - apesar do tom de desdém da sua coluna - com o fato de o ex-presidente ter dito que o cronista "não entendia de nada, mas escrevia bem."

E qual a novidade?

Quando escreve sobre as banalidades do dia a dia, Veríssimo é um gênio. Li muitos dos seus livros e alguams de suas crônicas são sensacionais.

Quando se mete a falar de política e economia, Veríssimo é um completo idiota. A não ser que ele minta descaradamente em prol de sua ideologia, mas essa alternativa é menos louvável.

O melhor do Brasil

Merece um estudo o contraste entre o esforço que o brasileiro faz para o Brasil ser percebido como um grande país, uma nação de gente maravilhosa e uma pátria de grandes realizações e a total incapacidade e/ou vontade de fazer algo concreto para que isso realmente se torne realidade.

É sério: tem algo muito errado com este país que eu não consigo identificar. É trabalho para antropologistas, sociólogos, psicólogos, filósofos, sei lá.

Hoje no mundo temos um único país verdadeiramente grande (por enquanto, diga-se de passagem): os EUA. Sempre que vou para lá - ultimamente numa média de duas vezes pro ano - tento prestar muita atenção nos jornais e programas televisivos. NUNCA eu testemunhei jornais louvando resultados da balança comercial, arrecadação de impostos (neste último caso, muito pelo contrário) ou coisa parecida. Claro que, como não fico diante da TV o tempo do quando estou lá, posso ter perdido alguma coisa, mas no Brasil basta ver uma das edições de um telejornal qualquer para saber da última "conquista" do Brasil. É como se cada veículo de comunicação fosse aquela tela do 1984 que, além de vigiar cada habitante, ficava constantemente divulgando as maravilhas realizadas pelo regime.


As empresas de comunicação e principalmente de marketing, já perceberam faz tempo que o estilo ufanista agrada a todos. É aquele denominador comum que é o sonho de todo o publicitário: uma mensagem única que atinge a todos, independentemente de classe social, religião, sexo ou formação. Seja rico ou seja pobre, tudo que o brasileiro quer ouvir é quão maravilhoso é seu país, estado ou cidade.

Afinal, como decretou o governo Lulla, "o melhor do Brasil é o brasileiro".

E num planeta distante...

- Como está o plano de destruição da civilização terráquea?
- Foi cancelado. Parece que os terráqueos mesmo já estão cuidando disso...

Idealismo

"Cynics regarded everybody as equally corrupt... Idealists regarded everybody as equally corrupt, except themselves."

Robert Anton Wilson

George "Looney"

"Temos que compreender melhor as razões dos extremistas."

10 fevereiro 2006

UE

Muito interessante este federalismo com barreiras protecionistas entre os membros da federação:

"Os dois principais grupos políticos do Parlamento Europeu chegaram a um acordo para dificultar a transferência de trabalhadores dos dez novos países da União Européia para os Estados mais desenvolvidos do bloco. A medida será tomada principalmente devido à reação das centrais sindicais francesas, que temiam uma invasão de trabalhadores estrangeiros, no chamado efeito 'bombeiro polonês'."

08 fevereiro 2006

Google REALLY sucks!

A Google, aquela empresa tão apegada aos princípios, aplicou uma punição ao site alemão da BMW que, segundo aquela, tentou manipular os resultados das consultas.

"We cannot tolerate Web sites trying to manipulate search results as we aim to provide users with the relevant and objective search results."

Repetindo:

"We cannot tolerate Web sites trying to manipulate search results as we aim to provide users with the relevant and objective search results."

A Google tem a cara-de-pau de fazer uma declaração dessas depois de ceder a todas as exigências do governo chinês no sentido de "manipulate search results", privando o povo chinês todos os "relevant and objectives search results".


Como dizem, é melhor ler isso que ser cego...

Via Nemerson.

Eu deveria ter imaginado

As manifestações da imprensa tupiniquim não poderiam mesmo ser originais. Aqui a gente vê que esse respeito súbito e seletivo à religião não passa de material importado.

You have got to be kidding

Confesso que sou pessimista em relação ao futuro do Brasil. Claro que reconheço que existem países em situação muito pior que a nossa, mas minha revolta é justamente por causa do imenso potencial de que este país dispõe e não aproveita.

Então dei de cara com este
artigo no JB (vale ler o texto do Frei Betto na mesma seção pois está muito engraçado. Involuntariamente, claro!) que fala sobre o pessimismo que tomou conta do país. Resolvi dar uma olhada para ver se ele conseguia semear um pouco de otimismo neste escriba. Vã esperança. Vou colocar aqui alugns pontos onde o autor não pode estar falando sério:

"O Brasil é o único país do mundo onde se pode abastecer um carro simultaneamente com gasolina, álcool e gás, tudo com tecnologia brasileira."

E o país com uma das gasolinas mais caras do mundo.

"O Brasil é o país com maior êxito no combate à Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis, e vem sendo exemplo mundial."

Mentira. Faça uma busca por AIDS no Google e veja as inúmeras ocorrências de notícias relatando o aumento de casos de AIDS, principalmente entre as populações mais pobres.

"O Brasil tem o maior e mais avançado sistema eletrônico de votação e apuração de eleições no mundo."

Que não garante 100% a inviolabilidade do voto. Só um tolo acredita que outros países do mundo não dominam a tecnologia para tal.

"Das crianças e adolescentes entre sete e 14 anos, 97,3% estão estudando."

Só pode estar de sacanagem. Claramente tomou "matriculada" por "estudando".

"O Brasil é o segundo mercado mundial para uso de helicópteros e de jatos executivos, abaixo apenas dos Estados Unidos."

Que bom! O João da Silva comemora no percurso de 3 horas de trem entre a sua casa e o seu trabalho.

"O Congresso tem CPIs que investigam e punem os próprios integrantes com cassações de mandatos."

Bebeu...

Liberdade de expressão? No, thanks!

Nos últimos anos a imprensa local tem dado total apoio à causa Islâmica. Nem tanto pela causa em si, mas sim pelo fato dos Islamistas representarem hoje a pedra no sapato dos EUA. Até mesmo para os ataques de 9/11 alguns mais criativos encontraram justificativas (o famoso "foi uma atrocidade mas..."). Quando a coisa era injustificavelmente abominável (como a decaptação de três meninas que estudavam em um colégio Cristão na Indonésia) nossa sempre vigilante imprensa tratava de simplesmente fechar os olhos ou soltar uma notinha minúscula.

Então vieram as manifestações contra os tais cartoons do jornal dinamarquês. Esta, sem dúvida, seria uma prova de fogo, pensaria o incauto observador. Que nada! Muita gente por aqui mostrou que, se é para dar força aos inimigos dos EUA, até mesmo da liberdade de expressão, sua ferramenta de trabalho, eles estão dispostos a abrir mão.

O resultado é que tenho lido por aí muita coisa cujo teor é idêntico a este pequeno trecho da coluna do Zuenir Ventura de hoje:

"A liberdade de imprensa não foi feita para acobertar ofensas de qualquer natureza, inclusive ou sobretudo as religiosas."

Apenas para ficar na esfera religiosa, é quase surreal ler isso de um colunista de um jornal que pertence a uma organização que não perde uma única oportunidade de achincalhar o Cristianismo.

Fazendo um exercício de chutologia, se as organizações Globo veiculassem na Europa, sobre o Islamismo, o mesmo que veicula aqui sobre o cristianismo, tenho minhas dúvidas se ainda existiria algum Marinho para dar continuidade à dinastia.

Baboseiras

O texto da Sra. Matilde no Globo de hoje é um desfile de expressões vazias ("O paradoxo do acesso à informação e da intransigência de convivência com a diversidade étnico-racial é uma agenda que inspira a participação de ativistas sociais comprometidos com a luta anti-racista e aqueles que aspiram a um mundo mais justo e inclusivo. ") mas pomposas cujo objetivo maior é fazer os leitores pouco familiarizados com a língua portuguesa (quase 90% dos leitores daquele jornal) acharem que trata-se de uma pessoa erudita e altamente preocupada com as questões humanitárias.

No meio de tantas baboseiras a mensagem principal passa quase despercebida (grifos meus):

"No Brasil, temos casos de intolerância étnico-racial expressa na internet através de blogs, sites e páginas de relacionamento contrários às políticas de ações afirmativas para negros e a valorização da cultura judaica."

Pronto. Automaticamente empurra-se para a ilegalidade - afinal de contas, racismo é crime! - todos que se declararem contrários às políticas de ações afirmativas. Não sei quanto aos demais, mas eu sou contrário a qualquer política neste sentido. O que ocorre é que atualmente no Brasil apenas há políticas com o objetivo de conceder privilégios à raça negra (eu poderia usufruir desses privilégios mas uma coisinha chamada princípios me impede. Fazer o que né?). Não tenha dúvidas, Sra. Matilde, que este mulato aqui irá abrir o berreiro também quando houver algum tipo de política que privilegie os torcedores do Fluminense ou os engenheiros.

06 fevereiro 2006

Boring

É muito chato ficar comentando este tipo de infantilidade que insiste em feqüentar as pautas dos nossos jornais, revistas e programas televisivos. A seções destinadas à cultura são, ironicamente, aquelas onde há menor densidade intelectual. Pior, somente os cadernos esportivos, mas pelo menos ninguém lá se propõe a guiar corações e mentes.

Agora vejo no Globo Online que - Oh! Horror dos horrores! - os Rolling Stones tiveram algumas de suas músicas censuradas no show que eles fizeram no Super Bowl. Segundo o comentarista do site, Jabba, the hut, este tipo de coisa é "mais um exemplo de como a liberdade de expressão funciona na terra de George W.Bush."

Até nisso deram um jeito de meter o Bush!

Bem, vamos ao que interessa que é a tal censura.

Se a rede ABC, que deve ter contratado os RS por uma pequena fortuna, se acha no direito de não se arriscar a ofender seus telespectadores (vale lembrar que o Super Bowl é um evento assistido pelos mais diferentes tipos) e cortar o conteúdo que ela considera potencialmente ofensivo, cabe ao RS dizer "No cú pardal! Ou as músicas saem na íntegra ou nada feito!"

Se os RS toparam ter sua música picotada, então tá mundo feliz e não se fala mais no assunto. Caso contrário eles que resolvam o problema coma a ABC.

O ponto é: a ABC como consumidora tem todo o direito de definir o produto que ela quer receber. Os RS, como fornecedores, têm todo o direito de aceitar ou não os termos da ABC.

Censura, com a conotação que o Jabba quis dar ao termo, seria se o governo federal, estadual ou municipal tivesse proibido os RS de cantarem suas músicas mesmo estando a ABC de pleno acordo com o conteúdo.

Com a ascensão que as amebas e os oportunistas tiveram nos meios de comunicação, atualmente se uma empresa se recusa a bancar um trabalho que, seja por que motivo for, não quer ver associado ao seu nome, ela é logo acusada de estar praticando censura. Ou seja: o artista se acha no direito não de se expressar mas de ter alguém bancando sua expressão mesmo que este alguém não concorde com ela ou que a ache desagradável. É uma chantagem disfarçada de vitimização.

Quando nosso iluste presidente quis expulsar o repórter do NYT por tê-lo chamdo de bebum, aquilo sim foi um ato digno de manifestações por parte de todos. Ali sim era o momento de defender o direito a livre expressão, mesmo que ela fosse a mais completa idiotice (o que não era nem o caso).

Mas não, repórter ianque sendo expulso por ofender a honra nacional? Onde é que eu assino?

05 fevereiro 2006

Valeu o filme

Faz pouco tempo vi O Aviador. Para quem trabalhou tanto tempo na aviação como eu, o filme tem um gostinho especial, mas uma das melhores partes, além da hora em que Hughes vira o jogo para cima do Senador na comissão de inquérito, foi este diálogo dele com a mãe de Katherine Hepburn:

Sra. Hepburn: We don't care about money here, Mr Hughes.
Howard Hughes: You don't care about money because you have it. I care about money, Mrs Hepburn, because I know what it takes out of a man to make it.

Esquerda-caviar foi, é e sempre será a mesma coisa em qualquer lugar do mundo.

Domingão do Claudão

Esta é para você, caro leitor, se divertir nesta manhã de Domingo:

"Quem mais precisa do estado, das leis, da garantia de direitos, de proteção social e jurídica são os mais pobres - isto é, a imensa maioria da população brasileira."

Claro, claro. Isso comprova-se pela espetacular qualidade de vida que os gigantescos Estados da maioria dos países da América Latina proporcionam à sua população, especificamente aos mais pobres.


Essa é boa! Essa é boa!

"Quem ganha com governos fracos, com política desmoralizada, com estados retraídos, com 'governantes mínimos'? Quem tem ganhado sempre e tem produzido e reproduzido o Brasil como o país mais injusto do mundo, um dos mais violentos do mundo, um dos países em que as pessoas estão mais desprotegidas - de cobertura de educação e saúde, de aposentadoria, de saneamento básico, de segurança, de cultura, de lazer, de transporte."

Cheio de razão. Não podemos deixar esses adeptos do pensamento único (sic, mil vezes sic) tirar da população brasileira o fantástico poder aquisitivo das camadas mais pobres, a segurança de fazer inveja ao FBI, o sistema de saúde pública mais sofisticado e abrangente do mundo, a educação de fazer inveja ao mais desenvolvido dos países, as polpudas aposentadorias do INSS, uma rede de tratamento de esgoto que cobre cada canto desse país, a produção cultural farta e erudita e nossa invejada rede de transportes públicos.

Não podemos perder isso!

Eu concordo com o Emir: isso tudo ainda é pouco. Nosa meta é a perfeição e 40% do PIB não basta. Precisamos de um Estado mais presente, que consuma uns 60 a 70%. Não podemos dar moleza para o pensamento único (sic, um milhão de vezes sic).

04 fevereiro 2006

Futebol, alegria do povo

Confesso não simpatizar muito com a visão de mundo que os randianos têm, mas este texto fazendo um paralelo do futebol com a vida está interessante.

"A process of goal-achievement underlies everything that makes our lives richer, from discovering new medicines to learning about computers, from pursuing a career to enjoying friends and family. But success is not automatic - each such endeavor must be started and maintained, often in the face of great obstacles, by an individual's choices. To gather the moral courage to make their own difficult choices each day, people need inspiration - the spiritual fuel that flows from the sight of another's achievement."

(...)

"Spectator sports invite us to take pleasure in our capacity for admiration. Different athletes display different virtues - one performs well under pressure, another shows consistent excellence despite advancing age, a third publicly takes pride in his accomplishments - but each contributes to the vast storehouse of sporting memories that fans draw upon every day, as reminders that difficult goals can be achieved by focused, dedicated effort.

Because physical action is stressed in all spectator sports, some potential fans may be bored by the prospect of watching bodies run around on a playing surface. But in truth, sports - like all human endeavors - have both a mental and physical component, and spectators who learn and follow the intricate strategy behind each play obtain maximum satisfaction from the game."

Democracia

Não sou daqueles otimistas que costumam ver o lado bom de qualquer tragédia, mas já que o PT chegou ao poder e talvez ainda continue nele por mais 4 anos pelo menos, é bom tentar aprender algumas lições dessa furada na qual nos metemos.

A lição mais importante, para quem ainda não sabia disso, é que a democracia em si não é nada, absolutamente nada, além de um sistema de governo. Ela não possui nenhum valor intrínseco, bom ou ruim.

Aí está o Brasil para nos mostrar quão próxima da ditadura uma democracia pode chegar. Somos governados, e não é de hoje, basicamente por medidas provisórias (eufemismo para decreto) e quando isso não acontece, o Executivo dá um jeitinho de "convencer" os parlamentares a apoiarem seus projetos de lei, principalmente através da negociação de verbas.

Como se tudo isso não bastasse, o Executivo também deu um jeito de botar o Judicário no bolso, fazendo com que as complicações que, por algum motivo, tenham escapado do controle no Legislativo sejam definitivamente enterradas pelos juízes (taí o Jobim que não me deixa mentir).

A única diferença que existe em relação a uma ditadura é o fato de os membros do executivo serem eleitos de forma direta. Mas, quando quase 60 milhões de pessoas votam num semi-analfabeto para Presidente da República, é difícil ver isso como uma vantagem...

02 fevereiro 2006

Ignorantômetro

Um bom medidor do deserto intelectual que ronda as redações de jornais e revistas é a quase unanimidade em que se tornou a expressão "Bush faz a cabeça da América" ou qualquer outra que dê a entender que UMA ÚNICA PESSOA está influênciando o comportamento de quase 300 milhões de pessoas.

Será que a pessoa que escreve uma asneira dessas não pára para pensar um minutinho sequer no que está escrevendo?

Pelo menos é bem coerente com a mentalidade que reina por aqui de que o "exemplo vem de cima".

01 fevereiro 2006

Capitalistas com C maiúscula!

Ora, ora, ora... Este artigo do Walter Williams mostra o que é ser verdadeiramente Capitalista:

Vocês se lembram disso?

"City of New London officials used the law of eminent domain to condemn the property of 15 homeowners and transfer it to private developers to build a luxury hotel, high-rent condominiums and office buildings. The city justified its actions by saying that taking the property away from the homeowners, and replacing it with a hotel, condos and office buildings, would generate jobs and more tax revenue."

Pois bem, os banqueiros da BB&T responderam assim:

"Stepping up to the plate is Branch Banking and Trust Company (BB&T), headquartered in Winston-Salem, N.C. BB&T is a full-service bank with 1,100 offices throughout the Southeast. On Jan. 25, BB&T announced that it will not lend to commercial developers that plan to build condominiums, shopping malls and other private projects on land taken from private citizens by government entities using eminent domain. On behalf of its board of directors, Chairman and Chief Executive Officer John Allison explained, 'The idea that a citizen's property can be taken by the government solely for private use is extremely misguided, in fact, it's just plain wrong.' Mr. Allison added, 'One of the most basic rights of every citizen is to keep what they own. As an institution dedicated to helping our clients achieve economic success and financial security, we won't help any entity or company that would undermine that mission and threaten the hard-earned American dream of property ownership.'"

Alfinetada: se fossem os executivos do Google diriam

"Ora, os prédios já foram desapropriados mesmo, então é melhor que algo de produtivo seja feito."